Dubai – “A métrica de sucesso dessa COP vai depender da linguagem em relação a combustíveis fósseis”, declarou a ministra do Meio Ambiente do Brasil, Marina Silva, em coletiva à imprensa na tarde desta segunda-feira (11), no penúltimo dia da COP28 em Dubai.
Segundo a ministra, a COP28 precisa de um resultado das negociações que inclua linguagem clara sobre o enfrentamento aos combustíveis fósseis, no sentido de viabilizar os meios para acelerar cada vez mais as energias renováveis e de forma justa. “[De viabilizar] os meios para tirar o pé do acelerador dos combustíveis fósseis, e quando digo ‘meios justos’ é no sentido de que os países em desenvolvimento tenham a clareza de que a responsabilidade é de todos, a trajetória tem que ser percorrida por todos, mas os países desenvolvidos têm que liderar essa corrida”, disse.
Ela também declarou que o Brasil quer que os resultados sejam “coerentes com a missão que a ciência está dizendo que precisamos assumir”, se referindo à necessidade de reduzir as emissões para manter o limite de aumento da temperatura em até 1,5°C.
“Essa é uma COP decisiva, nós consideramos que depois do Acordo de Paris, que nesse tripé, COP28, COP29 e COP30 se constitua uma espécie de balanço. Aqui estamos a partir do balanço geral com todos os ingredientes necessários para que se possa dar conta dessa missão estabelecida pela ciência de 1,5°C”, disse Marina.
Ela informou que nas reuniões de alto nível ficou claro que há um alinhamento da maioria dos que se manifestaram de que é preciso olhar para o que está dizendo a ciência.
“Faz 31 anos que fizemos a Rio92, em que ficou estabelecido um diagnóstico que a principal fonte de aquecimento do planeta era o combustível fóssil. Trinta e um anos depois, depois de muita protelação em relação ao debate dessa questão, ela veio para essa COP e terá que ser internalizada aqui, metabolizada a partir daqui, para chegarmos em 2030 com todos esses temas devidamente assimilados para termos uma resposta à altura em termos das nossas ambições”, declarou.
Minutos antes da coletiva de imprensa começar, foi divulgado um texto preliminar das negociações e não houve tempo para que a ministra pudesse ler. “Recebemos o texto vindo a caminho da coletiva. Independente do que está no texto, essa é a métrica com a qual estamos trabalhando, que a métrica de sucesso dessa COP será em relação aos temas de adaptação, mitigação e enfrentamento do tema dos combustíveis fósseis e tem tempo para trabalhar até o final dessa COP porque o Brasil tem dialogado na busca de uma linguagem que acolha essa expectativa colocada pela sociedade e pela ciência”, disse Marina.
Para a ministra, somente o fato do tema dos combustíveis fósseis estar sendo tratado em uma COP é “uma demonstração inédita ao longo de 31 anos”.
A ministra disse que é preciso que haja uma diminuição da dependência das economias dos países das mesas de negociação com relação aos combustíveis fósseis.
“O presidente Lula foi muito claro em seu discurso de abertura que não tem havido a velocidade necessária de redução de combustíveis fósseis, e, para que isso aconteça, é fundamental que saiamos todos da dependência dessas fontes não renováveis de energia, todas elas, carvão, petróleo, gás, enfim”, disse.
Outros indicativos de sucesso para a COP28, segundo Marina Silva, são o enfrentamento da questão de perdas e danos e que já foi estabelecido o fundo no primeiro dia da conferência; ações voltadas para mitigação das emissões de gases do efeito estufa e a agenda de adaptação às mudanças climáticas. “Os países vulneráveis precisam de ajuda, seja de recursos financeiros, humanos, tecnológicos, para poder fazer suas adaptações”, disse.
António Guterres
Em discurso à imprensa nesta segunda-feira (11), o secretário-geral da ONU, António Guterres, falou sobre as negociações e o encerramento da COP28. “Estamos em uma corrida contra o tempo. Nosso planeta está chegando muito próximo do limite de 1,5°C grau e o tempo está se esgotando. Agora é o momento de máxima ambição e máxima flexibilidade. É hora de buscar compromissos para soluções – sem comprometer a ciência ou a necessidade de maior ambição”, disse.
Guterres declarou que em um mundo fraturado e dividido, a COP28 pode mostrar que o multilateralismo continua sendo a melhor forma de enfrentar desafios globais e pediu às partes que garantam máxima ambição na redução de emissões de gases de efeito estufa e na promoção da justiça climática.
O secretário-geral disse ainda que os próximos dois anos são vitais para estabelecer uma nova meta global de financiamento climático para além de 2025 que reflita a escala e urgência do desafio climático e para os governos prepararem e apresentarem novos planos nacionais de ação climática que abranjam toda a economia, cubram todos os gases de efeito estufa e estejam totalmente alinhados com o limite de temperatura de 1,5 grau.
“Os governos devem sair de Dubai com uma compreensão clara do que é necessário entre agora e a COP30 no Brasil. Portanto, ao nos aproximarmos da linha de chegada da COP28, minha principal mensagem é clara: Devemos concluir a COP28 com um resultado ambicioso que demonstre ação decisiva e um plano crível para manter viva a meta de 1,5 grau e proteger aqueles na linha de frente da crise climática. Não podemos continuar adiando o problema. Estamos sem estrada – e quase sem tempo”, concluiu.
COP30 em Belém
Também nesta segunda-feira (11), Belém, capital do Pará, foi oficializada como sede da COP30, em 2025. Após diversas negociações, também ficou decidido que a próxima cúpula, a COP29, em 2024, terá como sede Baku, a capital do Azerbaijão.