Isaura Daniel
São Paulo – Enquanto os chefes de estado estiverem reunidos na Cúpula de Países Árabes e Sul-Americanos, nos dias 10 e 11 de maio do próximo ano, em Brasília, empresários das duas regiões poderão discutir investimentos recíprocos. Paralelamente à reunião dos líderes, ocorrerá uma feira de investimentos.
Cada um dos 12 países sul-americanos e 22 árabes terá um estande para apresentar os seus projetos prioritários. "Se o Chile quiser captar recursos estrangeiros na área de pesca, por exemplo, vai apresentar os seus projetos da área", explica o chefe de gabinete da subsecretaria Geral Política do Ministério das Relações Exteriores, Ernesto Rubarth. Ainda não foram definidos os setores que o Brasil vai apresentar.
Os investimentos estrangeiros, na verdade, já estavam definidos como uma das discussões prioritárias da Cúpula. A feira fará parte de uma programação maior destinada aos empresários, que incluirá ainda seminários com palestras de especialistas árabes e sul-americanos na área de comércio internacional.
De acordo com Rubarth, os governos dos países deverão trazer em suas delegações banqueiros e investidores, além de diplomatas. Ainda não está definido em que local da capital federal vai ocorrer a reunião de chefes de estado.
Declaração
Apesar de faltarem ainda sete meses para a reunião, já está em andamento a formulação da declaração da Cúpula, documento que é apresentado no final deste tipo de encontro como consenso dos países envolvidos.
O comitê preparatório, equipe criada para produzir a declaração, teve o seu primeiro encontro formal nos dias 30 e 31 de outubro, no Cairo, capital do Egito, para tratar do tema. De acordo com Rubarth, o documento vai tratar de questões políticas, econômicas e sociais.
No projeto em discussão, ainda pendente de aprovação final e modificações, constará desde o interesse das duas regiões por cooperação na área de recursos hídricos até a intenção de reforçar o relacionamento multilateral, de estabelecer ações contra a fome e a pobreza e trabalhar conjuntamente em instâncias internacionais como a Organização Mundial do Comércio (OMC) e a Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad).
Segundo Rubarth, também estão em discussão a proposta de criar uma biblioteca básica com tradução de obras árabes e sul-americanas para os idiomas dos países dos dois blocos e a forma como o grupo vai dar continuidade ao relacionamento iniciado na Cúpula.
O Brasil, como anfitrião e país que teve a iniciativa de promover a Cúpula, apresentou um primeiro anteprojeto de declaração durante a reunião de chanceleres que ocorreu no final de setembro em Nova York.
Próximas reuniões
As discussões, porém, ainda estão em andamento. Elas terão seguimento em encontros do comitê nos dias 8 e 10 de dezembro, em Nova York, e em fevereiro, no Cairo.
Em dezembro devem ser discutidas questões políticas e em fevereiro assuntos sócio-econômicos. De acordo com Rubarth, os países árabes pediram para que a discussão sobre a economia e a área social ocorresse apenas depois de uma reunião que o conselho econômico-social da Liga Árabe fará no mês de janeiro.
A chefe da comissão brasileira, no comitê preparatório, é a subsecretária geral de Política do Itamaraty, Vera Pedrosa. No último encontro, no Cairo, a delegação brasileira levou seis diplomatas, entre eles o chefe de gabinete da subsecretaria, Rubarth.
A declaração só estará concluída depois da aprovação dos chefes de estado, o que deve ocorrer após a reunião de chanceleres dos países, prevista para os dias 25 e 26 de março do próximo ano, em Marrakech, no Marrocos.
A Cúpula é uma iniciativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Desde que assumiu o governo, Lula defende a aproximação comercial do Brasil com os países árabes. Tanto que a corrente comercial com a região vem crescendo. Ela deve chegar a US$ 6,6 bilhões até o final deste ano contra US$ 5,4 bilhões em 2003.
O local da Cúpula, Brasília, foi uma decisão do presidente Lula. Até o final de setembro também eram cotadas as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. De acordo com Rubarth, duas mil pessoas deverão participar do encontro.