Isaura Daniel
São Paulo – Os países da Liga Árabe tiveram um aumento de 93% no faturamento com exportações para o Brasil no último mês. As vendas passaram de US$ 256,4 milhões em outubro de 2003 para US$ 495,7 milhões no mesmo mês deste ano. O crescimento foi impulsionado principalmente pela comercialização de petróleo. Argélia, Arábia Saudita e Iraque, segundo, terceiro e quarto maiores fornecedores internacionais de petróleo do Brasil respectivamente, são os países árabes que mais aumentaram suas exportações para o país no período.
A Arábia Saudita teve receita de US$ 192 milhões com vendas para o Brasil em outubro deste ano, o dobro dos US$ 95,3 milhões obtidos no mesmo período do ano passado. As importações brasileiras da Argélia cresceram 49%, de US$ 115,7 milhões para US$ 173,4 milhões e as do Iraque ficaram em US$ 80,5 milhões. Em outubro do ano passado o Iraque não exportou para o Brasil e por isso não há base de comparação.
A alta do preço do petróleo pesou no crescimento das vendas, mas também houve aumento de volume importado, de acordo com consultores ouvidos pela ANBA. Tanto que as exportações de países árabes cresceram 35% em outubro em relação ao mês de setembro, quando o preço da commodity já estava subindo. O barril de petróleo WTI começou e terminou o mês de outubro cotado na casa dos US$ 50. Já em setembro, o barril saiu de US$ 44 no início do mês para US$ 50 no final. Apesar disso, o maior pico de alta ocorreu no dia 22 de outubro, quando a cotação foi a US$ 56,17.
As importações brasileiras de petróleo em bruto estão aumentando de maneira geral. Os últimos números disponíveis, referentes ao período de janeiro a setembro deste ano, mostram que o Brasil gastou 77% a mais com compras de petróleo no período. Os US$ 2,7 bilhões gastos com a importação da commodity nos nove primeiros meses de 2003 passaram a US$ 4,8 bilhões no mesmo período deste ano.
Além de queda na produção nacional, também está ocorrendo um aumento no consumo doméstico, de acordo com o diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), Adriano Pires. "Até o final do ano deve haver um aumento de consumo de 4% a 5%", diz. O aumento vem sendo impulsionado pelo aquecimento da economia brasileira. O país deve fechar o ano com Produto Interno Bruto (PIB) 4,6% maior.
Em contrapartida, a produção nacional de petróleo caiu 1,4% até o mês de agosto. Foram produzidos quatro milhões de barris a menos no período. Até o final do ano a produção deverá cair 2%, de acordo com Pires. A queda está relacionada principalmente ao atraso na entrega de equipamentos para exploração e a paralisação de plataformas para manutenção ou problemas operacionais.
Pires afirma que o aumento das compras internacionais de petróleo também tem relação com a nova estratégia da Petrobras de importar petróleo em bruto para refinar no país, ao invés de comprar derivados. Em volume, as importações brasileiras da commodity aumentaram 51,4% até o mês de agosto, em relação ao mesmo período de 2003. Já as importações de derivados caíram 25%.
O analista da Global Invest, Dernizo Caron, lembra que a importação brasileira de petróleo está muito ligada à fabricação de alguns tipos de produto. "O petróleo da região árabe e o russo têm mais qualidade e são mais adequados para a fabricação de alguns polímeros", explica Caron. As compras brasileiras de petróleo da Argélia aumentaram 21,8% até setembro deste ano em comparação ao mesmo período de 2003, as da Arábia Saudita 20% e as do Iraque 8,3%. A Argélia faturou US$ 1,2 bilhão com vendas de petróleo para o Brasil no período, a Arábia Saudita US$ 604 milhões e o Iraque US$ 397 milhões.
Caron diz que os preços da commodity devem se manter no patamar atual de US$ 50 até o final do ano, se não houver nenhuma grande crise internacional ou greve em países petroleiros. Antes do resultado das eleições norte-americanas, o mercado ainda trabalhava com a possibilidade de queda nas cotações, caso o democrata John Kerry vencesse a dispute pela presidência.
O governo do presidente reeleito, George W. Bush, adota a política de manutenção de estoques de petróleo. Todos os dias são retirados do mercado em torno de 100 mil barris de petróleo para estoque pelos Estados Unidos, o que não favorece a diminuição do preço.
Petróleo e sardinha
No acumulado do ano, o petróleo também se refletiu nos números das exportações de países árabes para o Brasil. Houve aumento de 43% nas receitas em comparação com o período de janeiro a outubro de 2003. O Brasil importou US$ 3,3 bilhões do mercado árabe nos dez primeiros meses do ano, contra os US$ 2,3 bilhões do ano passado.
O Marrocos é um dos países que colaborou para este aumento, mas com outra mercadoria. O país africano teve receitas 28% maiores com vendas para o Brasil no período e 91% maiores em outubro, em relação ao mesmo mês de 2003. De acordo com o secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe Brasileira (CCAB), Michel Alaby, o crescimento está relacionado principalmente às compras brasileiras de sardinha para industrialização.
De acordo com Alaby, além de o Brasil estar em período de entressafra na pesca da sardinha, também o consumo está aumentado em função do aquecimento da economia doméstica. As classes que mais consomem o pescado no Brasil são as C e D, que estão se beneficiando da melhora dos índices econômicos do país.