Isaura Daniel
São Paulo – Os investimentos externos devem começar a voltar ao Brasil no final deste ano e ajudar o país a manter o alto índice de aquecimento no comércio internacional. Depois de dois anos de crescimento tímido, as exportações brasileiras deram, no ano passado, o maior salto dos últimos 15 anos. Passaram de US$ 60,4 bilhões em 2002 para US$ 73,1 bilhões em 2003. Um aumento assim expressivo havia ocorrido apenas em 1988, quando o comércio internacional cresceu 28,8%. Em 2002 e 2001, a alta não passou de 6%. Neste ano a cifra chegou aos 21%.
A chegada do segundo semestre trouxe à tona, porém, algumas ameaças ao crescimento e algumas perguntas também. O mercado interno começa a dar sinais de retomada com a melhoria dos índices de emprego e a indústria trabalha com pouca folga para aumentar a produção e exportar mais. O Brasil vai ter fôlego para manter o ritmo das exportações? Os especialistas acreditam que sim. E quem vai colaborar para resolver parte do problema deve ser o capital estrangeiro.
O superintendente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (Abracex), Benedito Pires de Almeida, cita as empresas argentinas como potenciais interessadas em ingressar no país. "Elas vão ajudar a suprir a demanda interna e entrarão também na exportação", diz Almeida.
De fato, nos próximos meses pelo menos duas empresas argentinas, a Metalflor e a Plá, vão inaugurar fábricas no Brasil. As duas são da área de maquinários agrícolas, setor em que o país vem aumentando o comércio internacional. A Plá vai abrir uma fábrica no Rio Grande do Sul, em Canoas, e a Metalflor, que já possui sede no Paraná, vai inaugurar outra unidade no Mato Grosso.
O sócio da área de tributos da KMPG, Diogo Hernandes Ruiz, acredita inclusive na vinda de empresas que já se instalaram na China e agora vão buscar novos países para investimentos. "As empresas vão voltar a investir no Brasil", diz Ruiz. Em 2003 houve uma queda de US$ 6 bilhões no capital estrangeiro ingressado, que ficou num valor bruto de US$ 12,9 bilhões contra os US$ 18,7 bilhões do ano anterior, segundo dados do Banco Central.
O valor líquido dos investimentos foi de US$ 10,1 bilhões em 2003, segundo a Sociedade Brasileira de Estudo de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet). O organismo estima que o país deve receber já neste ano um total de US$ 12 bilhões líquidos de fora. São cerca de US$ 2 bilhões a mais que em 2003.
Balança em alta
Por este e outros motivos, a aposta é que o Brasil feche o ano com os mesmos 21% de crescimento nas exportações este ano e fature US$ 89 bilhões com as vendas no mercado externo. No ano que vem, a tendência é que as exportações continuem crescendo. O aumento, porém, deve seguir um ritmo menor, em torno de 6,4%, de acordo com a economista da consultoria Tendências, Amarillys Romano. As projeções do mercado são de exportações de US$ 94,7 bilhões para 2005.
Índices negativos, porém, como as quedas de 6,1% amargada em 1999 e de 8,6% em 1990, não voltam mais, segundo os especialistas. Amarillys afirma que as empresas brasileiras se capacitaram para a exportação nos últimos anos e por isso não vão abandonar os clientes estrangeiros. "Pode haver redução de exportações em um ou outro produto, por problema de safra ou demanda, mas não de competitividade. Não vamos voltar atrás", diz Amarillys. "Grande parte das nossas exportações são de produtos agroindustriais que não temos mercado interno para absorver", diz Ruiz.
Ruiz lembra que o Brasil participa com cerca de 1% apenas do comércio mundial, que no ano passado alcançou cerca de US$ 7 trilhões, e que por isso tem muito campo ainda a explorar.
As empresas brasileiras, porém, precisarão fazer a sua parte para manter o comércio externo em alta. Uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra que a indústria nacional trabalha com 81,9% da sua capacidade, com uma folga de apenas 18% para aumento de produção.
Em alguns setores, como no de celulose, papel e papelão, o caso é ainda mais grave. As fábricas operam com 92,% da capacidade. A indústria de sabões e detergentes está verdadeiramente no gargalo e usa atualmente 99,6% da sua estrutura.
Investimentos
A Abracex informa que há necessidade de investimentos gerais urgentes de US$ 100 bilhões nos próximos dois anos para que as exportações do país continuem crescendo. O valor inclui aportes na área de infra-estrutura, como transporte, área importante para o escoamento da produção nacional.
Amarillys afirma que o próprio setor privado deverá se encarregar de fazer os investimentos em logística que o governo não tem feito. Ela cita as iniciativas do setor agropecuário. "Os agropecuaristas estão investindo em armazenamento, em construção de silos, as tradings estão construindo seus portos. No que depender do setor privado as coisas vão continuar acontecendo", diz Amarillys.