São Paulo – Hanna Diab foi um sírio maronita que viveu no século 18. Foi ele quem narrou alguns dos contos mais conhecidos das Mil e Uma Noites ao francês Antoine Galland, que fez a primeira tradução no Ocidente das histórias contadas por Sherazad. Agora, algumas das histórias de viagens do próprio Diab serão abordadas em um debate no dia 25 deste mês, em encontro com Mamed Jarouche, professor de Literatura Árabe na Universidade de São Paulo (USP). O evento irá ocorrer na capital paulista.
O debate faz parte do ciclo "O Estranho e o Estrangeiro" da Cátedra Edward Saïd: Estudos da Contemporaneidade, uma parceria entre a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e o Instituto da Cultura Árabe (Icarabe). Vale lembrar que Jarouche fez a tradução completa das histórias das Mil e Uma Noites diretamente do árabe para o português.
O relato de viagem que será tratado no encontro fala da jornada de ida e volta feita por Diab entre a Síria e a Europa em 1707. Segundo Jarouche, o documento, escrito em árabe dialetal, encontrava-se na Biblioteca Apostólica do Vaticano e foi levado para lá no século 19 por um padre sírio que reunia relatos de cristãos. De acordo com o professor da USP, apenas na década de 1970 é que ele foi encontrado por um pesquisador.
Entre as histórias narradas por Diab a Gallan estão as de Aladim e de Ali Babá. “Ele era um narrador nato. Não é à toa que as histórias fizeram tanto sucesso”, aponta Jarouche. “Contei histórias que eu conhecia, não histórias que eu elaborei”, teria dito Diab a Galland, segundo relato do francês, diz Jarouche.
Sem o registro de Galland, feito no início dos anos 1700, é provável que essas famosas histórias se perdessem. “Essas histórias não sobreviveram por escrito nem no mundo árabe”, afirma Jarouche, lembrando que eram contos de tradições orais, ou seja, que passavam apenas de boca em boca, sem registros escritos.
Apesar da viagem de Diab ter sido em 1707, seu relato foi escrito apenas em 1760. “É um relato que podemos chamar de impressionista”, diz Jarouche, explicando que o documento mostra as impressões do sírio sobre a jornada e que contém algumas imprecisões de datas.
Jarouche conta que Diab iria se tornar padre, mas acabou desistindo. “Ele foi para um mosteiro no Líbano, mas acabou não optando pela vida monástica. Na volta para Alepo, ele conheceu um diplomata que o convidou para ir à França”, diz Jarouche sobre trechos da viagem do narrador.
Perguntado se o relato continha fatos que poderiam ter influenciado na narração das histórias das Mil e Uma Noites, o professor da USP diz que não, mas que Diab era um homem religioso e que acreditava em coisas fantásticas.
Ainda não há previsão de quando o documento será traduzido para a língua portuguesa. No momento, Jarouche e Safa Jubran, professora de árabe na USP, trabalham para fazer a edição em árabe do original.
A palestra do professor é uma das que serão promovidas ao longo deste ano sobre estudos do Oriente Médio como parte da parceria entre a Unifesp e o Icarabe. Em março, Olgária Matos apresentou o pensamento do argelino Jacques Derridá.
Serviço
Ciclo de Debates – "História de um Outro Oriente: as viagens do narrador de Aladim e Ali Babá" – Cátedra Edward Saïd
Dia 25 de abril, das 17h às 19h
Local: Anfiteatro Leitão da Cunha (Unifesp) – Rua Botucatu, 720 – Vila Clementino, São Paulo/SP
Inscrições pelo link http://migre.me/tvFkU
Entrada gratuita