Isaura Daniel
São Paulo – As exportações brasileiras serão favorecidas pela alta dos preços de algumas das principais commodities agrícolas neste ano. Café, açúcar, soja, que são produtos comercializados pelo país no mercado externo, estão na lista dos produtos que devem ter crescimento nas cotações internacionais em 2006. "Há uma tendência de valorização das commodities agrícolas entre 10% e 15%", diz o secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Michel Alaby.
A alta deve ocorrer em função de problemas de safras enfrentados por países produtores e também por causa do aumento da demanda mundial por alimentos, o que tem como base o crescimento das economias. A China deve crescer 9% neste ano, os Estados Unidos cerca de 4%, a América Latina 4,1%, e os países árabes, de acordo com o secretário-geral da Câmara Árabe, ao redor de 7%. "A China será o carro-chefe do crescimento econômico mundial", diz o analista econômico da consultoria GRC Visão, Thiago Davino.
O café e o açúcar já estão com as cotações em crescimento, de acordo com o técnico da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e professor da Universidade Federal do Paraná, Eugênio Stefanelo. No ano passado, Cuba e os países europeus, produtores de açúcar de beterraba, tiveram problemas de produção, o que reduziu os estoques mundiais de açúcar. A entrada em 2006 com estoques menores, aliada à demanda em crescimento, deve impulsionar o aumento dos preços. A estimativa da Organização Internacional do Açúcar é que a demanda deste ano seja dois milhões de toneladas superior à produção.
O café também deve manter a tendência de alta de preços registrada em 2005. As previsões da Organização Internacional do Café indicam produção mundial entre 118 milhões de sacas e 122 milhões de sacas para um consumo de 118 milhões de sacas. O possível saldo, de quatro milhões de sacas, não deve ser suficiente para manter os preços estáveis, já que eles já começam a se influenciar pela safra seguinte, que deve ser menor do que a deste ano em função da cultura ser bianual. O consumo mundial de café cresce cerca de 1,5% ao ano.
Davino explica que as compras de produtos como o café é mais volátil ao crescimento da renda mundial, já que ele não é produto de necessidade básica. "Você pode tirá-lo da cesta", explica. Quando a renda dos países cresce, ele retorna à lista de compras das famílias. "As pessoas tomam café porque gostam", explica.
O drama da soja
A soja também começa a registrar tendência de preços altos em função da seca que as lavouras enfrentam na Argentina e no sul do Brasil. Já começam a ser previstas perdas nas safras dos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. No Paraná a quebra deve ser de 5% e em Santa Catarina de 15%. No Rio Grande do Sul ainda não há previsões. Se ocorrer uma pequena quebra na safra, de acordo com Stefanelo, a produção, em vez de ficar em 58 milhões de toneladas, deve ficar em 54 milhões de toneladas.
"Com isso, é possível que o preço da soja fique um pouco maior do que a média de 2005", afirma Stefanelo. Ainda não é possível saber, porém, se a alta de preços vai compensar as perdas no volume de produção. Em 2005 o preço da soja esteve em cerca de US$ 6 por bushel na Bolsa de Chicago. Em 2006 poderá chegar a US$ 6,5, de acordo com Stefanelo. O Brasil faturou no ano passado US$ 9,8 bilhões com exportações do complexo soja.
Também o trigo deve ter elevação de preços, já que em função dos preços baixos ofertados pelo produto no ano passado, os produtores reduziram a área plantada na Argentina, um dos produtores mundiais da commodity. O trigo deve passar de US$ 120 a tonelada, em 2005, para US$ 150 neste ano. O Brasil, porém, não é um grande exportador de trigo.
Mercado financeiro
O movimento do mercado financeiro é outro ingrediente no aumento dos preços das commodities agrícolas, de acordo com o analista da GRC Visão. Os baixos juros ofertados pelos títulos do tesouro norte-americano, de acordo com Davino, estão fazendo com que os investidores migrem para outros tipos de ativos, como os contratos futuros baseados em commodities agrícolas, fazendo com que os preços se valorizem.
Isso, de acordo com Davino, já ocorreu com os ativos baseados em petróleo, o que colaborou para as últimas elevações dos preços do produto. Apesar de estarem em ciclo de alta, os juros dos Estados Unidos estão em patamar considerado baixo pelo mercado financeiro.
Aumento de receita
O valorização das commodities agrícolas deve dar um ganho de receita às exportações brasileiras, já que grande parte da pauta de produtos que o Brasil vende no exterior são produtos do agronegócio. Em 2005, dos US$ 118 bilhões exportados pelo país, US$ 43,6 bilhões corresponderam ao setor. Michel Alaby afirma que a alta de preços pode inclusive, favorecer as vendas para os árabes, já que eles são grandes compradores de produtos nacionais como café e açúcar.
Stefanelo afirma, porém, que o ganho do país seria maior se o dólar não estivesse tão desvalorizado frente à moeda brasileira. "Os produtores agrícolas recebem em reais. O impacto da alta dos preços das commodities é pequena", afirma. O secretário-geral da Câmara Árabe acredita, porém, que não há motivos para que a taxa de câmbio oscile muito neste ano, e que, portanto, a valorização das commodities que ocorrer de agora em diante, se traduzirá em ganhos. "O dólar não deve passar dos R$ 2,40", afirma.