São Paulo – O sociólogo e doutor em Geografia Humana Demétrio Magnoli é o próximo convidado do Ciclo de Palestras promovido pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira. A apresentação de Magnoli será na terça-feira (18) e terá como um dos temas o papel e os desafios do Brasil no comércio e nos investimentos mundiais.
Em entrevista concedida à ANBA nesta terça-feira (04) Magnoli apresentou alguns dos assuntos que irá abordar em sua palestra e indicou que o Brasil tem desafios a ser enfrentados se não quiser ficar isolado no comércio internacional. Entre os temas estão o papel do Mercosul no mercado internacional, os acordos em negociação entre os Estados Unidos e os países asiáticos (TPP) e entre Estados Unidos e União Europeia (TTIP).
Além disso, ele irá discutir o papel da Organização Mundial do Comércio (OMC) após as negociações da Rodada Doha, que foi criada em 2001 com o objetivo de promover a abertura de mercados de forma que as regras beneficiassem os países em desenvolvimento. Em dezembro do ano passado, a OMC havia chegado a um acordo, por consenso, para manter as negociações. Em outubro deste ano, porém, a Índia afirmou que só aceitaria um acordo para facilitar o comércio se pudesse manter indefinidamente seus subsídios agrícolas, o contrário daquilo que a Rodada Doha prevê.
“Vou tratar, em primeiro lugar, do fracasso da Organização Mundial do Comércio (OMC) em produzir resultados na Rodada Doha. Isso acaba por transformar a OMC apenas em um tribunal de questões do comércio, o que já é alguma coisa. Em segundo lugar, irei falar sobre as iniciativas dos Estados Unidos em negociar dois acordos internacionais de comércio, que são o TPP e o TTIP com os países da Ásia e da União Europeia. Em terceiro lugar irei tratar da integração parcial (no comércio global) da América Latina por meio da Aliança do Pacífico e a transformação do Mercosul em um diretório político que se fecha ao comércio global”, afirma Magnoli. Aliança do Pacífico é o bloco comercial formado por México, Peru, Chile e Colômbia.
Segundo Magnoli, que é colunista dos jornais “Folha de S. Paulo” e “O Globo” e comentarista internacional do “Jornal das Dez”, na rede de TV GloboNews, o Brasil precisa integrar blocos comerciais. No entanto uma visão ideológica do Partido dos Trabalhadores, ao qual pertencem a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2011) prejudica a participação do País nestes blocos. Além disso, o Mercosul, que é uma união aduaneira criada em 1995 por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai e depois integrada também pela Venezuela, se tornou uma plataforma política nos últimos anos. Venezuela e Argentina não querem integrações comerciais e Uruguai e Paraguai já são observadores da Aliança do Pacífico.
“Tem existido um debate para o Brasil avançar nas negociações internacionais sem o Mercosul, no entanto há setores do PT que são contrários”, afirmou Magnoli. Ele observa também que estas negociações ainda contam com um “poder de veto” dentro do PT em um setor que ainda é pouco sensível ao eleitorado. O historiador observou que se o Brasil não participar de blocos comerciais, ele poderá ficar isolado. As principais consequências desse isolamento serão sentidas pelos setores do agronegócio e da indústria, que poderão ser menos competitivos do que aqueles de países que integram blocos econômicos e não pagam taxas.
Magnoli também observou que as trocas comerciais entre o Brasil e os países árabes cresceram a partir do primeiro mandato de Lula até o começo do segundo mandato, no entanto dependem de acordos para evoluir mais, assim como as trocas comerciais do Brasil com qualquer outro país.
“O Brasil buscou um aumento das relações com o Oriente Médio e com a África e conseguiu isso até o começo do segundo mandato do Lula. Só que cresceu a relação proporcional que se tinha com estes países. À medida que sua relação com eles é muito pequena, quando você se aproxima, os números são superlativos. No entanto, em números absolutos, a relação com eles ainda é pequena. Com a primavera árabe houve uma redução nas relações com a região. O Brasil precisa, na verdade, diversificar seus parceiros e fazer acordos, não basta apenas o voluntarismo. Falta a decisão de partir para os acordos, mas isso esbarra na ideologia”, disse.
A palestra de Magnoli integra o Ciclo de Palestras que a Câmara Árabe promove todos os meses. Neste ano, já fizeram apresentações o sociólogo Eduardo Gianneti, a especialista em cidades criativas Ana Carla Fonseca Reis, a historiadora Arlene Clemesha e o economista José Roberto Mendonça de Barros
Serviço
Ciclo de Palestras
Palestra “Brasil, Mercosul e o panorama global do comércio e dos investimentos”
Demétrio Magnoli
18 de novembro de 2014, às 14h
Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Avenida Paulista, 326, Bela Vista, São Paulo-SP, 11º andar.
Informações: +55 11 31474066 ou tmachado@ccab.org.br
Inscrições gratuitas