Cairo – A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) reconheceu nesta quarta-feira (10) o prato mais popular do Egito, o koshary, como patrimônio cultural imaterial da humanidade. A Unesco reconhece saberes, tradições e manifestações culturais que são parte da identidade de um povo como patrimônio mundial para que eles sejam protegidos.
O koshary, uma tigela de macarrão, arroz, lentilhas e cebolas fritas, regada com molho picante, é um prato básico da culinária no país mais populoso do mundo árabe. No Egito, em restaurantes de esquina por todo o país essa mistura se acumula em panelas, lado a lado, numa demonstração do sucesso do prato.
Uma turista espanhola chamada Irina disse para a agência de notícias AFP que o reconhecimento da Unesco foi uma ótima decisão. “É uma decisão realmente acertada, porque quando você come koshary, você consegue sentir e saborear o país, toda a mistura de sabores”, disse ela.
Com precisão coreografada, os vendedores servem a comida, concha após concha, em velocidade galopante. Por cima dos principais ingredientes, eles colocam molho de tomate e cebola frita, mas deixam que o cliente tempere a seu gosto com molho extremamente picante e um fio de vinagre com alho.

A forma de fazer essa refeição, que é simples, foi transmitida de diversas formas, variando de região para região no país, ao longo dos séculos. O primeiro registro foi do escritor britânico Richard Burton, em 1866, que o descreveu como um café da manhã de inverno. O prato era feito então só com lentilhas e arroz.
Em meados do século XX, o macarrão foi adicionado à receita para reduzir ainda mais os custos, depois que o preço do arroz disparou, segundo informações dadas pela arqueóloga da área alimentar e arqueobotânica Mennat-Allah El Dorry para a AFP. “A origem exata do prato é desconhecida, mas versões do koshary podem ser encontradas ao longo de toda a rota comercial da Índia ao Egito”, disse El Dorry.
No Egito, o koshary se tornou um prato urbano básico ao longo dos anos enquanto as metrópoles cresciam e os trabalhadores das cidades precisavam de refeições rápidas, baratas e de consistentes. Muitos egípcios preferem o prato preparado em casa, mas é comum a existência de estabelecimentos especializados, desde pequenos carrinhos simples até restaurantes de vários andares como o Koshary Abou Tarek.
Laila Hassaballa, cofundadora da Bellies En-Route, empresa de turismo gastronômico no Cairo, disse à AFP que o prato é um dos destaques entre os visitantes, embora inicialmente eles possam ficar surpresos com a mistura de ingredientes. “Uma viagem ao Egito não está completa sem prová-lo pelo menos uma vez”, falou.
A decisão da Unesco é a mais recente em um cenário de crescente reconhecimento da herança culinária egípcia, que ao longo dos anos ficou em segundo plano em relação a outras culinárias regionais, como a libanesa, segundo El Dorry. “É uma mensagem muito importante de que existe uma culinária egípcia muito, muito, muito rica que não deve ser subestimada”, disse ela.
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