São Paulo – A maior parte da população de origem árabe que vive no Brasil é formada por netos de imigrantes, ou seja, pessoas cujas famílias estão no País desde a chegada dos seus avôs e avós. O dado é um dos que foram apresentados nesta quarta-feira (22) como parte de uma pesquisa que radiografou a presença árabe no Brasil, feita pelo instituto Ibope Inteligência em parceria com a H2R Pesquisas Avançadas a pedido da Câmara de Comércio Árabe Brasileira. As informações da pesquisa foram mostradas ao público em evento virtual que marcou os 68 anos da instituição e que reuniu quase 1.300 pessoas.
A amostragem realizada pelo Ibope apontou que existem 11,6 milhões de árabes e descendentes no Brasil. Como segunda etapa da pesquisa, a H2R Pesquisas Avançadas se aprofundou no assunto em um levantamento junto a 803 entrevistados. Nele, aparece que entre os que formam a comunidade árabe do Brasil, 10% é o imigrante, ou seja, é aquele que veio do país árabe. Entre os descendentes, 20% é filho de imigrante, 41% é neto, 19% é bisneto e 20% é tataraneto. “Essa imigração veio para cá no início do século passado”, afirmou a diretora da H2R, Alessandra Frisso (foto acima), que apresentou os dados no evento virtual.
A pesquisa mostra que a maioria desses árabes e descendentes são homens, casados, com dois filhos, e com renda e nível educacional superiores aos brasileiros em geral. “Dezenove por cento dos brasileiros têm curso superior, enquanto entre os árabes são 29%”, relatou Frisso. Grande parte dessa comunidade possui formação na área de negócios. Enquanto os brasileiros como um todo são mais dedicados ao setor de serviços, os árabes e descendentes se ocupam principalmente do comércio.
O levantamento mostra que as pessoas da comunidade árabe são majoritariamente planejadas, reservadas e se importam com a reputação. “Alguns, metade, são bastante desconfiados e com atividade cultural um pouco menos intensa”, afirmou a diretora da H2R. As três primeiras características foram apontadas por mais de 70% dos entrevistados, a segunda por 57% e a terceira por 38%.
A maior parte tem a origem árabe atrelada à família paterna. “Um dos achados muito bonitos dessa pesquisa é que eles escolheram o Brasil principalmente por suas características, por seu acolhimento, por ser um país pacífico e pelas oportunidades de trabalho”, afirmou Frisso. Outro motivo apontado para a vinda ao Brasil foi a família, em alguns casos para formar uma família.
Herança árabe
Mais da metade dos entrevistados tem as tradições árabes presentes em seu cotidiano. “Preparar um prato típico é um dos elementos mais presentes no dia a dia”, relata a diretora. A culinária é um laço com a origem para 72%, o seguimento dos preceitos religiosos para 25%, o domínio do idioma árabe para 23%, ouvir música árabe para 16%, ser hospitaleiro para 12%, entre outras características.
A maioria quer que as gerações futuras da família saibam das origens e falem o idioma árabe. “A língua e o reconhecimento das origens são os dois pilares mais fortes para os árabes”, disse Frisso. Mas apenas um quarto se sente engajado com a comunidade árabe no Brasil. Essas são pessoas mais velhas, de classe A e B, com ensino superior, muçulmanos, do Sul e Sudeste do Brasil, do comércio e imigrantes. Os menos engajados são os mais jovens, da quarta ou quinta geração, das classes C, D e E, católicos e evangélicos.
Entre os entrevistados, 53% se sente orgulhoso da origem. Quem tem esse pensamento é principalmente muçulmano, das classes A e B, das regiões Sul e Sudeste. Um percentual parecido, 54%, tem vontade de visitar um país árabe, como Egito, Líbano e Emirados Árabes Unidos. Entre os ouvidos, porém, 54% acha que a comunidade conhece pouco sobre a cultura e a tradição das suas origens e 48% diz sofrer discriminação. “Quase metade se sente discriminado, mesmo com toda a acolhida do Brasil”, diz Frisso.
Contribuição ao Brasil
Tanto brasileiros em geral como pessoas de origem árabe acreditam que os imigrantes árabes colaboraram para o desenvolvimento econômico do Brasil. Eles percebem essa contribuição principalmente no comércio, culinária, cultura, saúde e indústria. O mesmo grupo, brasileiros e árabes, concorda que é importante o Brasil manter embaixadas e consulados em países árabes. Entre os brasileiros, as pessoas que pensam isso são 70% e entre os imigrantes e descendentes, 86%.
Os árabes do Brasil conhecem instituições e iniciativas de referência na comunidade. O Hospital Sírio Libanês é reconhecido por 74%, o Esporte Clube Sírio por 32%, a Câmara de Comércio Árabe Brasileira por 27% e a Agência de Notícias Brasil Árabe por 14%. Esses percentuais aumentam consideravelmente quanto maior a classe social dos entrevistados. “Com menos de 20 anos, a Agência de Notícias Brasil Árabe começa a alcançar sua notoriedade junto aos descendentes e comunidade árabe”, disse Frisso.
Evento e pesquisa
Os dados mais gerais da pesquisa foram apresentados no evento virtual pela CEO da Ibope Inteligência, Márcia Cavallari Nunes. A diretora da H2R, Alessandra Frisso, também apresentou informações sobre a liderança das pessoas de origem árabe ao final da sua palestra. Descendentes de árabes que se destacam em suas áreas de atuação enviaram depoimentos por vídeo.
Participaram do evento virtual ainda o presidente da Câmara Árabe, Rubens Hannun, e o presidente do Conselho de Orientação da entidade, Walid Yazigi, e o secretário-geral da instituição, Tamer Mansour, além do decano do Conselho dos Embaixadores Árabes no Brasil e embaixador da Palestina, Ibrahim Alzeben, e o secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Aboul Gheit, em vídeo gravado.
Leia mais sobre a pesquisa e o evento em outras reportagens da ANBA.
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Assista o evento virtual na íntegra abaixo: