São Paulo – A produção agrícola mundial vai desacelerar nos próximos dez anos em comparação com a última década, de acordo com o relatório Agricultural Outlook 2012-2021 (Perspectivas Agrícolas 2012-2021), divulgado nesta quarta-feira (11) pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) e pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO).
Segundo previsão das duas entidades, a produção vai crescer em média 1,7% ao ano até 2021, ante 2,6% nos últimos 10 anos. A estimativa é preocupante, na medida em que há um cenário de alta volatilidade nos preços dos alimentos no mercado internacional. O levantamento informa que a agricultura precisa crescer 60% nos próximos 40 anos para atender a demanda mundial.
O relatório diz que no ultimo meio século a produção agrícola cresceu, em média, 2,3% ao ano, e que momentos de alta nos preços foram compensados por respostas ainda maiores pelo lado da oferta, o que fez com que os valores reais dos produtos permanecessem em queda durante décadas. Não é o que ocorre agora.
De acordo com o economista sênior da FAO, Merritt Cluff, o mercado mundial passa atualmente pelo mais longo ciclo de aumento de preços dos últimos 40 anos. A pressão vem dos países emergentes, que têm cada vez mais gente com maior poder aquisitivo, ou seja, pessoas que comem mais e melhor. Na América do Norte e na Europa Ocidental, segundo ele, não houve alteração significativa no volume de consumo na última década.
O avanço da produção foi puxado também pelos emergentes nos 10 anos passados, principalmente Brasil, China, Índia e Rússia, os chamados "BRIC". Na próxima década, a oferta das nações em desenvolvimento deve continuar a crescer acima da média mundial, em 1,9% ao ano, mas abaixo da média das décadas passadas. Nesse sentido, estes países cada vez mais vão dominar a área agrícola e o comércio de commodities.
Além da pressão da demanda, outro fator que tem influenciado fortemente os preços dos alimentos é a cotação do petróleo, altamente volátil nos últimos anos. Outros elementos de pressão são o maior custo dos insumos, menos recursos naturais disponíveis, maiores restrições ambientais, além do impacto do aquecimento global. Isso tudo contribui para que a resposta do lado da oferta seja mais lenta.
Embora o ritmo de crescimento da população mundial vá continuar abaixo do da produção de alimentos, os preços vão se manter num patamar elevado na próxima década, segundo o estudo, já que o avanço da demanda inclui mais fatores, como aumento da renda, urbanização, mudanças nos hábitos alimentares e as necessidades crescentes da indústria de biocombustíveis.
O texto informa que o avanço da área plantada deverá ser pequeno, então o aumento da oferta terá de vir de ganhos de produtividade.
Nessa linha, o secretário-geral da OCDE, Angel Gurría, disse que uma produção sustentável e mercados mais abertos são essenciais para garantir a segurança alimentar em escala mundial. Ele recomenda que os governos renunciem a práticas que distorcem o comércio internacional e criem um ambiente favorável para o desenvolvimento de atividades agropecuárias consideradas sustentáveis.
O diretor geral da FAO, José Graziano, acrescentou que "preços reais mais altos para as commodities agrícolas garantem mais incentivos aos produtores e ao desenvolvimento rural". "Especialmente onde os mercados estão abertos, os mecanismos [de formação] de preços funcionam bem e onde os produtores são capazes de dar resposta [à demanda]", declarou. Daí a necessidade de ampliar a produtividade e a sustentabilidade, especialmente em países em desenvolvimento.
Nessa seara, o relatório informa que 25% da área agrícola mundial está "altamente degradada", que a falta de água é um problema sério em vários países, que muitas áreas pesqueiras estão em risco, sem contar a questão das mudanças climáticas.
Nesse sentido, as duas organizações recomendam a adoção de uma série de políticas, como criar um ambiente institucional propício para a atividade, incentivar a pesquisa, investir em infraestrutura e em capacitação da mão de obra, especialmente em relação aos pequenos produtores. Outra prioridade deve ser a redução dos desperdícios. Segundo a FAO, as perdas chegam a de um terço de tudo o que se produz no mundo.