São Paulo – Um dos países árabes que mais oferecem oportunidades de investimento, e de lucro, é a Arábia Saudita. O país tem aproveitado o superávit orçamentário obtido nos últimos anos para investir em infraestrutura e melhoria da qualidade de vida da população. Mas tem uma cultura de negócios diferente daquela praticada no mundo ocidental, o que exige preparo do empresário. Essas foram algumas características do mercado saudita apresentadas nesta terça-feira (26) durante o seminário “Mercado Foco Arábia Saudita”, em São Paulo. O evento foi promovido pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) com colaboração da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
De acordo com o coordenador de Inteligência Comercial e Competitiva da Apex, Marcos Lélis, as previsões do governo saudita indicam que o Produto Interno Bruto (PIB) do país cresceu 6,7% em 2012 e deverá manter um ritmo forte nos próximos anos. Também em 2012, o superávit primário do país alcançou US$ 16,7 bilhões. Em 2000, a Arábia Saudita tinha a 27ª maior reserva internacional em dólares do mundo. Hoje, com US$ 644,7 bilhões, tem a 3ª, atrás da China e do Japão. O Brasil tem a sexta maior reserva internacional.
Lélis afirmou que o país deverá registrar crescimento pelos próximos quatro anos, o que o torna um destino em potencial de exportações e investimentos. Em sua palestra no seminário, ele observou que o Brasil é um dos principais fornecedores de alimentos do mercado saudita e pode aumentar sua presença, desde que consiga equilibrar as exportações para o país, que ainda variam muito. “Nosso desafio é reduzir esta volatilidade agregando valor à pauta de exportações e melhorando o padrão do que vendemos a eles”, afirmou.
Lélis apresentou dados que mostram que o Brasil é o maior fornecedor de alimentos para os sauditas, mas apenas o 32º maior exportador de produtos de casa e construção, segmento que é liderado pela China. A participação do Brasil nas importações sauditas de alimentos é de 16%. Já nas de casa e construção, é de 0,4%.
CEO da empresa de pesquisa em inteligência comercial Meed Insight, Edward James afirmou que a economia saudita triplicou nos últimos dez anos e que o governo gastou mais dinheiro desde 2010 do que qualquer outro país. Sobre o ambiente de negócios, James citou um estudo do Banco Mundial, que mostra que a Arábia Saudita é o 22º país no ranking em facilidade de fazer negócios e o 66º em transparência. Neste ranking, feito pela organização não governamental Transparência Internacional, o Brasil é o 69º colocado.
Coordenador de Estratégia de Mercado da Apex, Juarez Leal, afirmou que os empresários brasileiros que desejarem investir no mercado saudita precisarão fazer o que poucos fazem: planejamento. Leal acrescentou que a Apex aposta no Oriente Médio e tem ferramentas para quem pretende atuar na região. Por meio do “Pró-mercado árabe”, empresários que pretendem exportar para a região podem assistir a vídeos com depoimentos de especialistas, ter acesso a dados exclusivos sobre o mercado árabe e assessoria da agência. Para isso, precisam entrar em contato com a entidade.
A agência pretende levar empresários brasileiros para ficar cinco dias em Dubai em outubro deste ano para conhecer o mercado local. Neste período, eles terão cursos com professores e empresários da região. “Criamos estas ferramentas para o Oriente Médio porque acreditamos que a relação comercial com a região pode ter bons resultados”, afirmou Leal à ANBA.
Gerente do centro de negócios da Apex no Oriente Médio, Sidney Alves Costa afirmou que o PIB per capita da Arábia Saudita em 2007 era de US$ 20,7 mil e a previsão é que chegue a US$ 33,5 mil em 2020. O PIB do país corresponde a 25% do PIB do Oriente Médio e 20% das reservas mundiais de petróleo estão na Arábia Saudita. Depois do evento, Costa afirmou que a Arábia Saudita é hoje o melhor destino dos investimentos porque é um mercado que está crescendo, se diversificando, promovendo distribuição de renda e aumento do consumo.
Dificuldades
Apesar de todas as oportunidades, os palestrantes do seminário lembraram que não é fácil entrar no mercado saudita. James disse que é difícil obter um visto e que mulheres abaixo dos 30 anos têm mais dificuldades do que os homens em negociar com os empresários locais. Também afirmou que o uso do e-mail não é tão difundido quanto no Ocidente. “Geralmente, eles pedem para enviar fax”, disse. Costa e Leal afirmaram que os sauditas apreciam o contato pessoal e gostam de conhecer o empresário com quem farão negócios.
Dois empresários relataram à plateia sua experiência no país. Dono da construtora Engeprot, Omar Hamaoui abriu sua empresa em Dubai há nove anos e desde 2011 está na Arábia Saudita. Atualmente, a construtora tem 180 mil metros quadrados em obras e Omar prevê construir 500 mil m² no país por ano. Ele afirmou que as grandes obras do governo são feitas por três grandes construtoras. Uma delas, a Bin Laden, emprega 200 mil funcionários.
“As outras empresas são subcontratadas porque os grandes negócios ficam com as gigantes”, disse. Omar também afirmou que é difícil obter visto para trabalhadores estrangeiros e que o controle das obras precisa ser feito por profissionais que estejam no mercado saudita há pelo menos três anos. “Se não fizer isso, certamente o empresário perderá dinheiro”. Ele acrescentou que qualquer orçamento deve considerar o Ramadã, mês em que os muçulmanos trabalham em horários diferenciados por causa do jejum diurno, e os meses de julho e agosto, em que o verão eleva as temperaturas para 50° Celsius. Mesmo com esses desafios, afirma: "Se não valesse a pena, não teria investido lá".
Gerente de contas da fabricante de chocolates Garoto, Alain Wehbe afirmou que o empresário deve saber escolher o parceiro local que irá ajudá-lo a entrar no mercado saudita, investir em marketing e visitar o cliente. “O saudita gosta de experimentar coisas novas e ele vai experimentar o seu produto se você apresentá-lo de uma forma atraente e se mostrar que tem algo de diferente nele. É preciso fazer isso porque dificilmente o brasileiro conseguirá competir em preço com uma empresa que atua na região e que já está estabelecida.”
Diretor-geral da Câmara Árabe, Michel Alaby definiu as oportunidades do mercado saudita como “difícil de entrar, porém, mais difícil ainda de sair”, em referência ao fato de que uma vez estabelecida a empresa terá muitos clientes no país.