São Paulo – A roupa é da dança do ventre, mas as dançarinas também usam penas, sementes, carrancas e artesanatos amazonenses. Os movimentos principais são da dança popular no mundo árabe, mas o grupo também faz gestos de puxar arco e flecha, se agacha como os índios e dá batidinhas de pé como na dança do boi.
É assim que se mostra no palco a fusão da dança do ventre com as danças regionais amazonenses feita pela companhia Belly Dance Jungle, de Manaus. As integrantes do grupo viajam Brasil afora mostrando a dança em várias versões, entre elas mesclada à dança indígena, com elementos da dança do boi e embalada por música popular amazonense.
Tudo começou quando a fundadora do grupo, Maíse Ribeiro, de Manaus, voltou de uma temporada para estudar dança do ventre na capital paulista, no início dos anos 2000. Ela se matriculou na rede de escolas Luxor e teve aulas com dançarinas árabes.
Após ouvir de professoras egípcias que faltava algo à dança do ventre praticada no Brasil, que havia técnica, mas era preciso mais emoção e identidade, Maíse começou a pensar em um caminho novo para essa dança no País e se deparou com a ideia de expressar a cultura da sua terra, o Amazonas, por meio dela.
O primeiro passo foi a pesquisa em tribos indígenas Tukanas e Dessanas, no estado. Ela percebeu que nas danças dessas comunidades havia muitas características do dabke, dança que é popular no Oriente Médio. “Os indígenas também dançam em pares, em roda, fazem meia lua, batem o pé”, relatou Maíse à ANBA. Ela observa que a dança do ventre, assim como a indígena, usa muito os movimentos circulares.
A amazonense, descendente de portugueses e índios, resolveu levar elementos como o ato de agachar, a batida de pé no chão e o gesto de disparar a flecha para dentro da dança do ventre. A dança do boi também vem da cultura indígena e tem elementos como a batida de pé, relata Maíse Ribeiro. As músicas usadas para os espetáculos de dança do ventre com a indígena e com a dança do boi são as toadas de boi.
Na busca por ritmos regionais adequados para a prática da dança do ventre, a fundadora do Belly Dance Jungle encontrou a banda Raízes Caboclas, do Amazonas, e resolveu fazer espetáculos com som ao vivo do grupo.
“O público recebe muito bem essas danças. No começo é susto, mas depois vem a identificação, todos nós temos sangue de índio”, afirma Maíse sobre a repercussão dos shows com fusão das culturas. “Pela dança as pessoas acessam o que não percebiam mais que eram, filhos da terra, e se identificam muito”, conta.
Maíse conheceu as danças árabes quando estudava na Escola Marques de Santa Cruz. A instituição promove anualmente o Festival Folclórico Marquesiano, que resgata pela dança a diversidade cultural amazonense. Nessa época, ela teve contato com o dabke – a dança é praticada na Palestina e o Amazonas tem colônia palestina forte.
Mas a dança do ventre entrou na vida de Maíse quando o Sesc local a procurou para dar aulas na área. A amazonense aprendeu a dança e passou cerca de oito anos ensinando no Sesc. Depois resolveu abrir a sua própria escola de dança do ventre, a Casa de Ísis, que mantém até hoje em Manaus.
A escola tem uma filial em São Paulo, dentro da escola de samba Unidos de Vila Maria, na qual a irmã de Maíse, Cinthia Ribeiro, dá aulas de dança do ventre para mulheres da ala das baianas.
A escola promove nos meses de setembro o festival Belly Dance Jungle – mesmo nome da companhia de dança. O grupo Belly Dance Jungle já foi convidado várias vezes para participar do Ahlan wa Sahlan, um dos mais importantes festivais de dança do ventre do mundo, no Egito, mas nunca conseguiu patrocínio para a viagem. A companhia, no entanto, já se apresentou no exterior, em países como Uruguai, Argentina, Paraguai e Peru.
Contato:
Belly Dance Jungle/Casa de Ísis
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