São Paulo – Uma neta de libaneses faz parte do time de arqueólogos e egiptólogos que ajudam a propagar a história do Egito Antigo no Brasil. A brasileira Flavia Haddad ficou por cerca de dez anos estudando egiptologia e arqueologia egípcia em Paris, na França, lugar que é referência em pesquisas na área, e voltou ao Brasil decidida a levar a história do berço da civilização para mais perto dos que têm pouco acesso a ela.
“O Egito, como primeiro estado do nosso planeta, como a primeira civilização da humanidade, com três mil anos, passou por vários períodos, de prosperidade, de invasões, de caos, de guerras internas, e eles nos mostram como superar, através da filosofia deles que era Maat, ordem, justiça e verdade. Maat era uma deusa egípcia e ao mesmo tempo uma filosofia. Através dessa filosofia eles conseguiram criar um império”, diz.
Flavia é autora de um livro de egiptologia, dá cursos livres e palestras na área, prepara grupos de turistas que estão com viagem marcada ao Egito e é uma propagadora do tema por mídias sociais, sites e outros meios de comunicação, com material próprio ou mesmo por entrevistas. O foco e paixão da brasileira é o grande público.
“Quero passar esse conhecimento para pessoas que não vão ter acesso a ele tão cedo”, afirmou para a reportagem da ANBA, relatando os mitos que há no Brasil em volta do assunto Egito Antigo e a pouca literatura atualizada disponível aos leitores. Depois que voltou da França, uma das suas metas era ensinar egiptologia em escolas públicas de forma gratuita, mas a burocracia não permitiu que o projeto fosse adiante.
A egiptologia entrou na vida de Flavia Haddad de forma repentina. Formada em Engenharia Eletrotécnica, ela sempre apreciou a física e a matemática e tinha uma carreira muito bem estabelecida na Autolatina, parceria comercial entre as montadoras Ford e Volkswagen que existiu até 1996 no Brasil, quando decidiu largar tudo para estudar o Egito Antigo. “Eu estava ainda na Autolatina quando apareceu um interesse muito grande sobre o Egito, algo que eu não tenho como explicar”, diz.
Flavia largou tudo e foi para a França, a princípio para ficar seis meses. Mas a volta não ocorreu tão cedo. Já fluente em inglês e italiano, estudou o francês e depois entrou na graduação em Egiptologia na Sorbonne e em Arqueologia Egípcia na École du Louvre, nas quais se formou em 2005 e 2006, respectivamente. Voltou ao Brasil após 11 anos.
Dos anos de estudo, surgiu o seu livro “Shaana, La Fille du Pharaon”, publicado em francês pela editora francesa Arnaud Franel. O livro traz uma época do Egito Antigo que não é muito conhecida, o final do Primeiro Período Intermediário e começo do Médio Império. “É um período em que os faraós estão pobres, é um período em que o Egito está num caos absoluto”, diz. O livro é sobre a vida de uma princesa que se torna rainha do Egito, exatamente na saída desse momento turbulento.
A filha do faraó, Shaana, é uma adolescente e aprende sobre o Egito até ser coroada rainha aos 15 anos. A obra não é ficção, foi baseada nos estudos de Flavia Haddad em Paris, mas não é voltada para egiptólogos e sim para leigos, inclusive o leitor juvenil. Os direitos autorais do livro são da editora francesa, mas Flavia já negociou com ela e está procurando atualmente uma editora para publicá-lo em português, no Brasil.
Foram sete anos de pesquisas e escritos até a publicação da obra, com dedicação diária aos estudos e ao livro. “Para mim há grande paixão no estudo, na montagem desse quebra cabeça que é a história egípcia, ainda não temos esse quebra cabeça montado”, afirma. Além das pesquisas no campo acadêmico e com os hieróglifos, Flavia também passou dois períodos trabalhando com arqueologia no próprio Egito.
A egiptóloga tem participação em outro livro em francês, “Pourquoi J’écris”, no qual 50 escritores francófonos libaneses ou de origem libanesa contam sobre os motivos da sua escrita. A obra foi lançada para comemorar os 100 anos do Salão do Livro de Beirute, no Líbano, e Flávia Haddad foi uma das convidadas a participar do livro.
O Líbano de Flavia
A brasileira é neta de libaneses pelo lado paterno e de italianos pelo lado materno. “Tanto meu lado libanês quanto meu lado italiano são grandes exemplos de superação, de trabalho, de vitórias”, diz. O avô libanês se mudou para o Brasil por causa de uma guerra, trabalhou com comércio e depois foi fazendeiro, cultivou café, cana, gado. “Minha avó era dona de casa, fazia uma coalhada maravilhosa”, conta. O avô materno era médico.
Flavia conta que vai pelo menos uma vez por ano ao Líbano, onde tem laços de parentesco e círculo importante de amizades. “Adoro o Líbano, uma das minhas melhores amigas é libanesa, vou para o Líbano há 20 anos. Toda vez que vou para Paris, vou para Beirute. Já fui para Beirute para comemorar meu aniversário com amigos”, conta ela.
Enquanto está no Brasil, a missão profissional de Flavia se concentra em espalhar a egiptologia. Os seus cursos e palestras abrangem vários temas do Egito Antigo, desde as pirâmides até Ramsés II, Akhenaton, Nefertiti, a medicina e a magia do período. “O Egito é a história misturada com magia, existe todo um mistério nessa civilização que atrai, é o berço da humanidade e inconscientemente somos todos atraídos por ela”, diz.
Flavia escreve no site do consulado do Egito em São Paulo e faz conteúdo para a Rádio Cairo. Algumas das suas palestras são feitas via consulado. As redes sociais (endereços abaixo) também são usadas para levar conhecimento sobre o Egito Antigo pela arqueóloga. A preparação de turistas para viagens ao Egito ela faz tanto via agências quanto em contato direto com grupos e pessoas. Ela está aberta a novas propostas de palestras, cursos e preparação de grupos (contatos abaixo).
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