Cláudia Abreu
São Paulo – O segundo volume do Livro das mil e uma noites foi lançado no sábado (03), em São Paulo. A publicação, que leva o selo da editora Globo, encerra a tradução do chamado ramo sírio da história da encantadora Sahrazad (pronuncia-se Xarazád), que com suas artimanhas conquista o rei Sahriyar (Xariár) e, desse modo, consegue escapar da morte por mil e uma noites. Os próximos quatro volumes, que completarão a saga, serão traduzidos dos manuscritos egípcios.
O ramo sírio é constituído pelos textos que foram copiados de documentos dos séculos 14 ao 18, encontrados na região árabe-asiática que hoje corresponde aos territórios do Líbano, Síria e Palestina. O primeiro volume, lançado em maio deste ano, trouxe aos leitores as 170 primeiras noites. "O segundo vai da noite 171 até a de número 282, exatamente onde termina o ramo sírio", explica Mamede Mustafa Jarouche, professor de língua e literatura árabe que traduziu a obra para o português.
O segundo livro, diferentemente do primeiro, reúne apenas cinco histórias em 360 páginas. "Os textos são mais extensos, quase não há sub-histórias", conta Jarouche. Outra diferença fica por conta da variedade de acontecimentos no meio das histórias, fato que era menos freqüente nas primeiras 170 noites.
Tradução
Para fazer a tradução do texto para o português, Jarouche pesquisou durante cinco anos manuscritos na Europa e no Oriente Médio. Consultou três volumes do texto árabe da Biblioteca Nacional de Paris. A divisão por ramos – sírio e egípcio -, adotada por ele, teve como objetivo a fidelidade às histórias. "Utilizei o ramo sírio nos primeiros dois livros porque, embora essas histórias estejam, no geral, presentes também no ramo egípcio, os textos do ramo sírio possuem uma redação mais antiga, provavelmente mais fiel à forma primitiva do livro", afirma.
Os próximos quatro volumes, que completarão a série, serão traduzidos do ramo egípcio, mas ainda não têm data prevista de lançamento. "O ramo sírio é incompleto. A partir da 282ª noite, as histórias são encontradas somente nos documentos egípcios. E aí vão até a noite de número 1001", explica Jarouche. Acredita-se que a lenda de Sahrazad surgiu no Iraque, no século 9, de lá foi para a Síria e Egito, por isso as duas versões.
Enredo
A trama árabe, que conquista leitores no ocidente desde o século 18, conta a história de um poderoso rei sassânida, Sahriyar, que descobre a traição de sua mulher e sai pelo mundo numa incansável busca espiritual. Após um período de andanças, ele recebe uma revelação: "ninguém pode controlar as mulheres". A partir de então, decide voltar para o seu reino e casar, a cada noite, com uma mulher diferente e matá-la na manhã seguinte.
Depois da morte de algumas mulheres, surge a astuta Sahrazad, que tira da manga uma estratégia infalível: todas as noites, ela conta histórias ao rei. Até aí, tudo bem. Acontece que a moça pára sempre na melhor parte. O rei, curioso para saber o fim, a mantém viva sempre por mais uma noite. E assim se passam mil e uma noites, até que ela conquista, definitivamente, o coração do Sahriyar.
Além da fidelidade às histórias, a tradução de Jarouche apresenta notas sobre os aspectos lingüísticos e que explicam a comparação entre os vários manuscritos e edições árabes. O texto também é recheado de anexos valiosos, com traduções de passagens do livro que possuem mais de uma versão e que servem de elementos de confronto para o leitor interessado na história da constituição da saga.
Outro diferencial da tradução de Jarouche diz respeito aos nomes árabes. Eles aparecem como realmente devem ser lidos: Sahrazad, por exemplo, surge grafado dentro da convenção internacional: Šahrazad. O objetivo, segundo a editora, foi respeitar o leitor evitando "soluções precárias". O valor sugerido pela editora do segundo volume é R$ 49,00.