Débora Rubin
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São Paulo – Klever Kolberg, 45 anos, é um dos pilotos da equipe de rali Petrobras Lubrax, tem nas costas a experiência de 20 anos no esporte – em 1987, participou pela primeira vez do mais famoso dos ralis, o Paris-Dakar. Ao lado de André Azevedo, piloto da categoria "caminhões", lançou no último mês o livro “Rali – Abrindo os caminhos do Brasil” (Via das Artes, R$ 80). O objetivo do livro, diz Klever, é apresentar o que é o rali para leigos e mostrar como o esporte promove a troca de culturas.
Klever ressalta que o livro também mostra um lado pouco conhecido dos ralis, o da assistência social. “São anos e anos de um trabalho que não é conhecido. Foram centenas de benfeitorias em território africano, de poços e sistemas de irrigação a escolas e hospitais”, conta o piloto da categoria "carros". “E isso é copiado aqui no Brasil, no Rali dos Sertões – o mais famoso daqui”. O piloto conta que uma parte das inscrições do rali é usada para a construção destas benfeitorias.
Por outro lado, as próprias equipes também levam suas doações. E muitas vezes os médicos que acompanham os pilotos fazem atendimentos às comunidades locais. “Esse é o lado mais assistencialista, mas que também é bem vindo nessas localidades”, acredita ele.
Para o piloto, o rali faz com que o mundo abra os olhos para lugares normalmente desconhecidos, abandonados. O Dakar mostrou – e segue mostrando – rincões da África. A prova, que sempre começa na Europa e sempre termina em Dakar, uma das cidades mais povoadas do Senegal. No meio do caminho, há sempre um país árabe como Argélia, Marrocos ou Mauritânia. “Sei que muitos brasileiros ouviram falar da Mauritânia por causa do Paris-Dakar”, diz Klever.
Os países árabes, aliás, formam um cenário perfeito para esse tipo de prova. As áreas desérticas oferecem os desafios suficientes para a aventura. Ontem mesmo (03) foi dada a largada para o Rali dos Faraós, no Egito. Serão 2,6 mil quilômetros, começando pelo trecho que sai do Cairo e vai a Baharija. Entre os dias 24 e 30 de setembro, aconteceu o Rali do Marrocos. Tem ainda o Rali da Tunísia, que acontece no começo do ano. O brasileiro Paulo Nobre está em todas essas provas. No Marrocos, semana passada, ficou em sétimo lugar.
Klever participou do Rali dos Faraós apenas duas vezes. Mas passou pelo Egito em outras ocasiões por causa do Dakar. A lembrança do deserto do país é de um frio insuportável durante as noites. No percurso, lembra de vilarejos muito mais estruturados do que os vistos na Mauritânia no começo deste ano – o Dakar 2007 começou em Lisboa e passou por países como Espanha, Marrocos e Mali.
“Mas não importa onde passemos, sempre atraímos uma multidão de gente que migra para o nosso trajeto para oferecer serviços – pode ser desde o aluguel de uma casa caindo aos pedaços, o que já nos impede de ter que acampar no deserto, até pessoas que se oferecem para vigiar nossos equipamentos”, conta o piloto.
Klever só lamenta não ter mais tempo para conhecer melhor essas pessoas que vão ficando no caminho. “Fazemos uma viagem na qual não escolhemos o roteiro e nem os horários. E mantemos uma média de 150 quilômetros/hora. A parte frustrante é essa: não poder parar para conhecer esses vilarejos, essas pessoas."
Após duas décadas de rali, Klever se concentra para competir apenas nas provas Dakar e dos Sertões. “E em mais algumas provas brasileiras, menores”. Paralelamente, usa sua experiência para dar palestras em empresas. Ele e André dão uma média de 70 palestras por ano. “Além de falarmos sobre o que é o rali, mostramos quanto tempo levamos para planejar a prova, do tempo que a gente investe nisso, e também falamos da importância do trabalho em equipe”, conta. Planejamento que, aliás, já está acontecendo há meses para o Dakar 2008, em janeiro. “São 340 dias de preparo e 20 de execução”, resume o piloto.
O "Rali – Abrindo os Caminhos do Brasil" traz inúmeras fotos da participação da equipe brasileira em outros tantos ralis, como o Paris-Moscou-Pequim e o Rali dos Incas. No início de suas carreiras em provas internacionais, Klever e André competiam na categoria "motos".