Por Mohamed Hussein El Zoghbi*
Muçulmanos de todo o mundo – 1,9 bilhão de pessoas, atualmente – seguem a recomendação religiosa para que consumam produtos com certificação Halal. São alimentos, cosméticos, medicamentos e até mesmo roupas que, em seu processo de fabricação, não têm nenhuma substância que afeta a saúde e a segurança das pessoas, prejudica o solo, compromete os recursos naturais ou que utiliza, por exemplo, mão de obra escrava ou infantil em seu processamento.
Por essa e outras características, são produtos que, já faz algum tempo, deixaram de ter como consumidores apenas os seguidores do Islam. Esses itens vêm sendo cada vez mais solicitados por todos os que buscam segurança dos alimentos, dietas veganas ou, simplesmente, uma forma de consumo mais consciente.
O reflexo desse movimento, obviamente, se reflete na economia. De acordo com os últimos dados do State of the Global Islamic Economy Report, o mercado Halal movimenta US$ 2 trilhões – o que inclui não só produtos, mas também serviços, como o turismo Halal.
Com base no mesmo relatório, podemos afirmar, sem medo de errar, que o mercado Halal segue em franco crescimento. Um dos motivos é demográfico: muçulmanos estão crescendo duas vezes mais rápido que os não muçulmanos. A estimativa é que, em 2030, sejam 2 bilhões e, em 2060, 3 bilhões, ou seja, 30% da população mundial.
Outro fator é o crescimento dos países da Organização para a Cooperação Islâmica (OIC). Com base no último relatório de PIB do FMI, a projeção da taxa de crescimento anual desses países, entre 2020 e 2026, é de 7%. A média global para o mesmo período é de 6,4%.
E como fica o Brasil em meio a tudo isso? Nosso país é um dos protagonistas nesse mercado. Somos o quarto maior exportador para os países da OIC – o volume exportado, em 2020, atingiu a cifra de US$ 16,7 bilhões, gerando divisas importantes para o nosso país.
Vamos exemplificar citando o case do frango Halal: o Brasil é o maior exportador do planeta. De acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal, ABPA, o país exportou 1,915 milhão de toneladas para o mercado islâmico em 2021, quase a metade de toda a exportação brasileira do setor, que chegou a 4,6 milhões de toneladas. E nos primeiros quatro meses de 2022, o volume exportado foi de mais de 623 mil quilos e a receita gerada de pouco mais de US$ 1 bilhão, um aumento de 22% em relação ao mesmo período de 2021.
Por tudo o que expus acima, fica o alerta para os industriais e produtores de alimentos do Brasil: o mercado islâmico já se relaciona com o Brasil há mais de 40 anos e está sempre aberto ao que temos de melhor para oferecer. E para abrir esse caminho, é preciso investir na certificação Halal, um passaporte fundamental para oportunidades crescentes e de extrema importância para a economia brasileira.
A FAMBRAS e FAMBRAS Halal
Fundada em 1979, a Federação das Associações Muçulmanas do Brasil – FAMBRAS é uma referência em se tratando do Islam no Brasil. A FAMBRAS atua nos âmbitos religioso, social, cultural, econômico e diplomático por meio de projetos educacionais, culturais e assistenciais – tanto em benefício dos muçulmanos como de pessoas em situação de vulnerabilidade social. Outra missão é combater o preconceito aos muçulmanos por meio da informação.
O trabalho da Federação conta com o apoio da FAMBRAS Halal – a primeira instituição certificadora Halal do Brasil, em operação desde 1979. A certificadora é líder de mercado e realiza auditorias, abate, inspeção, supervisão de produtos e implantação do Sistema de Garantia Halal junto a indústrias e frigoríficos interessados em comercializar seus produtos especialmente para os países islâmicos. Trata-se de um mercado crescente que, com base no State of the Global Islamic Economy Report 2020/21, deve chegar a US$ 2,4 trilhões até 2024.
*Mohamed Hussein El Zoghbi é presidente da Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (FAMBRAS) e da FAMBRAS Halal, a primeira certificadora Halal do Brasil, em atividade desde 1979.
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