Brasília – Durante discurso na abertura da 66ª Assembleia Geral das Organizações das Nações Unidas, a presidente Dilma Rousseff lamentou não ter a Palestina entre os países participantes da reunião. Ao cumprimentar os representantes do Sudão do Sul, país que pela primeira vez participa do encontro multilateral, Dilma lamentou a ausência da nação palestina.
"O Brasil já reconhece o Estado palestino como tal, nas fronteiras de 1967, de forma consistente com as resoluções das Nações Unidas. Assim como a maioria dos países nessa assembleia, acreditamos que é chegado o momento de termos a Palestina aqui representada a pleno título."
A menção de Dilma à Palestina foi aplaudida pelos que participam da reunião. O Brasil já considera oficialmente a existência do Estado Palestino desde dezembro do ano passado, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou uma mensagem de reconhecimento à Autoridade Nacional Palestina (ANP).
O ingresso da ANP na ONU é um dos pontos polêmicos dessa reunião. A proposta a ser encaminhada pelo presidente da ANP, Mahmoud Abbas, tem o apoio da maioria dos países-membros e pede que a ONU reconheça o Estado Palestino nas fronteiras anteriores à Guerra dos Seis Dias, de 1967.
Os governos dos Estados Unidos e de Israel já se manifestaram contra a proposta. O governo de Israel informou que não aceita a exigência da ANP, que quer a divisão da cidade de Jerusalém. Segundo os israelenses, a capital religiosa de Israel é indivisível e não há possibilidade de mudar essa posição.
O governo dos Estados Unidos antecipou que votará contra o pedido de Abbas, pois é favorável à busca por acordo e consenso. O tema deve ser submetido à votação no Conselho de Segurança. Para ser aprovado, o pedido tem de contar com nove votos favoráveis, de um total de 15, mas os norte-americanos têm direito a veto.
Dilma ressaltou que o reconhecimento é primordial para a busca da paz na região. "O reconhecimento é um direito legítimo do povo palestino à soberania e a autodeterminação, amplia a possibilidade de uma paz duradoura no Oriente Médio. Apenas uma Palestina livre e soberana poderá atender aos legítimos anseios de Israel por paz com seus vizinhos, segurança em suas fronteiras e estabilidade política em seu entorno regional."
A convivência pacífica entre judeus e palestinos no Brasil foi dada como exemplo pela presidente Dilma. "Venho de um país onde descendentes de árabes e judeus são compatriotas e convivem em harmonia como deve ser", destacou.
Repressão
Ela ainda se opôs à violenta repressão dos protestos da chamada “Primavera Árabe”. "Repudiamos com veemência as repressões brutais que vitimam populações civis. Estamos convencidos de que, para a comunidade internacional, o recurso da força deve ser sempre a última alternativa", declarou.
Dilma defende uma atuação mais eficaz do Conselho de Segurança da ONU na solução desses conflitos. "É preciso que as nações aqui reunidas encontrem uma forma legítima e eficaz de ajudar as sociedades que clamam por reformas, sem retirar de seus cidadãos a condução do processo. A busca da paz e da segurança no mundo não pode se limitar a intervenções em situações extremas."
A presidente disse que o Brasil é adepto da solução proposta pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que defende a "prevenção de conflitos". "Apoiamos o secretário-geral em seu esforço de engajar as Nações Unidas na prevenção de conflitos por meio do exercício incansável da democracia e da promoção do desenvolvimento", destacou ela.
"O mundo sofre hoje as dolorosas consequências de intervenções que agravaram os conflitos possibilitando a infiltração do terrorismo onde ele não existia, inaugurando novos ciclos de violência, multiplicando números de vítimas civis. Muito se fala sobre a possibilidade de protegê-los, pouco se fala sobre a responsabilidade ao protegê-lo. São conceitos que precisamos amadurecer juntos", ressaltou Dilma.
Ela destacou a característica brasileira de ser uma nação de imigrantes, lar de muitas famílias de origem árabe. "Desde o final de 2010 assistimos a uma sucessão de manifestações populares que se convencionou nominar Primavera Árabe. O Brasil é pátria de adoção de muitos imigrantes daquela parte do mundo. Os brasileiros se solidarizam com a busca de um ideal que não pertence a nenhuma cultura porque é universal: a liberdade."