São Paulo – Os países árabes precisam criar um ambiente econômico propício ao comércio, que permita o desenvolvimento de variáveis fundamentais na região, como a geração de emprego, especialmente entre as mulheres e a população mais jovem. Esta é a visão de Pascal Lamy, diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), sobre a falta de empregos no mundo árabe. Lamy fez um discurso nesta terça-feira (24), em um painel de discussão no Centro Internacional do Comércio, em Doha, no Catar.
"É uma realidade infeliz que os países árabes fiquem atrás da maioria das outras regiões na criação de empregos plenos, produtivos e decentes, especialmente para mulheres e jovens", destacou Lamy. "Há urgência na promoção de empreendedorismo e negócios no mundo árabe. Como em muitos países em desenvolvimento, as pequenas e médias empresas podem ter um papel importante na contribuição da criação de empregos e, consequentemente, de um desenvolvimento amplo", apontou.
Ao ressaltar a importância das pequenas e médias empresas na geração de empregos, Lamy destacou que estes negócios representam 90% das companhias ao redor do mundo, gerando entre 40% e 80% das oportunidades de empregos, além de contribuírem com uma parte significativa do Produto Interno Bruto (PIB), em seus países. Segundo o diretor-geral da OMC, estas empresas ainda enfrentam muitos obstáculos no mundo árabe.
"Abrir as fronteiras, reduzir as barreiras comerciais e tarifárias e aumentar a transparência nos procedimentos de facilitação de comércio, tudo isso dá às pequenas e médias empresas a oportunidade de acessarem novos mercados e se tornarem mais competitivas", afirmou.
Lamy também destacou falhas na integração comercial da região. "No caso dos países árabes, a integração comercial não foi muito longe, apesar dos cortes profundos nas tarifas. Isto se deve, em grande parte, a impedimentos comerciais, incluindo barreiras não-tarifárias que representam grandes obstáculos para explorar as oportunidades oferecidas pelos acordos comerciais existentes".
O diretor-geral da OMC comparou ainda o comércio realizado entre os membros da Liga Árabe em relação ao comércio realizado entre estes países e os outros blocos. "De fato, a participação total do comércio realizado dentro da Liga dos Estados Árabes soma meros 11% e, assim, representa apenas uma fração do comércio que é realizado com os 27 membros da União Europeia".
Lamy lembrou que 27% da população ativa do mundo árabe está desempregada, sendo que 60% destas pessoas são jovens. "É preciso que se tomem medidas urgentes para remover os impedimentos comerciais que afetam o comércio regional. Isto ajudará a liberar o potencial de jovens empreendedores e a criar empregos para um número crescente de jovens altamente capacitados".
Entre as principais medidas a serem tomadas, Lamy destacou a necessidade de o setor privado liderar o processo de crescimento do comércio regional, de os governos fornecerem estrutura para que o setor privado exerça esta liderança e que haja uma participação significativa do comércio nas políticas de desenvolvimento dos países.
"Ver a relação entre comércio e emprego, e institucionalizar isto em seus diálogos nacionais e regionais ajudará a garantir que as duas áreas se apoiem mutuamente", completou.