São Paulo – Um grupo de quatro brasileiras está ajudando refugiados sírios a sobreviverem em um acampamento no Líbano. Há quase um ano elas começaram uma campanha chamada Caridade sem Fronteiras para recolher donativos, como alimentos, roupas, cobertores e todo tipo de mantimentos, destinados a 320 sírios que vivem de forma improvisada na cidade de Jib Janine, no Vale do Bekaa, no Leste do território libanês, perto da fronteira com a Síria. Eles fugiram do conflito que já se arrasta há quatro anos em seu país de origem.
As brasileiras moram no Líbano. Renata Grilli, que coordena o trabalho, é jornalista e está no país em função do trabalho do seu marido, que é parte da missão das Forças Armadas do Brasil no Líbano. A pedagoga Márcia Baptista também vive no país árabe em função do trabalho do marido, colega do esposo de Grilli, e Zilda Naves e Lisiane Haddad moram no Líbano há mais de vinte anos. Naves trabalha como guia de turismo e Haddad está à frente de um restaurante próprio que serve comida brasileira em Beirute.
Grilli já fazia trabalho voluntário no Brasil, como parte do projeto Cisne Branco, de ações sociais levadas adiante por mulheres de integrantes da Marinha. Assim que chegou ao país árabe, ela começou a perceber muitos pedintes refugiados sírios, inclusive crianças, nas ruas de Beirute. “Em estado deplorável”, diz ela sobre os pequenos. Foi num dia que viu uma criança praticamente sem vida na rua, para a qual comprou água, que tomou a decisão.
Primeiro a brasileira procurou organizações não-governamentais, mas logo percebeu que não teria como realizar um trabalho que fizesse muita diferença dentro delas. “Eu queria fazer mais”, afirmou Grilli à ANBA. Foi assim que ela começou uma campanha no Facebook para arrecadar doações e resolveu procurar um acampamento onde pudesse fazer o trabalho. “O telefone não parou”, conta ela sobre o começo da campanha. Logo as outras três brasileiras se juntaram à jornalista e muitos brasileiros, moradores do Brasil e Líbano, se mobilizaram.
A escola onde a filha de Grilli estudou, o Instituto Santa Rosa, do estado do Rio de Janeiro, foi uma das primeiras a colaborar, com uma campanha que envolveu doações dos alunos, ao mesmo tempo em que eles foram conhecendo mais sobre o Oriente Médio, em uma junção da caridade com aprendizado. Também outras escolas brasileiras, Aprovado, Our Lady of Mercy School, Imaculada Conceição e Jardim Escola Golfinho Companheiro, participaram, cada uma ao seu modo. Our Lady of Mercy School, por exemplo, enviou livros didáticos em inglês.
Do acampamento as voluntárias fizeram vídeos com os refugiados, enviaram cartinhas, enfim, motivaram os estudantes das escolas para a doação. As escolas também foram – e algumas ainda são – pontos de entrega de donativos de outros brasileiros interessados em colaborar. Com a ajuda da Marinha do Brasil, em fevereiro deste ano chegaram ao Líbano mais de 200 caixas, cerca de 15 metros cúbicos, com mantimentos para os sírios.
As brasileiras chegaram ao campo de refugiados de Jib Janine em uma busca pela região. Elas procuravam um acampamento que não fosse muito grande para que pudesse ser atendido pelo grupo e que não tivesse ainda o apoio das Nações Unidas. Encontraram este, onde do total refugiados, 110 são crianças. A área faz parte de uma fazenda privada, na qual muitos deles trabalham, mas por uma quantia bem baixa, que não dá para sustentar toda a família.
De lá para cá, as brasileiras vão pelo menos uma vez por mês ao acampamento e já presenciaram cenas e ouviram histórias muito tristes. Grilli conta sobre a perna de um menino, que foi queimada pela lamparina e estava toda inflamada. Para resolver a situação, a própria jornalista comprou os remédios necessários. Ela conta também sobre um recém- nascido, que nem bem chegou ao mundo e foi mordido por uma ratazana no chão da barraca.
Cada vez que vão ao acampamento, as brasileiras tentam promover alguma atividade, além das próprias doações que seguem sendo arrecadadas e levadas. Nesta próxima semana, por exemplo, serão doados alimentos para uma celebração do Ramadã, período sagrado muçulmano em que os fieis jejuam durante o dia e fazem ceia pela noite.
Uma das dificuldades do projeto é a logística de juntar e transportar os donativos até o Líbano. A Marinha deve levar uma nova remessa do Brasil em agosto. E Grilli está buscando outras formas de promover as arrecadações para tornar o processo mais prático. Já foi fechada uma parceria com um o Supermercado Brasil, que fica no Líbano, no caminho do campo de refugiados, para que doadores possam comprar cestas básicas pela internet, com pagamento em cartão, e de lá do estabelecimento, então, elas chegarão rapidamente ao acampamento. A operação deve ser lançada em julho, quando o projeto completa um ano.
Em setembro também deverá ser feito um bingo beneficente para lançamento desta segunda etapa, a do Supermercado Brasil. O grupo de brasileiras também lançou, recentemente, uma página no Kickante, uma plataforma de crowfunding, também conhecido como financiamento coletivo, no qual as pessoas podem doar dinheiro para algum projeto com pagamento por boleto ou cartão de crédito. (Veja contato abaixo).
Apesar de relutar em envolver dinheiro na campanha, Grilli resolveu adotar o Kickante em função, principalmente, da necessidade de remédios dos refugiados, o que há dificuldade de transportar como doação. A jornalista conta que no acampamento há muitas grávidas, recém-nascidos, há problemas de piolho, dermatite, desnutrição, entre outros problemas de saúde. Uma das necessidades do campo, aliás, é também de ajuda médica, e o quarteto de brasileiras está tentando encontrar uma solução para o problema.
Serviço:
Campanha Caridade Sem Fronteiras
Arrecadação de donativos e fundos para refugiados sírios no Líbano
Facebook: https://www.facebook.com/caridadesemfronteirasbeirute?fref=ts
Email: rgrilli@uol.com.br (para informação sobre postos de coleta no Brasil)
Doações financeiras: http://www.kickante.com.br/campanhas/caridade-sem-fronteiras-libano