Cláudia Abreu
São Paulo – Para cada momento da vida, para cada sentimento, os povos árabes têm um conto, uma fábula, uma lenda. As histórias são passadas de geração a geração pelos indispensáveis contadores. Com as obras se aprende sobre as tradições, a vida e, por fim, se sonha acordado. Uma coletânea desses contos pode ser encontrada no livro Contos Árabes, os clássicos, que foi lançado, recentemente, pela editora Ediouro. Os textos foram traduzidos pelos escritores Jamil Almansur Haddad e José Paulo Paes, ambos falecidos.
As histórias do volume são uma aventura deliciosa ao universo místico e mítico dos árabes. São contos de sultões, mercadores, escravos e amores inesperados. Quase sempre com uma boa dose de fantasia, o que cativa ouvintes e leitores ocidentais. A primeira história selecionada é de Gibran Khalil Gibran, um dos maiores poetas modernos do Líbano. Ele abre o capítulo de contistas contemporâneos, seguindo a disposição escolhida pelos autores, que preferiram começar pelos modernos e encerrar com duas histórias do Livro das mil e uma noites.
De Gibran foram selecionados dois contos: A violeta ambiciosa – que conta uma história de uma violeta que, com inveja de uma linda rosa, pede à natureza para "ser rosa por um dia" e descobre que a vida da outra não era tão bela quanto parecia – e Santanás, que fala de uma missão de Simão no norte do Líbano.
Os outros contistas que dividem o capítulo com Gibran são Mohammed al-Mouwailihi, com seu O morto ressuscitado, "que mais se aproxima de um conto filosófico que de um romance moderno", como escrevem os autores, os irmãos egípcios Mohammed e Mahmoud Taymour e Bishr Fares.
A segunda parte do livro traz uma seleção de contos do Magreb – região que compreende Marrocos, Argélia e Tunísia. Quase todas histórias reunidas nessa parte, conforme escreve Haddad, são populares, exceto a primeira, A porta iluminada, que é do marroquino Ahmed Sefrioui.
Os autores explicam, citando o filósofo francês G. Gusdorf, que os contos do Magreb são o exemplo da cultura literária árabe, "que é uma civilização oral, com uma literatura anônima, em que muitas obras não-assinadas pertencem a todo mundo e a ninguém". "Eram histórias contadas nas praças públicas", escrevem na apresentação do volume.
Religão
As lendas religiosas também aparecem no livro. São seis histórias, apenas uma assinada. O autor é Abu al-Jahiz, que viveu em Basra e Bagdá, entre os anos de 776 e 868. Seu conto fala das divergências entre proprietários e locatários e mostra a vasta cultura do autor – preciso e claro nas informações. O texto é escrito, praticamente, em forma de correspondência entre os dois desafetos – locador e locatário.
Haddad e Paes selecionaram, ainda, seis fábulas, quatro delas creditadas a Loqman, o Sábio, um fabulista de vida ignorada por muito tempo. Sua obra só foi traduzida para a Europa em 1615. Os textos são curtos, não ocupam meia página do livro e sempre trazem uma moral, que, ora fala da importância das cidades vizinhas se entenderem ora sobre o desprezo e a presença de parentes indesejados em casa.
As páginas seguintes são divididas em duas partes: As cento e uma noites e Livro das mil e uma noites. O primeiro trata-se de uma série de contos, "mais ou menos da mesma índole" das mil e uma noites. As histórias, também com tendências morais, são originárias da Índia e da Pérsia, evocam viagens, aventuras épicas e amorosas. Segundo Haddad e Paes, datam do século 8.
Para encerrar com chave de ouro a coletânea, que traça uma verdadeira fotografia sobre a evolução dos contos árabes, Paes e Haddad apresentam aos leitores Ali Babá e os quarenta ladrões e A história de Ganem, o escravo do amor. Os textos foram traduzidos do Livro das mil e uma noites, versão do francês Antoine Galland.
Os Contos Árabes, os clássicos, estão nas livrarias do Brasil desde o mês de setembro. O preço sugerido pela editora é R$ 49,90.