Isaura Daniel
São Paulo – Os empresários gaúchos querem passar a vender mais jóias e menos pedras preciosas na forma bruta. Eles estão organizando, em conjunto com universidades e associações do estado, a criação de um centro tecnológico para agregar valor à produção local. Mais de 20 órgãos públicos, empresas, cooperativas e sindicatos estão envolvidos no projeto, que é coordenado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia.
"Hoje cerca de 90% das pedras brasileiras são exportadas na forma bruta", diz o consultor encarregado do projeto pelo Ministério, George Diab. O estado do Rio Grande do Sul detém as maiores jazidas brasileiras de ametista, ágata e citrino, três tipos de pedras preciosas. Elas estão espalhadas principalmente pelas cidades de Salto do Jacuí, Quaraí e Ametista do Sul. No município de Guaporé está localizada a produção de folheados e em Soledade e Lajeado a lapidação e distribuição das pedras.
De acordo com o consultor, a intenção é criar três unidades de pesquisa, uma voltada à lapidação, na cidade de Lajeado; outra à produção de artefatos e artesanatos, como cinzeiros e peças ornamentais, em Soledade; e a terceira à fabricação de jóias, em Guaporé.
As três vão estar vinculadas a universidades. A unidade de Lajeado à Universidade Integrada Vale do Taquari de Ensino Superior (Univates); a de Soledade à Universidade de Passo Fundo (UPF); e a de Guaporé à Universidade de Caxias do Sul (UCS).
Por enquanto quem está financiando a pesquisa do projeto é o Fundo de Recursos Minerais, gerido pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. O grupo, porém, solicitou R$ 200 mil ao governo do estado para terminar de desenvolver o projeto e está preparando um pedido de financiamento para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). De acordo com Diab, serão necessários US$ 3 milhões para o investimento inicial e a manutenção das atividades por um período de três anos.
Se os recursos forem liberados no primeiro semestre de 2005, como esperam os organizadores, algumas atividades do centro devem começar ainda no ano que vem. Mas segundo o consultor do Ministério, ele só estará em pleno funcionamento em cerca de três anos. As atividades incluirão desde pesquisa para o melhor uso das matérias-primas, cursos técnicos para repasse de conhecimento e tecnologia aos empresários, até fornecimento de certificações para gemas.
Mais pedras naturais
Um dos objetivos é fazer com que o centro fomente o uso por parte das empresas locais de matéria-prima natural em vez de pedras sintéticas, que dão aos produtos menor valor. Diab explica que o custo da lapidação da ágata, ametista e citrino é hoje muito alto para os produtores porque é artesanal.
"Para pedras mais caras, como água marinha, o custo até vale a pena" explica. Para tornar o processo mais barato, de acordo com o consultor, é preciso utilizar tecnologia de ponta. É justamente isso que o centro vai tentar levar aos produtores.
A intenção é que, com o tempo, a estrutura seja auto-sustentável e os empresários paguem pelo serviço fornecido. Os detalhes do funcionamento e serviços, porém, ainda estão sendo discutidos. No grupo estão várias empresas e três cooperativas de garimpeiros do estado. "Queremos aglutinar esforços e formar uma rede de conhecimento sobre o setor", diz Diab. A Secretaria de Desenvolvimento e Assuntos Internacionais do RS (Sedai) também apóia o projeto.
Existem hoje cerca de 500 empresas de exploração de pedras e joalheria no Rio Grande do Sul. Mas, destas, apenas cerca de 10% exportam. "O centro vai ajudar a melhorar a qualidade do produto e indiretamente beneficiar a exportação", diz Diab.
De acordo com informações do Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos (IBGM), além do Rio Grande do Sul, também há regiões produtoras em São Paulo, Minas Gerais, Ceará e Paraná trabalhando para formar arranjos produtivos locais.
Jóia no exterior
No ano passado, o setor de gemas e metais preciosos faturou US$ 613,9 milhões com exportações, dos quais 7,7% ou US$ 47,6 milhões corresponderam a pedras em bruto. As pedras lapidadas geraram US$ 55,6 milhões e o ouro em barra, fios e chapas US$ 327 milhões. O restante da receita – US$ 183 milhões – veio de produtos como joalheria, folheados e bijuterias.
O Rio Grande do Sul participou com 6% das exportações nacionais. Os gaúchos venderam US$ 40 milhões no mercado internacional em jóias, folheados, pedras em bruto e lapidadas e artefatos de pedras no ano passado. "Um dos objetivos do centro é aumentar a participação do Rio Grande do Sul nas exportações nacionais", diz o consultor técnico que trabalha no projeto pela Univates, Walid El Koury Daoud.
As exportações nacionais do setor caíram 4,2% no ano passado sobre 2002. Os produtos que registraram queda nas vendas externas, porém, foram o ouro, as pedras lapidadas, produtos de metais preciosos voltados para a indústria. As vendas de pedras em bruto, jóias, obras e artefatos de pedras, folheados e bijuteria cresceram.
A meta do IBGM é que o setor exporte US$ 1 bilhão em 2006. No ano passado, o setor faturou US$ 1,5 bilhão, o que significa que 41% da receita das empresas veio do comércio internacional.