Isaura Daniel
São Paulo – O saldo da balança comercial brasileira e o superávit primário foram fundamentais para o sucesso da emissão de títulos que o governo brasileiro fez na quarta-feira (06) no mercado internacional. O Banco Central captou US$ 1 bilhão em papéis da dívida externa, mas o mercado apontou com interesse de até US$ 5 bilhões. Foi a segunda emissão em um mês.
De acordo com o analista da Global Invest Asset Management, Paulo Gomes, a alta procura foi reflexo direto da melhora na percepção internacional da economia brasileira, que vem ocorrendo principalmente em função do desempenho das exportações e das contas do governo.
A emissão também deve abrir espaço para que as empresas brasileiras emitam papéis e tomem empréstimos com juros menores no exterior. "Quanto menor o risco do país, mais segura é considerada a companhia", afirma Gomes. O Brasil está classificado atualmente pelas agências internacionais de risco no nível BB-, uma posição acima da que tinha início deste ano e apenas três degraus abaixo dos países desenvolvidos.
A boa percepção da economia acaba gerando um círculo virtuoso para o Brasil, já que abre as portas para que as companhias brasileiras consigam mais linhas internacionais de financiamento para a exportação, com custos menores e, conseqüentemente, tenham ainda mais chances de vender fora do país.
A facilidade de o Brasil gerar divisas em dólares, em função do superávit da balança comercial, deu ao país a possibilidade de pagar juros menores. A captação de quarta-feira, por exemplo, terá prazo de pagamento de 15 anos e juros de 9,2% ao ano. Em julho, o Brasil chegou a pagar 10,8% de juros para papéis com prazo de vencimento de dez anos. Quanto mais indicadores de que o país vai realizar o pagamento dos títulos, menores são os juros praticados.
"O saldo comercial e o superávit primário (receitas menos despesas do governo antes do pagamento de juros) são o que mais têm dado essa credibilidade ao Brasil lá fora", diz o analista da Global Invest. Neste ano, o Brasil já captou US$ 5 bilhões, apesar de que o Banco Central previa apenas a emissão de US$ 4,5 bilhões. No ano que vem devem ser lançados mais US$ 6 bilhões em títulos no exterior.
Esse dinheiro cai diretamente nas reservas brasileiras, com as quais é feito o pagamento da dívida externa e dos seus juros. O volume das reservas normalmente é examinado pelos investidores antes de uma decisão de investimento no país. O sucesso da emissão deve permitir ao Brasil, inclusive, não renovar o acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que vence em março. "O Brasil pode se dar o luxo de não renovar o acordo", diz Gomes. As reservas brasileiras estão atualmente em cerca de US$ 25 bilhões.
Exportações
O gerente de relações internacionais da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Christian Lohbauer, acredita que a melhora da percepção brasileira pode fortalecer ainda mais as exportações, mas lembra de outras medidas que o Brasil precisa tomar para garantir a continuidade do crescimento do comércio internacional, como a redução de tributos, a melhoria do acesso ao crédito e os investimentos em infra-estrutura.
O Brasil obteve um superávit de US$ 25 bilhões no comércio internacional entre janeiro e setembro deste ano. Até o final do ano, o governo prevê saldo de US$ 32 bilhões e exportações de cerca de US$ 90 bilhões. No ano passado, o país vendeu US$ 73 bilhões no mercado internacional. As empresas brasileiras estão voltando a investir, motivadas pelas boas perspectivas do comércio exterior e pela retomada do consumo doméstico.