São Paulo – Os dados do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro mostram que a economia vem reagindo a incentivos como o programa do auxílio emergencial, aponta Ecio de Farias Costa, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em entrevista por telefone à ANBA. No total, o PIB do Brasil no terceiro trimestre de 2020 foi de R$ 1,891 trilhão, divulgou nesta quinta-feira (03) o Instituto de Geografia e Estatística Brasileiro (IBGE). O número é 7,7% maior do que no segundo trimestre deste ano.
O programa do auxílio emergencial começou a ser pago em abril pelo governo federal a brasileiros considerados mais vulneráveis à crise econômica deflagrada pelo coronavírus, como desempregados ou de família cuja renda mensal por pessoa não ultrapasse meio salário-mínimo, em parcelas de R$ 600 ou R$ 1,2 mil (para mulheres chefes de família). Em setembro, o benefício foi estendido até 31 de dezembro, mas com apenas quatro parcelas de R$ 300, e de R$ 600 para mães chefes de família. Nestas últimas parcelas, no entanto, os critérios para receber o benefício mudaram e nem todos foram contemplados.
Desde julho deste ano os economistas Ecio de Farias Costa e Marcelo Acioly dos Santos Freire, da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de Pernambuco (SDEC-PE), analisam os impactos dessa política social na economia brasileira. Mais especificamente, o estudo analisa a efetividade da aplicação desse apoio sobre os municípios que têm menor renda, PIB e alta vulnerabilidade. Os dados apontaram aspectos que dificultam o recebimento do benefício, como a falta de acesso à internet e a inexistência de agências bancárias locais. Embora o peso do programa sobre o PIB seja maior nas regiões Norte e Nordeste, a capilaridade bancária em relação aos beneficiários do programa aponta para uma maior concentração do Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
Indústria e serviços
Mesmo com esses aspectos, Costa pontua que o setor industrial foi o que teve maior benefício com o programa e já recuperou toda a perda que teve com a pandemia, voltando ao mesmo nível em que se encontrava em fevereiro. Segundo o IBGE, no terceiro trimestre desse ano o PIB da indústria cresceu 14,8% frente ao segundo trimestre. “A indústria nesse terceiro trimestre foi muito beneficiada pelo auxílio emergencial porque as famílias consumiram mais produtos e menos serviços. Inclusive, fizeram uma certa liberação porque os recursos que se destinavam para consumo de serviços foram em parte realocados para consumo de bens”, explicou Costa.
O movimento se dá por conta da quarentena adotada para frear o avanço da doença. “Você está em casa, ao invés de ir ao restaurante, hotel ou academia, comprou alimentos, eletrodomésticos e consumiu mais em casa. Isso foi muito forte no 3º trimestre”, lembrou o economista.
Já o setor de serviços, apesar de também ter elevado seu PIB em 6,3% no mesmo comparativo já citado, ainda sofre com a menor circulação de pessoas no País. “Apesar de ter tido uma reação, a queda [no início da pandemia] foi muito forte, então ainda não foi o suficiente para recuperar a perda que tivemos no 2º trimestre, principalmente”, explicou Costa, que acredita que a recuperação total se dará realmente apenas com a chegada de uma vacina.
Consumo reaquecido e diverso
Por ser um programa de transferência de renda direta, os beneficiários do auxílio emergencial puderam escolher como investir seu valor. “Isso foi muito importante porque as famílias usaram da melhor forma possível esse recurso. Agiram de forma racional, tanto é que você vê as famílias mais pobres (que) além de terem feito melhorias nas suas casas e terem se alimentado melhor, até fizeram poupança”, afirma o economista.
Esse bom uso do valor deve se refletir no último trimestre do ano e no primeiro de 2021. “O auxílio emergencial está sendo pago até dezembro e isso vai transbordar até o 1º trimestre do ano que vem. Não no mesmo nível porque foi um crescimento de retomada, mas vai continuar crescendo num ritmo mais lento”, explica Costa.
Costa afirma que nas famílias mais pobres, pode ter havido mobilidade social, mas de forma mais temporária. Para o economista, a partir de 2021 serão necessárias reformas, concessões e novos marcos de gás e energia para facilitar o investimento e reequilibrar as contas governamentais. Uma das reformas mencionadas é a tributária. “A carga tributária na indústria é de mais de 50%. E mais importante é a simplificação que a reforma tributária faria, já melhoraria o ambiente de negócios significativamente. Nós somos líderes mundiais em tempo gasto com cálculo e pagamento de impostos”, concluiu o economista.