São Paulo – A embaixada da Tunísia e a Aliança Francesa promovem nos dias 30 e 31, em Brasília, as Noites do cinema tunisiano (Soirées du cinema tunisien), com cinco produções recentes do país árabe. “São filmes que falam da revolução, dos valores que ela defendeu, do papel da mulher”, disse o embaixador da nação do Norte da África, Sabri Bachtobji, em visita à Câmara de Comércio Árabe Brasileira, em São Paulo, nesta quinta-feira (26).
Quase todos os filmes foram produzidos após o levante popular de 2011 que pôs fim ao regime de Zine El Abdine Ben Ali, então há mais de 20 anos no poder, e deu início à chamada Primavera Árabe. São duas fitas de ficção e três documentários. “O cinema tunisiano é conhecido por ser um cinema de autor”, destacou o embaixador.
O festival em Brasília ocorrerá menos de duas semanas após o ataque terrorista no Museu do Bardo, em Túnis, que resultou na morte de 23 pessoas, sendo 20 turistas, um agente da brigada antiterrorismo e dois criminosos. Segundo Bachtobji, representações diplomáticas da Tunísia ao redor do mundo se mobilizaram para apoiar ações de divulgação cultural como forma de se contrapor à violência.
“Se os terroristas atacaram o Bardo é porque querem colocar a cultura tunisiana de joelhos, mas o que aconteceu foi o contrário, houve um movimento de solidariedade e de coesão de todo o povo tunisiano”, ressaltou o diplomata. De acordo com ele, formou-se de forma espontânea uma “cadeia de solidariedade” pelo mundo, em vários países, cidades, museus e outras instituições culturais.
Foi criado o slogan de solidariedade Je suis Bardo (Eu sou Bardo), que consta do material de divulgação da mostra de cinema em Brasília. “Nada vai parar a cultura tunisiana, a civilização, é a mensagem que queremos passar ao mundo”, afirmou o embaixador. “A maior arma para o desenvolvimento de um povo é a solidariedade frente a uma ameaça. Tem de haver uma resposta forte, e a melhor é a solidariedade”, acrescentou.
Bachtobji disse que o Museu do Bardo é um símbolo do encontro de civilizações que ocorreu na Tunísia desde a antiguidade. O museu guarda, por exemplo, artefatos da antiga Cartago, do período romano e da civilização muçulmana. O principal destaque é sua grande coleção de mosaicos romanos.
Para o diplomata, os terroristas querem “destruir a civilização” e contra isso é que a sociedade civil se mobiliza. Ele destacou, por exemplo, que o Fórum Social Mundial, que ocorre esta semana em Túnis, conta com uma enorme delegação brasileira. “Isso uma semana após o atentado. Eles foram, não têm medo e mostram sua solidariedade”, declarou. Para domingo (29), está marcada uma grande marcha na capital tunisiana contra a violência militante.
De volta aos filmes, a gestora de cultura, comunicação e marketing da Aliança Francesa em Brasília, Suzzana Magalhães, afirmou que se a mostra for bem sucedida, a ideia é passar a realizar eventos do gênero todos os anos. Geralmente, a instituição promove somente iniciativas culturais de origem francesa.
“A programação costuma ser mais voltada para a França, pois a instituição é um espaço de divulgação da cultura francesa, mas há espaço também para a divulgação da cultura francófona”, declarou ela. As sessões, segundo a gestora, serão gratuitas e abertas ao público em geral, basta ir ao local (leia mais informações abaixo).
O embaixador disse ainda que os filmes deverão ser exibidos também na Semana da África, que vai ocorrer em Brasília em maio. Ele ressaltou que as produções são faladas em árabe, mas têm legendas em francês.
Os filmes
Millefeuille (Mil Folhas, em tradução direta), de Nouri Bouzid, é um longa metragem de 2013, classificado como comédia dramática, que conta a história de duas jovens, Zaineb e Aïcha, que lutam por sua independência e liberdade, e contra imposições religiosas e culturais arcaicas. É uma metáfora para o próprio país, que oscila entre a modernidade e o tradicionalismo.
Les souliers de l’Aïd ou Sabbat El Aïd (Os sapatos do Eid), de Anis Lassoued, é um média metragem de 2012, no qual o garoto Nader corre para cima e para baixo em sua aldeia para entregar massa folheada durante o Ramadã, mês do calendário islâmico em que os fiéis devem jejuar do nascer ao por do sol. Na véspera do feriado que marca o fim do período de jejum (o Eid do nome do filme), seus pais decidem comprar roupas novas para o menino, mas ele está interessado mesmo é em sapatos.
Plus jamais peur (Medo nunca mais), de Mourad Bem Cheikh, é um documentário em longa metragem de 2011 que mostra a cadeia de eventos que culminou na revolução tunisiana a partir de 17 de dezembro de 2010, quando um jovem vendedor de frutas da cidade de Sidi Bouzid se imolou após ter sua mercadoria apreendida pela polícia. A tragédia desencadeou uma onda de protestos que culminou na derrubada de Ben Ali.
Les poupées de sucre de Nabeul (As bonecas de açúcar de Nabeul), de Anis Lassoued, é um documentário em média metragem e é o único dos filmes produzido antes da Primavera Árabe, em 2002. Nele, o diretor relembra sua infância. Todos os anos, no ano novo do calendário islâmico, seu pai dava grandes bonecas para suas irmãs, um galo para o irmão e um leãozinho para ele, feitos de açúcar derretido e colorido. Segundo Bachtobji, trata-se de uma tradição típica de países mediterrâneos.
Militantes é um documentário em longa metragem de Sonia Chamkhi, de 2012, que mostra o clima das primeiras eleições livres da Tunísia e a mobilização das mulheres para participar do processo de democratização do país.
Serviço
Noites do cinema tunisiano
30 de março, segunda-feira
19 horas: Os sapatos do Eid (Les souliers de l’Aïd ou Sabbat El Aïd)
19h40: Millefeuille (Mil Folhas)
21h30: As bonecas de açúcar de Nabeul (Les poupées de sucre de Nabeul)
31 de março, terça-feira
19 horas: Medo nunca mais (Plus jamais peur)
20h20: Militantes
Local: auditório da Aliança Francesa de Brasília, SEPS 708, Lote A, Asa Sul
Tel.: (61) 3262-7600
E-mail: cultural@afbrasilia.org.br
Site: www.afbrasilia.org.br
Entrada franca