São Paulo – Se elas se destacam pelo empreendedorismo e pelas soluções inovadoras que desenvolvem, eles são grandes compradores de produtos capilares. Assim, numa junção perfeita, marcas brasileiras de cosméticos, especialmente de artigos para cabelos, ganham adeptos entre consumidores árabes.
Em um tour feito pela reportagem da ANBA na Beauty Fair, maior feira de beleza das Américas que ocorreu neste mês na capital paulista, foi possível encontrar, entre as empresas expositoras, quem já é fornecedora de longa data do mercado árabe e quem tem como meta chegar lá, todos certos de que reside nos países da região um solo bem fértil para os cosméticos feitos por aqui.
Presente no mercado nacional há 13 anos e expositora na feira, a Floractive Profissional é uma das empresas brasileiras de cosméticos que já se estabeleceu no mercado árabe. A companhia exporta seus produtos para tratamento capilar para mais de 70 países, entre eles Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Líbano, Tunísia, Jordânia, Arábia Saudita, Catar, Marrocos e Egito.
“Foi uma necessidade financeira que me fez trabalhar revendendo produtos para cabeleireiros. Depois de um tempo percebi um gap no mercado. Vi que não existiam produtos orgânicos, sem formol, para fazer progressiva e foi nesse momento, que contando com ajuda do marido, criei o W One, um produto para fazer progressiva sem formol. Hoje, 13 anos depois, a Floractive tem mais 200 produtos à venda e exporta para diversos países”, conta Jane Sarrasi, CEO da Floractive Profissional.
A primeira venda para um país árabe aconteceu sem muita pretensão. Uma distribuidora da marca estava divulgando os produtos da Floractive nas redes sociais quando foi contactada por uma cabeleireira do Egito em 2014. “Essa compradora recebeu nosso produto e resolveu testá-lo junto com outras marcas do mesmo tipo de produto. Após testar todos, ela gostou mais do nosso e começou a comprar”, relembra Jane.
Depois disso, com a certificação halal, a brasileira chegou a outros países árabes. “Tenho um carinho muito especial por nossos parceiros árabes que são mais do que meus clientes, viraram meus amigos. Eles fazem parte de um povo que é milenar e que ensina muito de negócios para a gente. Eu amo poder proporcionar soluções que fazem a diferença no mercado, não só para o cabeleireiro, mas também para o investidor”, diz a CEO.
Além dos produtos que servem para fazer o alisamento capilar, os compradores árabes costumam comprar xampus e máscaras pós-tratamento. “Com grande aceitação, nossos produtos trazem resultados muito bons para as árabes. Elas não chegam a ter cabelo crespo, mas ele apresenta mais volume e geralmente é mais ressecado em razão do uso do hijab”, diz Jane.
Com indústria própria localizada no interior de São Paulo, além de exportar os produtos da sua marca, a empresária também fabrica produtos de outras marcas. Líbano, Dubai, Arábia Saudita e Austrália estão entre os destinos que encomendam produções com Jane.
“Alguns clientes chegam em mim e pedem uma reformulação de seus produtos, nossos profissionais fazem as formulações, eles aprovam e depois produzimos. Há produtos que fazemos em conjunto. Geralmente os árabes não pedem ingredientes que sejam nativos para produzir seus produtos, eles só se importam que sejam matérias-primas ideais para aquele tipo de produção.”
Presente em todos os estados brasileiros de uma forma mais sutil, com pequenos distribuidores, a marca brasileira volta seus esforços para conquistar mais territórios internacionais. Com esse objetivo em mente, a Floractive participou como expositora da Beauty Fair 2024. Em quatro dias de eventos, a CEO conseguiu conversar com novos possíveis compradores do Chile, Argentina e Paraguai.
Light Hair: em busca da certificação halal
Tentando trilhar um caminho até o mundo árabe, a Light Hair Professional também expôs no maior evento de beleza das Américas. Criada em 2010, a marca brasileira para tratamento capilar está em busca de aproximação com compradores árabes.
“Sou formada em Marketing e acabei de terminar um curso da ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) que me ensinou um pouco sobre a legislação dos Emirados Árabes, por exemplo. Agora vou tirar a certificação halal, traduzir as embalagens dos meus produtos para inglês e espanhol e entender mais dos mercados árabes e latino”, disse Juliana Lemos, CEO da Light Hair Professional.
Juliana ainda não tem muita ideia de como encontrar compradores árabes, por isso busca parceiros que possam ajudá-la a achar o melhor caminho. Em razão da proximidade da região e das facilidades comerciais, nos próximos meses, a marca vai tentar se aproximar de compradores do Mercosul.
Assim como Jane, Juliana também revendia produtos capilares de outras marcas quando decidiu criar a própria empresa. “Enquanto atuava como vendedora sempre tinha problemas para achar produtos de 2,5 kg, que eram usados em lavatórios, para revender. Pensando nisso, criei a minha primeira linha de xampu e condicionador de 2,5 kg para cabeleireiros. Em 14 anos, a minha empresa cresceu tanto que hoje temos uma fábrica própria”, conta a CEO da Light Hair Professional.
Presentes em quase todos os estados brasileiros, a empresa aproveitou a Beauty Fair para se aproximar de novos compradores. Além de vender os produtos para tratamento, química e finalizadores de cabelos da marca própria, a Light Hair Professional também fabrica os produtos para cabelos da marca Pão de Açúcar.
Terra Fértil: pranchas e secadores
O Terra Fértil Beauty Group, que também esteve entre os expositores da Beauty Fair, contou um pouco sobre sua história comercial com os árabes. Com experiência na química capilar, Sérgio Caltabiano, CEO da empresa, deu aulas na Universidade Anhembi Morumbi antes de criar seu negócio.
“Em 2005, quando o mercado brasileiro começou a dar atenção para os cabelos, fiz o mesmo. Após ouvir as necessidades profissionais, decidi que iria usar as minhas habilidades de engenheiro para desenvolver uma prancha leve e com boa performance de alisamento.”
Depois que a primeira criação deu certo e ganhou público, Sérgio decidiu criar um secador diferenciado, que fosse leve e confortável. Ao mesmo tempo que a marca ia crescendo e vendendo para o mercado interno, o CEO participava de feiras internacionais para divulgar os produtos para compradores externos.
Foi em uma feira em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, em 2016, que o brasileiro teve contato pela primeira vez com os árabes. Nos oito anos seguintes, o brasileiro exportou pranchas e secadores para compradores do Líbano, Egito e Emirados Árabes Unidos.
“Os grandes diferenciais, que fazem eles comprarem a minha prancha, é que ela tem um valor agregado de inovação, é leve, por isso traz um maior conforto para quem utiliza o produto por muitas horas, e ainda não queima e traz brilho para o cabelo”, disse Sérgio.
O CEO do Terra Fértil Beauty Group explica que assim como as brasileiras, as árabes também costumam cuidar dos cabelos com frequência, por isso recorrem aos salões de cabeleireiros para escovar e fazer alisamento. “Com os cabelos mais encorpados e longos, elas acabam indo com frequência para cuidar dos fios, não só em ocasiões especiais, mas no dia a dia.”
Além das pranchas e secadores, o Terra Fértil Beauty Group também comercializa em seu site higienizadores de escovas, acessórios, entre eles diferentes tipos de escovas de cabelo e móveis usados em salões de cabeleireiros e barbearia.
Saiba mais:
#Podcast da ANBA 137: Um dia de Floractive em Dubai
Banho à brasileira
Reportagem de Rebecca Vettore, em colaboração com a ANBA