São Paulo – O dólar mais valorizado ainda não foi suficiente para fazer decolar as exportações brasileiras de calçados. As vendas externas do segmento devem ficar perto de US$ 1 bilhão neste ano, abaixo do US$ 1,3 bilhão faturado com o mercado internacional pela indústria da área em 2011. A informação é do presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Milton Cardoso, e foi divulgada durante a 44ª Feira Internacional da Moda em Calçados e Acessórios (Francal), que começou nesta terça-feira (26) na capital paulista. Os empresários expositores, no entanto, estão animados com o mercado externo.
As exportações de janeiro a maio tiveram queda de 20% sobre o mesmo período do ano passado, ficando em US$ 444 milhões. Caso a previsão da Abicalçados se confirme, haverá um recuo similar ao apresentado até agora no acumulado do ano de 2012. "Isso se nada mudar", afirmou Cardoso, reforçando que para as vendas externas ficarem perto de US$ 1 bilhão é necessário que o dólar siga em patamar alto. Ele lembra que entre 2004 e 2008 as exportações se mantiveram entre US$ 1,8 bilhão e US$ 1,9 bilhão. Em 2009 e 2010, ficaram em US$ 1,3 bilhão e US$ 1,4 bilhão, respectivamente, segundo dados da Abicalçados.
Para haver uma verdadeira retomada das exportações, segundo o presidente da Abicalçados, é necessário que o governo federal faça com que o dólar permaneça em recuperação e tome outras medidas, como a exclusão da cobrança de PIS/Cofins da indústria de transformação, possibilidade avaliada pelo poder público. Cardoso acredita num crescimento de 4% da economia brasileira no segundo semestre deste ano, mas afirma que, em outros momentos da história, foi verificado que para dar competitividade às exportações, o dólar precisa estar acima de R$ 2,60. O dólar chegou a ser cotado a R$ 1,69 em fevereiro, mas a cotação desta terça foi de R$ 2,07.
Apesar das previsões um pouco pessimistas, o presidente da Abicalçados fala que as empresas não desmontaram suas estruturas de exportação. Algumas delas, de fato, estão animadas com as vendas externas e inclusive sentiram, neste primeiro dia de Francal, que os importadores estão comprando. Alguns inclusive, como Abdul Al Garawi, um dos principais executivos do Al Garawi Group, importadora saudita, afirma que não está no Brasil atrás de preço, mas sim de qualidade e design. Ele participa da Francal como comprador.
A mostra é um dos principais pontos de comercialização da coleção primavera-verão do setor, incluindo as exportações e, portanto, funciona como termômetro de como será o semestre para as indústrias.
No estande da indústria de calçados Werner, na Francal, por exemplo, na tarde desta terça-feira, 70% dos compradores presentes eram importadores, segundo o diretor da companhia, Werner Júnior. O empresário afirma que a Werner exporta entre 30% e 35% e o percentual pode ficar acima disto neste ano. Segundo Júnior, houve dificuldades nas negociações para exportação nas últimas três coleções, mas agora, com o dólar na casa dos R$ 2, a situação melhorou. Ele percebeu a boa fase durante a participação da marca na Expo Riva Shuh, que aconteceu na última semana, na Itália, e onde a empresa foi expositora. Lá, inclusive, a companhia recebeu importadores do Catar, Emirados Árabes Unidos e Kuwait.
A Werner produz cerca de 500 mil pares por ano e exporta para 45 países, entre eles Kuwait e Emirados. No mundo árabe, porém, a empresa ainda não tem clientes assíduos, que compram a marca em todas as coleções. As vendas para a região representam, segundo Júnior, cerca de 1% da exportação. A empresa tem 43 anos de mercado e fabrica seus calçados, que são femininos, no município gaúcho de Três Coroas.
A Ya Young Attitude é outra empresa brasileira que participa da Francal com boas expectativas de exportação. A companhia, que é de pequeno porte, estreou sua primeira coleção de calçados na feira e está em negociação para exportar aos angolanos. A empresa produz calçados jovens e confortáveis, todos com muito colorido, brilho, design criativo e estampas inusitadas. A indústria, que é mineira da cidade de Nova Lima, na Grande Belo Horizonte, produzia calçados para terceiros há quatro anos, mas agora resolveu lançar sua marca própria.
“Quero exportar”, diz Dayse Soares, sócia da empresa ao lado de Iaia Resende. Ela acredita que a atual cotação do dólar frente ao real permite exportações. Mas está buscando os mercados adequados para a marca.
A Vilhena Carvalho, marca baiana de calçados, também está na Francal, feira por meio da qual chegou a exportar em anos anteriores. "Vendemos para Tóquio", conta a proprietária que dá seu nome à marca. A venda para os asiáticos foi em 2010. De lá para cá a empresa, que é pequena, não conseguiu mais colocar seus calçados no mercado internacional, apesar de ter tido conversas com importadores da Turquia. Carvalho diz que o dólar dificultou as exportações nos últimos tempos, mas agora ela tem vontade de vender lá fora novamente. "Para regiões de praia", explica a empresária, citando Dubai entre os possíveis destinos.
A companhia produz calçados abertos, como sandálias, principalmente rasteirinhas, com muito brilho, pedras e correntes. Os produtos chamam a atenção no estande.