Isaura Daniel
São Paulo – O bom desempenho do agronegócio brasileiro já chegou ao mercado de aviação agrícola. A frota de aeronaves utilizada nas lavouras brasileiras, hoje em cerca de 1.100 unidades, aumentou 30% nos últimos três anos e meio. E o setor prepara-se para um novo impulso com a liberação do uso de recursos do Moderfrota, programa de financiamento do governo com juros baixos e prazos longos, para a compra das aeronaves.
A medida deve fortalecer ainda mais as vendas de aeronaves agrícolas no país, que já vêm crescendo na carona do agronegócio nacional, cujo Produto Interno Bruto (PIB) deve fechar o ano com US$ 180,2 bilhões, 8,8% maior do que em 2003. "O agronegócio é a agenda positiva do país", diz o secretário-executivo da Comissão Especial de Aviação Agrícola (Ceaa) do Ministério da Agricultura, Erwin Klabunde.
A Neiva, subsidiária da Embraer responsável por fabricar o Ipanema, avião agrícola que responde por 80% da frota nacional, vai chegar ao final do ano no seu limite de produção. Serão fabricados 82 Ipanemas, 36 aeronaves a mais do que no ano passado.
Dos 44 milhões de hectares produtivos no país, 17 milhões de hectares já são pulverizados por via aérea, de acordo com dados do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag). A entrada das aeronaves agrícolas no Moderfrota pode ampliar esse número.
A inclusão, porém, depende da aprovação do Conselho Monetário Nacional de uma resolução editada pelo Conselho Nacional de Aviação Civil no ano passado. Hoje apenas os pulverizadores terrestres podem ser comprados com crédito do programa.
Também tramita no Congresso Nacional um projeto de lei com o mesmo conteúdo. "A falta de financiamento é um dos limitantes do setor", diz o presidente do Sindag e do Comitê Aeroagrícola Privado do Mercosul, Carlos Heitor Belleza.
O programa de financiamento do governo tem prazo de pagamento estendido, de cinco a seis anos, e juros baixos, de 9,75% a 12,75% ao ano. O presidente do Sindag acredita que o Brasil tem potencial para manter 2 mil aeronaves agrícolas em funcionamento.
Atualmente, entre as linhas de crédito mantidas pelo governo, apenas os Fundos Constitucionais podem ser usados para compra de pulverizador aéreo. Estes fundos, porém, atingem apenas as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e não chegam ao Sul ou Sudeste do país, também importantes áreas agrícolas.
Frota nacional
Hoje a frota brasileira é de 25 aeronaves para cada milhão de hectare. O Brasil é o segundo maior mercado da aviação agrícola. Nos Estados Unidos, o primeiro do ranking, existem 50 aeronaves para cada milhão de hectare. Belleza acredita que o país tem condições de operar uma frota de 40 aeronaves por milhão de hectare.
A idéia é que a partir da ampliação do Moderfrota para o setor, o serviço das empresas que trabalham com aviação agrícola seja barateado e atinja um número maior de agricultores. Hoje, para pulverizar um hectare, as companhias cobram em média R$ 22.
O preço das aeronaves (o Ipanema custa cerca de US$ 230 mil) faz do financiamento um elemento importante na compra do avião. Em função da falta de linhas de crédito baratas, porém, parte dos produtores rurais e empresas de aviação acaba comprando aeronaves usadas nos Estados Unidos. Isso acaba envelhecendo a frota nacional. "Tem gente comprando avião norte-americano com 25 a 28 anos", diz Belleza. Os aviões brasileiros, de acordo com o presidente do Sindag, têm em média 20 anos.
Avião a álcool
O setor também aguarda a homologação do Centro Técnico Aeroespacial (CTA) para começar a utilizar aeronaves movidas a álcool. Assim que elas puderem operar, deve haver uma conversão em massa dos aviões que trabalham com gasolina para o novo sistema, o que deve acarretar a diminuição dos custos.
A gasolina de aviões está cotada em cerca de R$ 4 o litro, enquanto que o litro de álcool custa R$ 1. "O combustível é o principal fator de custo na aviação agrícola", diz o vice-presidente executivo da Associação Brasileira da Aviação Geral (Abag), Adalberto Febeliano.
A Neiva está esperando a homologação, que deve sair até o final do ano, para colocar os aviões Ipanema movidos a álcool no mercado. A empresa também vai transformar as aeronaves que operam com gasolina para o uso do etanol. A produção do Ipanema, porém, será mantida em cerca de 82 unidades ao ano, de acordo com informações da assessoria de comunicação da Embraer.
A Neiva já está trabalhando com a sua capacidade máxima e não tem planos de ampliar a sua estrutura de fabricação da aeronave.
Melhor para a soja
Os pulverizadores aéreos são muito utilizados nas lavouras de soja, arroz e algodão. Como são mais rápidos do que os pulverizadores terrestres, acabam sendo mais apropriados para combater, por exemplo, a ferrugem asiática na soja, capaz de acabar com uma lavoura de soja em três dias.
O fungicida precisa ser aplicado quando os grãos estão começando a se formar e a planta, portanto, já ganhou altura. "Além de o avião ser mais rápido, não há transmissão de doença de uma lavoura para outra e a planta não é amassada", diz Belleza.
No caso do arroz irrigado, plantado na região Sul do país, o avião não tem o problema de atolar, como os pulverizadores terrestres. O algodão, por ser uma planta alta, também é favorecido com o uso do pulverizador aéreo.