São Paulo – No seu quarto ano de vida, o Sudão do Sul dá um dos seus primeiros frutos: um café típico, da variedade robusta, cultivado desde os primeiros dias de sua independência. O projeto é uma parceria entre agricultores locais, a torrefadora suíça Nespresso e a organização não governamental TecnhoServe. O resultado é uma safra do “Suluja ti South Sudan”, nome do café que foi lançado em cápsulas em outubro e será vendido inicialmente apenas na França por causa da pequena quantidade disponível. Segundo a Nespresso, este é um dos primeiros produtos agrícolas exportado pelo Sudão do Sul, que depende muito das receitas do petróleo.
Após anos de guerra e de disputas, o Sudão do Sul se separou do Sudão em um referendo, em julho de 2011. Mesmo após a divisão, os dois países continuaram a combater. Apesar deste desafio, o projeto de produção do café foi iniciado naquele mesmo ano.
A Nespresso começou a desenvolver a cadeia de produção do café com os fazendeiros locais. A companhia investiu 700 mil francos suíços na produção deste café, o equivalente a US$ 696,4 mil, e pretende continuar a atuar no país africano. Lá, prevê aplicar o equivalente a US$ 2,4 milhões no desenvolvimento da cadeia produtora de café até 2020.
Em entrevista concedida à ANBA por email, o diretor da Cadeia de Valor Compartilhado da Nespresso, Daniel Weston, afirmou que o projeto no Sudão do Sul exigiu a criação de uma indústria quase do zero. “A guerra civil no Sudão do Sul resultou na destruição da maior parte da indústria de café, que levou a muitos desafios para ser reconstruída. As árvores tiveram que ser replantadas e leva tempo para preparar a infraestrutura que suporte a comercialização do café. Canais de distribuição, por exemplo, não existem (no Sudão do Sul).”
Weston afirmou que, durante 2014, o projeto precisou ser interrompido em razão de “preocupações com a segurança”. Mesmo assim, quando a iniciativa foi retomada, no fim do ano passado, o estágio de produção estava em níveis “elevados” e havia fazendeiros “ansiosos” para o treinamento. A empresa não revela qual a área plantada nem qual volume foi possível obter nesta safra, mas diz que as fazendas ocupam uma área ampla. Segundo Weston, o Sudão do Sul é o “berço” do café e ainda conserva plantações “selvagens” do fruto.
Os cafés obtidos no Sudão do Sul são da região de Yei, no Sul do País, a cerca de 150 quilômetros da capital, Juba, e próxima das fronteiras com a República Democrática do Congo e com Uganda. O nome “Suluja ti South Sudan” significa “começo do Sudão do Sul” no dialeto das tribos kakwa, que vivem na maior parte das regiões produtoras de café.
Além do produto em si, a empresa Suíça e a ONG TecnhoServe desenvolveram a mão de obra local. A empresa trabalha atualmente com 500 produtores e irá ampliar essa força de trabalho nos próximos anos. A empresa afirma que o país tem potencial para produzir café dos tipos arábica e robusta e que pretende, assim, gerar renda e desenvolvimento aos fazendeiros.