Campina Grande – O Instituto do Semiárido (Insa) tem em sua unidade experimental, no município de Campina Grande, na Paraíba, um pequeno rebanho com 102 bois de uma raça chamada Pé Duro. O nome não é apenas exótico e os animais não estão ali por acaso. Os bichos, que estão em estudo pelo Insa, se desenvolvem bem em terras de seca – inclusive em função da pata de casco duro, própria para o semiárido – e podem colaborar na formação de rebanhos mais adaptados ao mundo com aquecimento global.
De acordo com o zootecnista e pesquisador do Insa, Geovergue Medeiros, os genes de animais Pé Duro poderão ser usados em cruzamentos com outros tipos de raças para torná-las mais resistentes a um clima de maior calor, com o qual o mundo todo deverá conviver nos próximos anos em função do aquecimento do planeta. Os bois chegaram no semiárido brasileiro ainda na época da colonização européia e desde lá convivem com a seca, o que os tornou resistentes ao clima.
O Insa, no entanto, não trabalha na oferta dos genes para os cruzamentos. A preocupação do instituto é preservar a raça, que foi sendo misturada ou cruzada com outros tipos de bovinos e está em extinção. “A raça é resistente ao clima, tipo de solo, ao calor, ao tipo de vegetação. Come pouco e consegue sobreviver, até se reproduzir”, afirma Medeiros.
O pesquisador afirma que o Pé Duro é mais propício para corte do que para leite e explica que a produtividade do animal não é grande. Se forem levadas em conta as condições climáticas onde vive, porém, o desempenho é bom. O Insa deve começar em breve, conta Medeiros, um estudo comparativo, mostrando as diferenças de desempenho dos bois Pé Duro e de outras raças, como zebuínos, nas terras de semiárido.
Medeiros estima que existam hoje no Brasil ao redor de oito mil animais Pé Duro. O Insa começou a desenvolver o rebanho e a observar os animais, em sua estação experimental, em 2006. Eles são originários, no entanto, do estado do Piauí.
Mais Insa
Na unidade experimental onde é pesquisado o Pé Duro, além do trabalho com bovinos, são desenvolvidos outros estudos e experimentos, como, por exemplo, sobre plantas mais adaptadas ao semiárido e sobre as propriedades fitoterápicas de espécies de vegetação da região.
O instituto, que é ligado ao Ministério de Ciência e Tecnologia, está construindo, também em Campina Grande, uma sede, onde, além de concentrar funções administrativas, terá espaço para pesquisadores. Estão sendo investidos, na construção dos prédios da sede, ao redor de R$ 5 milhões. Outros R$ 2 milhões deverão ser gastos na infra-estrutura do local. Também serão construídos laboratórios de pesquisa, na estação experimental, que demandarão cerca de R$ 10 milhões, de acordo com o diretor do Insa, Roberto Germano Costa.
O Insa tem em aberto atualmente ainda, juntamente com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), um edital para seleção de projetos que desenvolvam tecnologias e inovação para a conservação, recuperação e utilização dos recursos naturais do semiárido. As inscrições vão até 30 de setembro e serão disponibilizados, no total, R$ 12,5 milhões. Cada projeto poderá ter, dependendo da linha de pesquisa, até R$ 50 mil ou até R$ 400 mil.
*A jornalista viajou a convite do Insa