Isaura Daniel
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São Paulo – Os preços da soja e do milho, os dois tipos de grãos que o Brasil mais produz, devem continuar elevados no próximo ano e ajudar a trazer mais divisas para o país. O secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Edilson Guimarães, acredita que os dois produtos seguirão com alta demanda no mercado mundial em 2008 e os preços não vão recuar. "O aumento de preços das commodities que houve em 2007 foi uma mudança de patamar, os preços não vão voltar aos níveis do ano passado, devem continuar neste patamar que estão hoje", diz.
A alta cotação da soja ajudou a manter as exportações do setor neste ano. As exportações do complexo soja, que estavam em 38 milhões de toneladas entre janeiro e novembro de 2006, recuaram para 36,9 milhões de toneladas no mesmo período de 2007, queda de 2,7%. Mesmo assim, houve um aumento de receitas de 22,3% nos onze primeiros meses deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. As vendas saíram de US$ 8,8 bilhões para US$ 10,8 bilhões. O preço médio da tonelada da soja em grão exportada pelo Brasil passou de US$ 226 entre novembro e janeiro de 2006 para US$ 281 nos mesmos meses deste ano. O preço médio do grão exportado em novembro, porém, foi ainda maior: US$ 343.
A soja e o milho respondem por 90% da produção de grãos do Brasil. O milho não tem um peso tão grande na balança comercial agrícola brasileira, mas as vendas externas do produto cresceram significativamente em 2007. Passaram de 3,6 milhões de toneladas de janeiro a novembro de 2006 para 10 milhões de toneladas nos mesmos meses de 2007, crescimento de 176,6%. Assim como no caso da soja, o preço alto do milho também fez o aumento das vendas externas em receita ser ainda maior: 307%, de US$ 421 milhões para US$ 1,7 bilhão. O preço da tonelada exportada passou de US$ 116 para US$ 171. "A Europa pagou ágio pelo milho não-transgênico e isso ajudou a aumentar as exportações", diz Guimarães.
Os especialistas do setor acreditam que 2008 será, assim como 2007, um ano bom para a soja e o milho. "Deve ser um ano muito bom para soja, milho e também trigo, com demanda e oferta ajustada. O mercado dos Estados Unidos vai estar muito especulativo porque eles estão com estoques baixos de soja. Vão ter, então, que plantar soja e reduzir as áreas de milho. Aí o mercado fica sensível nestas duas áreas", diz o economista e analista da consultoria Safras & Mercados, Paulo Molinari.
Neste ano, a desvalorização do dólar não permitiu que os produtores brasileiros tivessem aumento significativo de ganho, mesmo com o crescimento do preço da soja e do milho no mercado mundial. A cotação externa das commodities é quem norteia os preços também no mercado brasileiro. Isso, porém, deve ser diferente no ano que vem. "O ano de 2008 deve ser bom porque acredita-se que a taxa de câmbio já tenha atingido o fundo do poço", diz o economista Molinari. "Os produtores brasileiros sentiram pouco este aumento de preço (de 2007) em função do câmbio, mas se o câmbio se estabilizar, eles devem sentir neste ano", diz o secretário de Política Agrícola do Mapa.
O acréscimo de demanda nos países asiáticos e nos produtores de petróleo, aliada à produção de etanol nos Estados Unidos deve manter, em 2008, o mercado mundial de produtos agrícolas aquecidos. E o Brasil continuará sendo um grande fornecedor. "Não há nada que impeça que as exportações continuem crescendo. O mundo continua comprador e o Brasil continua sendo um grande ofertante", afirma Guimarães. "As exportações serão boas, acima dos níveis de 2007 em função da demanda mundial, que deve crescer 4%", diz Molinari. A produção brasileira de grãos deverá ter crescimento de 2,3% na próxima safra para 134,7 milhões de toneladas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
O ano que ficou
O ano de 2007 foi, segundo os especialistas, bom para o agronegócio em geral. "Não foi tão bom para cana e café, em função da redução de preços, mas foi um ano bom para soja, milho, carnes. O boi gordo atingiu preço recorde, o trigo dobrou de preço, a soja se recuperou bem. Em geral 2007 foi um ano de recuperação em relação a 2006, não foi excepcional, mas foi bom", diz o economista da Safras & Mercados. Um dos fatores que prejudicou os produtos neste ano, segundo Molinari, foi o aumento de custos ocasionado pelo crescimento do preço dos fertilizantes. Isso ocorreu devido à cotação elevada do petróleo e conseqüentemente dos insumos químicos usados na fabricação dos fertilizantes.
"O ano de 2007 foi bom, viemos de dois anos ruins, de safras complicadas, problemas de preços, clima, câmbio. Essa safra 2006/2007 foi normal, foi uma safra boa, não tivemos problemas de clima, os preços foram bons no geral, tivemos o problema do câmbio, mas foi um pouco compensado pelo aumento do preço das commodities", diz Guimarães. O Brasi colheu, na safra 2006/2007, 131,7 milhões de toneladas de grãos em uma área de 46, 2 milhões de hectares. As exportações do agronegócio atingiram US$ 53,7 bilhões até novembro, 18,76% maiores do que no mesmo período de 2006.