São Paulo – Megablocos comerciais estão se formando e irão determinar as regras de comércio internacional nos próximos anos. O Brasil precisa participar das discussões deles, mas por enquanto está fora das negociações, afirmou o sociólogo Demétrio Magnoli em palestra realizada na Câmara de Comércio Árabe Brasileira, em São Paulo, na noite de terça-feira (09).
Magnoli lembrou que dois megablocos estão em formação: um entre os Estados Unidos e a União Europeia. O outro, entre os Estados Unidos e países do Pacífico (conhecido como Parceria Trans-Pacífica).
Ao mesmo tempo, outro bloco, a Aliança do Pacífico, reúne países latino-americanos banhados por este oceano. São eles Chile, Colômbia, México e Peru. Magnoli defendeu que o Brasil participe de reuniões de temas como proteção de investimentos, regras tributárias e discussões setoriais com a Aliança do Pacífico para que possa participar da formação dessas regras e, então, se inserir na cadeia de suprimento que poderá ser formada entre a Aliança do Pacífico e a Parceria Trans-Pacífica.
“De um lado (a aliança dos países latinos) é uma área de integração econômica profunda, de mercados financeiros integrados, atração de investimentos. É um trampolim para a integração com os megablocos que estão se formando. Nosso desafio é nos conectar à Aliança do Pacífico e acelerar acordos bilaterais. Esses blocos irão estabelecer novas regras de comércio no mundo. O Brasil precisa participar deste jogo, pois, senão, será submetido a regras das quais não participou”, disse.
Magnoli observou, porém, que o Brasil tem um caminho difícil pela frente. Ele disse que o afastamento da presidente Dilma Rousseff e sua substituição pelo interino Michel Temer mudou a política internacional do Ministério das Relações Exteriores, agora focado na realização de acordos bilaterais. No entanto, o momento para a celebração de acordos de bilaterais ficou para trás.
“A Europa está em crise e agora tem que administrar o Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia). Nos Estados Unidos, os dois candidatos à presidência têm apresentado propostas protecionistas. As grandes janelas de oportunidade se fecharam. O chanceler José Serra mostra intenção de avançar em acordos. Poderia se tentar com o México, que está aberto a isso, e com os países árabes”, disse, ressaltando, porém, que é preciso participar de alianças maiores.
Magnoli observou ainda que a integração a blocos internacionais é uma forma de retomar o crescimento. Países emergentes, como Turquia, Rússia e latino-americanos enfrentam problemas de crescimento similares ao brasileiro em decorrência, em parte, da desaceleração da economia chinesa. Além dessa conjuntura, o Brasil enfrenta ainda a crise política.
Segundo Magnoli, o ciclo de crescimento e alta do preço das commodities da primeira década deste século não irá se repetir. Só ocorreu em função de uma reunião de fatores proporcionada pelo tamanho da população chinesa, custos de produção baratos na China e elevada liquidez internacional. Esse ciclo se encerrou e não irá se repetir porque não há países que reúnam as mesmas condições como aquelas proporcionadas pela China.
Cerca de 70 pessoas assistiram à apresentação, que é parte do Ciclo de Palestras organizado pela Câmara Árabe. Entre os participantes estavam o presidente da instituição, Marcelo Sallum, e o vice-presidente administrativo, Adel Auada.