Alexandre Rocha*
São Paulo e Cairo – O governo do Egito decidiu suspender a proibição à importação de frangos congelados, ovos frescos e ovo em pó, segundo reportagem publicada ontem (12) no diário Al-Ahram, o principal jornal do país árabe. A medida, válida por seis meses, envolve também a isenção total do imposto para a importação destes produtos.
De acordo com o jornal, o ministro egípcio da Indústria e Comércio, Rachid Mohamed Rachid, anunciou ainda a isenção do tributo sobre a carne bovina congelada, peixes e carne de frango industrializada. Ele informou que as mercadorias devem ser adquiridas de países onde não ocorreram casos de gripe aviária, como o Brasil.
A medida, sempre segundo o Al-Ahram, foi determinada pelo presidente do país, Hosni Mubarak, para "facilitar a vida dos egípcios, principalmente os cidadãos de baixa renda", por meio do aumento da oferta de gêneros alimentícios no mercado, o que, espera-se, vai inibir os aumento dos preços dos produtos locais e torná-los mais acessíveis.
A intenção de Mubarak é conter o brusco aumento do preço do frango, que ocorreu por conta da recente proibição à criação local da ave ocasionada pela gripe aviária, que chegou a causar mortes no Egito. A indústria de derivados de frango entrou em crise, pois além da proibição imposta aos avicultores, os consumidores egípcios andam receosos de comer frango por causa da doença.
"O governo egípcio vai adotar as medidas legais necessárias para liberar a importação de frangos, em função da diminuição da oferta de frangos no mercado local e dos preços elevados", diz o Al-Ahram. "A medida vai contemplar, inclusive, o abastecimento das famílias para o mês sagrado do Ramadã", acrescenta.
Os importadores árabes costumam fazer estoque de produtos alimentícios nos meses que antecedem o Ramadã, quando os muçulmanos jejuam durante do dia, mas comem à noite. O mês sagrado, que este ano vai coincidir com setembro, é seguido de um período de festas.
Oportunidade para o Brasil
Embora o Brasil seja o maior exportador mundial e o segundo maior produtor de frango, sua participação no mercado egípcio é pequena. De acordo com o secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Michel Alaby, mesmo quando não há a proibição às compras externas, a alíquota imposta ao frango importado é muito alta, de 44%. Tanto que no período de janeiro a junho, o Brasil exportou ao Egito apenas US$ 1,5 milhão da ave, e em pedaços, um produto que tem maior valor agregado que o frango inteiro.
Para o presidente da Câmara Árabe, Antonio Sarkis Jr., a abertura do mercado egípcio representa uma grande oportunidade para os exportadores brasileiros. "É um mercado novo e o mais populoso entre os países árabes, são 74 milhões de pessoas", afirmou. "Trata-se de um grande espaço que as empresas brasileiras podem conquistar e isso deve alavancar muito as exportações brasileiras ao Egito", ressaltou.
Alaby acrescentou que a abertura do mercado egípcio, embora deva provocar a estabilização dos preços nas gôndolas do país árabe, deverá causar uma valorização do frango no mercado internacional, por conta do aumento da demanda. "É uma nova oportunidade de venda e as empresas brasileiras devem se preparar e investir na produção", afirmou. "Além do equilíbrio dos preços no mercado interno, os egípcios terão também acesso a um frango saudável, principalmente se importarem do Brasil", acrescentou Alaby.
Sarkis lembrou que o Egito já é o principal importador de carne bovina in natura do Brasil. Com a suspensão também da alíquota de importação deste produto, que segundo Alaby é de 22%, abre-se caminho para novos negócios nesta seara. "Os importadores egípcios vão ter uma melhor condição de compra", declarou o presidente da Câmara Árabe.
Segundo o Al-Ahram, o Banco Central do Egito vai editar regras para facilitar as importações dos produtos contemplados pela medida. Além disso será criada uma comissão com membros dos ministérios da Indústria e Comércio e das Finanças, de organizações de defesa do consumidor e de produtores de carne e frango, para controlar o abastecimento destas mercadorias nos próximos seis meses e "garantir a disponibilidade dos produtos a preços competitivos para os consumidores".
Comércio
O Egito já é um dos principais parceiros comercias do Brasil no mundo árabe. No primeiro semestre, as exportações brasileiras para lá renderam US$ 591,2 milhões, um aumento de 50% em comparação com o mesmo período do ano passado. Os principais produtos vendidos foram carne bovina, minério de ferro, celulose, açúcar e laminados de ferro e aço.
Já as importações de produtos egípcios somaram US$ 9,2 milhões, um crescimento de 3,6% em comparação com o primeiro semestre de 2005. Os principais itens comprados pelo Brasil foram algodão, negros de carbono (material utilizado nas indústrias de borracha, tintas, papel e plástica), couros, fios de algodão e aparelhos de barbear.
*Colaborou Randa Achmawi