São Paulo – A cineasta brasileira Betty Martins está organizando a exibição no Brasil do seu documentário “Nem Sempre me Vesti Assim”. O filme trata do uso do véu por mulheres muçulmanas que vivem no Reino Unido, onde a brasileira também morou até um mês atrás. Em trinta minutos, a produção mostra a história de três mulheres que optaram pelo uso do véu. Uma delas é francesa e convertida ao Islamismo.
A cineasta voltou a morar na capital paulista por tempo indeterminado e pretende mostrar seu documentário no Brasil a partir de janeiro. Ela está negociando com instituições culturais onde possa fazer a exibição do filme, seguida de debates.
Martins criou uma metodologia fílmica própria para o trabalho. Em vez de perguntar diretamente por que elas optaram pelo uso do véu, conta a história destas mulheres. “Eu teria circulado o meu discurso apenas”, afirma a brasileira sobre o que teria ocorrido com o uso da indagação direta. “Um dos motivos pelos quais eu fiz o filme foi que eu tinha ouvido falar muito sobre elas, mas nunca eram elas falando”, relata.
A brasileira teve a ideia do documentário enquanto trabalhava para o Museu Britânico, onde ocorreu uma exposição sobre o Hajj, peregrinação realizada à cidade santa de Meca pelos muçulmanos. Ela já tinha ouvido falar bastante sobre as mulheres que usam o véu, inclusive no Brasil, pela mídia, e se perguntava porque elas o utilizavam no Reino Unidos, já que ali eram livres para não utilizá-lo.
Esse cenário combinado ao aparecimento de mulheres muçulmanas fortes, líderes políticas, em canais de tevê, a motivou a estudar o tema. E ela recebeu relatos da experiência de uma amiga que viveu na Palestina. “Comecei a pensar no documentário e achei que era válido.” Foi um ano de trabalho até a conclusão, que ocorreu lá pela metade deste ano. Indagada sobre os motivos do uso do véu destas mulheres, ela afirma que não há uma única resposta. “São mulheres experimentando como qualquer outra”, afirma.
Martins fez questão de que o trabalho fosse acompanhado por vários tipos de especialistas, entre eles muçulmanas feministas e acadêmicos, e de respeitar a realidade doméstica em que cada uma se encontrava para as filmagens e conversas. No Reino Unido, o canal CommunityChannel vai exibir o documentário por três anos e vai distribuí-lo. Também já há distribuidora para América do Norte e a cineasta está fechando com uma distribuidora para o Brasil.
Martins voltou para o País para fazer seu próximo filme. Ela morou em Londres por nove anos. Antes de se mudar para lá, porém, fez Artes Plásticas no Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, e especialização em Filosofia pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop). Em Londres fez especialização em gerenciamento de Artes pela Birbeck University of London e mestrado em Estudos Culturais e da Mídia pela South Bank.
Foi na cidade inglesa que a brasileira criou a sua organização, a D-AEP.org, para levar adiante seus projetos de arte e educação. Com ela, Martins executou vários projetos de arte em escolas do Reino Unido. O mundo dos documentário ela descobriu quando fez um trabalho sobre os imigrantes mexicanos que vivem em Londres para o Museu Britânico, no qual trabalhava. Depois fez outro, para a fundação Wellcome Trust, sobre como os mexicanos comemoram o Dia dos Mortos. O trabalho sobre as muçulmanas é o terceiro filme da brasileira.
Assista abaixo trailler do filme:
http://www.d-aep.org/portfolio/i-wasn%C2%B4t-always-dressed-like-this/