São Paulo – Nos últimos anos, o Egito e o Brasil abriram diversas possibilidades de mercado nos dois sentidos. Entre os fatores que impulsionou o movimento em ambos os lados, uma das mais emblemáticas foi o acordo de livre-comércio que o país árabe estabeleceu com o Mercosul.
Em 2018, o Brasil passou a ter um adido agrícola na capital egípcia. Foi a primeira vez que o País teve o cargo ocupado no Egito. Agora, Cesar Simas Teles está encerrando a missão e passando o bastão para Rafael Mohana, que será o novo adido agrícola brasileiro no Cairo. “Quando cheguei, havia demanda de abertura de mercados. Eu me ambientei nesse cenário, e comecei a construir conexões, como tenho a formação técnica consegui me aproximar mais do lado técnico egípcio”, explicou Teles.
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Nesses quatro anos, a embaixada do Brasil no Cairo recebeu delegações como do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, chefiado nas ocasiões pela ministra Tereza Cristina e depois por Marcos Montes. Em outros momentos, aberturas de mercado foram conquistadas. No caso do Brasil para o Egito, passou a ser permitido o embarque de produtos lácteos, além de exportação de caprinos e ovinos. No caso desse rebanho em pé o objetivo é a reprodução, para melhorar o plantel egípcio. Já do lado do Egito, havia uma demanda por abrir mercado de alho e frutas cítricas, que foi concluída.
Outra conquista foi a habilitação de 42 novas plantas de frigoríficos, entre as que se dedicam a carnes bovina e de aves, para embarques ao país árabe. “Nesse período, conseguimos ampliar o número de produtos também. Já exportávamos carne bovina, e ampliamos o certificado para permitir embarques de fígado bovino. É um mercado muito importante. Só o mercado de fígado, no Egito, está na casa de US$ 152 milhões. Ainda tem predominância de fornecimento dos Estados Unidos, mas o Brasil está crescendo nessa área”, destacou Teles.
Outros avanços foram em produtos processados, como nuggets e salsicha. Já na parte vegetal, houve esforços para fomentar a exportação de semente de hortaliça. “Por volta de 2021, começamos a fazer os primeiros testes junto com o Ministério da Agricultura egípcio com sementes de itens como tomate, pimentão, pepino e cenoura. Já estamos na etapa das empresas brasileiras se registrarem para comercializar as sementes de tomate no Egito”, exemplificou ele.
Outros trunfos foram a abertura dos mercados de algodão em pluma, e de banana brasileira para os egípcios. “O Brasil já está exportando a banana. Estamos em fase de testes. A partir de maio a previsão é ampliar isso para um volume bem maior. É um mercado anual de em torno de US$ 7 milhões a US$ 8 milhões, que predominantemente os frutos ainda vêm do Equador. Mas com o acordo Mercosul-Egito há a perspectiva de o Brasil crescer e em dois anos dominar o mercado. Temos a vantagem competitiva de que enquanto a tarifa do Equador é de 60%, a do Brasil é de 5%. E neste período de dois anos, por causa do acordo, vai ser zerada”, explicou Teles.
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Transição
Agora, os dois executivos estão em período de transição. Com a chegada de Mohana, ele e Teles passaram a se reunir com autoridades para apresentar o novo adido. Esse período de transição é novidade para o cargo, e os dois acreditam que a possibilidade de ‘passar o bastão’ em encontros presenciais vai ajudar a manter as conexões já construídas.
A agenda já contou com uma reunião com o ministro da Agricultura e Recuperação de Terras do Egito, Mohamed Sayed El-Quseir, que recebeu os adidos e o embaixador do Brasil no Cairo, Antonio Patriota. Também estiveram no cronograma encontros com autoridades como o chefe da Agência de Segurança Alimentar do Egito, Tareq El-Houby, com o chefe da Organização de Serviços Veterinários do Egito, Ihab Saber Yousef, e com o chefe da Quarentena Vegetal do Egito, Ahmed Kamal El-Attar, além de reunião com a própria equipe do escritório da Câmara de Comércio Árabe Brasileira no Cairo.
Rafael Mohana tem 15 anos de trabalho junto ao Ministério da Agricultura brasileiro. Formado em Medicina Veterinária, ele atuou em divisões técnicas de carne bovina, em certificação sanitária, além de fiscalização de produtos de alimentação animal. Em 2019, passou a trabalhar na Secretaria de Comércio e Relações Internacionais no Ministério da Agricultura, à frente da Coordenação de Assuntos Bilaterais. “Tive contato frequente com os adidos agrícolas que ficam em postos bilaterais. Foi uma oportunidade muito boa para troca de conhecimentos e aprender um pouco da carreira de adido agrícola. Esse tempo contribuiu para minha decisão de ser adido”, contou.
Para o novo adido, o trabalho visa dar um foco e atenção para os assuntos agrícolas. “E a prova disso são todos esses belos resultados. Abertura de mercado, vinda de missões, mas também o olhar para produtos do Egito no Brasil. É uma relação de via dupla”, afirmou Mohana.
Entre os objetivos que traça, o executivo cita colocar em prática as exportações do mercado lácteo do Brasil ao Egito, além de estimular setores como cafés especiais, pet food, produtos para insumo animal, além de material genético de diferentes espécies. Além disso, ele cita a intenção de manter a participação em feiras como a Food Africa e da promoção de produtos da biodiversidade brasileira, como o açaí.