São Paulo – A casa ficava em San Ramón, na Costa Rica, mas dentro dela o universo era libanês. O cardápio era feito de esfihas e todas as delícias da culinária do país árabe, a decoração era de uma típica residência do Líbano, a música ouvida era em árabe e as conversas que Carmen Zaglul tinha com seu avô, Wajib Zaglul, eram sobre a literatura de Gibran Khalil Gibran, o famoso filósofo libanês, e outras referências intelectuais da nação do Oriente Médio.
Esse foi o ambiente em que cresceu a artista plástica Carmen Zaglul, libanesa que mora no Brasil, mas nasceu no país árabe e passou boa parte da sua vida na Costa Rica. Das raízes libanesas vieram algumas das influências para que ela se voltasse para as artes. “Sempre me disseram: teu lado artístico é dele”, contou Carmen à ANBA a respeito do que diziam seus familiares sobre o papel do avô materno na sua inclinação para o mundo artístico.
O senhor Zaglul era comerciante, mas seu sonho era ser filósofo. Não teve oportunidade de estudar. Ele morreu quando Carmen tinha 19 anos. A artista morou no Líbano até os três anos de idade. A guerra levou a família a se mudar para a Costa Rica. A ideia era voltar à terra de origem, mas isso nunca mais foi possível. A mãe de Carmen tinha nascido no país centro-americano porque seus pais migraram para lá em busca de oportunidades econômicas na década de 20.
A mãe da artista voltou ao Líbano adulta e se casou com um libanês até ter que voltar novamente para a Costa Rica, desta vez com a nova família. O pai de Carmen é de sobrenome Abdo, mas como na Costa Rica o sobrenome da mãe vem depois do sobrenome do pai, ela acabou sendo chamada no Brasil de Carmen Zaglul. “Virou Carmen Zaglul”, conta.
Carmen mora em São Paulo há oito anos e fez em novembro a sua primeira exposição como artista plástica em Florianópolis. Chamada de “Estamos em obras”, foi um trabalho conjunto de Carmen e a catarinense Larissa Poeta, com telas feitas a quatro mãos. “Fui uma vez por mês a Florianópolis em 2014”, conta a libanesa sobre o processo com Larissa. O trabalho mostra a afinidade das artistas, vindas de terras tão distantes uma da outra. “Foi tão lúdico, senti que tivemos uma retroalimentação bacana, que instiga a criar mais ser testemunha uma da outra”, diz, sobre a passagem dos sentimentos para a tela.
Carmen se formou em Publicidade na Costa Rica. Depois fez também Letras e então Fotografia. “Mas desde que me entendo por gente, estou desenhando, pintando”, afirma. Segundo ela, a Publicidade nunca a permitiu preencher a necessidade de ser feliz. Assim, ela encontrou na fotografia um meio de expressão artística. Foi uma das primeiras áreas a revelá-la nas artes.
A artista se mudou para o Brasil em função de um convite de trabalho da sua companheira. No Brasil, fez exposições de fotos e foi premiada por trabalhos com edição de fotografia e imagem. A edição de imagem em revistas e livros é um dos focos de atuação de Carmen atualmente. Mas ela privilegia o trabalho voltado para sensibilização de algum tema relacionado ao planeta, como o da água. Carmen também escreve poesias e algumas delas coloca em suas telas ou nos trabalhos de fotografia.
Carmen e Larissa pretendem levar a exposição "Estamos em obras" para outras cidades do Brasil no próximo ano. Em seus trabalhos futuros, a libanesa quer abordar suas origens árabes. “Está rondando minha cabeça, é algo que preciso por para fora”, afirma a artista. Segundo ela, o "ser libanês" é uma das coisas que mais a definem como pessoa.
Contato:
Site: www.carmenzaglul.com
Email: zaglul.carmen@gmail.com