Marina Sarruf
São Paulo – Santa Catarina recebeu imigrantes de diversos países, principalmente da Itália, Alemanha, Portugal e Polônia. No entanto, como nos demais estados brasileiros os árabes também marcam presença no território catarinense. Eles estão no comércio, na indústria, no turismo, na medicina e até na política. Um dos representantes da comunidade é Nagib Daher, de 64 anos, filho de pais libaneses da primeira geração de imigrantes árabes que chegou ao Brasil a partir de 1880.
"A maioria dos libaneses que vieram para o Brasil fugiu da dominação do Império Turco Otomano. Meu pai chegou primeiro na Bahia, depois foi para o Rio de Janeiro e depois veio para Santa Catarina", conta o empresário, que é formado em engenharia e é o vice-presidente da Metalúrgica Duque, de Joinville, principal pólo econômico do estado. Ele é um dos empresários que vai participar, a partir do dia 26, da missão comercial ao Golfo Arábico promovida pela Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc) e pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira.
Chedid Daher, pai de Nagib, começou a trabalhar no Brasil, a exemplo de vários conterrâneos, como mascate. Depois construiu sua própria loja, onde vendia tecidos, armarinhos e confecções. "Meu pai comprava as mercadorias em São Paulo e abastecia todo o estado de Santa Catarina", disse. Nagib não fala árabe, mas adora um quibe cru.
Diferentemente de seu pai, que voltou para o Líbano para se casar, Nagib casou com uma alemã de Santa Catarina. "Hoje ela é adepta a cultura libanesa. Não faz quibe cru, mas sabe fazer uma tabule…", afirma.
A culinária árabe, como em todo o Brasil, também está presente em Santa Catarina. Um dos exemplos é o restaurante Oriente Árabe, em Balneário Camboriú, no litoral catarinense. Inaugurado há três anos e meio pelos sócios Agnaldo Menelli e o filho de libaneses Faissal Abdel Hack, o estabelecimento serve arroz com lentilha, kafta, charutinho de folha de uva, quibe, esfiha e até o tradicional carneiro assado.
"Há três anos poucas pessoas conheciam o quibe cru aqui em Balneário Camboriú, hoje é o prato que mais vende", afirmou Menelli. O Oriente Árabe foi aberto originalmente há 40 anos em Curitiba, no Paraná, cidade natal dos sócios. "Era novidade um restaurante árabe aqui. Na alta temporada atrai muitos turistas, principalmente argentinos", disse ele, lembrando que na Argentina também há muitos descendentes de árabes.
Os catarinenses descendentes de árabes costumam fazer festas típicas, apesar da cultura árabe não ser tão difundida por lá. "Todo dia 6 de dezembro, no meu aniversário, faço uma festa árabe. O pessoal adora a comida árabe", diz Nagib.
Entre os descendentes de árabes está também o ex-governador do estado Esperidião Amin, que este ano disputa a eleição com o atual governador, Luiz Henrique.
De acordo com o empresário Michel Sabbagh Filho, filho de pais libaneses, a cada seis meses clubes e restaurantes de Blumenau, cidade de colonização majoritária alemã, realizam uma noite árabe, com direito a quibe e dançarinas de dança do ventre.
O pai de Sabbagh Filho, Michel Melhem Sabbagh, abriu 1970 abriu uma malharia em Blumenau, a Cristina Malhas, e para não esquecer de suas raízes, utilizou como símbolo da empresa a imagem do Cedro do Líbano, uma árvore que representa a sua origem, seus valores e costumes.
No ano passado, a empresa chegou a exportar para um distribuidor dos Emirados Árabes Unidos, que vendia para outros países árabes. Atualmente, a companhia, que emprega cerca de 600 funcionários e produz 25 mil peças por dia, exporta apenas para os países do Mercosul.
Empresas
Algumas empresas do estado já são bem conhecidas no mundo árabe, principalmente os frigoríficos, como Sadia, Perdigão e Seara que exportam carne de frango, principal produto da pauta de exportação catarinense aos países árabes. Outras empresas como Portobello e Eliane, ambas fabricantes de revestimentos cerâmicos, também já estão presentes na região há alguns anos.
De janeiro a setembro deste, as exportações do estado para os países árabes somaram US$ 133,64 milhões, o que representou uma queda de 19,5% em relação ao mesmo período de 2005. A principais mercadorias embarcadas no período foram carnes, principalmente de frango, revestimentos cerâmicos, acessórios para tubos de ferro, óleo de soja, papel cartão e refrigeradores.
Já as importações catarinenses do mundo árabe somaram US$ 19,43 milhões, um aumento de 103,8% no mesmo período. Os principais produtos importados foram sardinhas, ácidos fosfóricos e superfosfato.