São Paulo – A organização da feira calçadista BF Show trouxe 153 compradores de 31 países no esforço de efetivar exportações durante a mostra, que se encerra nesta quinta (23), na capital paulista.
Trazidos ao Brasil com recursos do programa de promoção comercial Brazilian Footwear, da agência de fomento a exportações ApexBrasil e da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), o grupo inclui nove importadores e varejistas de calçados e fast fashion de países do Golfo e do Levante.
As empresas são a Al Safeer, a Al Jaroodi, a New Bellbird, a Andy Entrepricess, a Kamal Osman Jamjoom e o Mostafawi Group (todas dos Emirados Árabes Unidos), além da Florina (Arábia Saudita), da Armando Compan (Kuwait) e da M/S Nina Jones S.A.R.L. (Líbano). Há também compradores da região que vieram por conta própria, fora do projeto.
Segundo Paola Pontin, coordenadora de Negócios da Abicalçados, que reúne calçadistas brasileiros e organiza a BF Show ao lado da promotora de eventos NürnbergMesse, o perfil dos compradores é variado. A maioria já frequenta feiras brasileiras há anos, mas há também novatos entre eles.
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“Tem comprador de calçado feminino, masculino, infantil e esportivo, oferecendo oportunidades de negócios aos expositores. Há compradores que já conhecem o Brasil e trabalham com marcas brasileiras, que estão aqui para manter compras. Mas também convidados inéditos, que não compram do Brasil ainda, para apresentar oportunidades para a indústria”, resume.
Importador de Dubai
No caso dos compradores árabes, a baixa prevalência de feiras calçadistas no Oriente Médio e a presença ainda limitada de expositores brasileiros nas grandes mostras europeias fez com que muitos deles decidissem enfrentar um voo de 15 horas até o Brasil para estabelecer relações diretas com marcas nacionais e conhecer suas fábricas.
Este é o caso de Feras Mansour, gerente de operações do Mostafawi Group, um dos maiores varejistas de fast fashion de Dubai. A primeira visita ao Brasil foi há dez anos. De lá para cá, ele vem incorporando marcas brasileiras ao seu portfólio, entre elas a Democrata, de calçados sociais masculinos, vendida por ele nos Emirados Árabes há pelo menos oito anos.
A sua presença na feira, no entanto, tem o objetivo de estabelecer relacionamento com novas marcas. “Parte do meu trabalho é viajar para buscar novos conceitos e marcas para levar para Dubai e lançá-las lá. Dubai é uma vitrine para todo Oriente Médio e norte africano. Quem estabelece sua marca em Dubai, tem facilidade de expandir para o resto da região”, afirma.
“As marcas brasileiras têm usado tecnologia de ponta para fabricar calçados confortáveis”
Feras Mansour, gerente de operações do Mostafawi Group
À ANBA, Mansour contou que está no Brasil selecionando marcas que serão comercializadas numa loja de departamentos com previsão de abrir em Dubai até março de 2025. Além da Democrata, com quem já trabalha, o executivo disse estar em tratativas com a Dakota, de calçados femininos, e a Bibi, marca atuante no segmento infantil.
Mansour faz questão de ter calçados brasileiros no projeto por três motivos: o produto é resistente, tem design que agrada e chega com custo competitivo. “O produto brasileiro, além de qualidade, do preço razoável, também tem atributos sustentáveis, importantes como mensagem em função da preocupação com as mudanças climáticas”, diz.
“Tem também muita tecnologia. As marcas brasileiras têm usado tecnologia de ponta para fabricar calçados confortáveis, que vão ao encontro das necessidades das pessoas, especialmente crianças e bebês”, explicou.
Quality Group: de olho no custo
O comprador Narendar Soni, gerente de varejo do Quality Group, que opera 25 lojas de calçados nos Emirados Árabes Unidos, destaca, além da qualidade, o fato de o produto brasileiro lhe permitir operar com boas margens.
Soni, que trabalha com marcas como Democrata, Via Marte e Usaflex, diz que o calçado brasileiro chega em Dubai geralmente à metade do custo do produto alemão e ainda mais em conta do que o similar italiano, que lhe permite margens de até três vezes o custo de aquisição.
“Na China, eu consigo comprar um calçado que no Brasil sairia por US$ 10 dólares, por US$ 5 ou US$ 6. O problema é a qualidade. Uma parte dos clientes volta com reclamações, o que não acontece com o produto brasileiro”, conta o executivo que há 20 anos frequenta feiras por aqui.
Ainda segundo ele, o calçado brasileiro chega em condições de competir em mercados de menor renda, como o Paquistão e Índia, mesmo vendido mais caro do que a produção local por ser importado.
“Muitos consumidores de lá preferem, ainda sim, o produto brasileiro por causa da qualidade”, afirma Soni.
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Reportagem de Daniel Medeiros, especial para a ANBA