Cidade do Kuwait – Os países que participaram nesta quarta-feira (15) da 2ª Conferência Internacional de Doação Humanitária para a Síria, na Cidade do Kuwait, se comprometeram a doar mais de US$ 2,4 bilhões este ano. “Isso mostra para os sírios que eles não foram abandonados e passa um forte sinal para os países vizinhos [que recebem refugiados] que eles não têm que carregar o fardo sozinho”, disse o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, ao final do encontro.
Na primeira conferência do gênero, realizada há um ano, também no Kuwait, foi oferecido US$ 1,5 bilhão. Ban pediu que os países que anunciaram doações façam os repasses logo, pois a crise aumentou e as necessidades também. Segundo ele, o dinheiro vai servir para agências da ONU e outras entidades de ajuda humanitária suprirem necessidades básicas dos atingidos pela guerra nos próximos seis meses.
A expectativa das Nações Unidas sobre o total que será necessário para o ano todo é de US$ 6,5 bilhões, mas a subsecretária-geral para Assuntos Humanitários da organização, Valerie Amos, ressaltou que as necessidades são revistas a todo o tempo e que número pode ser revisto. “Depende do que vai acontecer [daqui para frente na Síria], se precisarmos vamos pedir mais para os doadores”, declarou.
Ela destacou que a as instituições de ajuda humanitária estão sempre em busca de recursos, não só durante eventos como o desta quarta-feira. “Nós dizemos aos doadores que o valor é relativamente pequeno em comparação ao que é gasto para salvar bancos”, afirmou ela, referindo-se à imensa quantidade de dinheiro que foi utilizada para reerguer o sistema financeiro internacional desde que a crise financeira estourou em 2008.
Nesse sentido, Amos considerou a conferência um “sucesso”. “Mas nós não queremos ter que organizar uma terceira conferência”, disse. Hoje 40% da população síria é afetada pela guerra, são 9,3 milhões de pessoas entre refugiados e deslocados dentro da própria Síria. “Por isso eu acho que um processo político [de negociação da paz] é tão urgente”, acrescentou.
No dia 22 será realizada em Montreux, na Suíça, uma segunda tentativa de se iniciar negociações de paz – a primeira foi em junho de 2012, sem sucesso -, desta vez colocando os lados opostos no conflito frente a frente. Para Ban, a comunidade internacional precisa pressionar as partes envolvidas para iniciar este processo político, criar um governo de transição e parar a violência. “Os sírios querem a paz”, destacou. “[O conflito] está espalhando instabilidade pela região”, acrescentou.
Segundo ele, porém, ainda não está confirmada a participação do Irã, uma das principais peças da geopolítica da região. Há resistência principalmente dos Estados Unidos, mas Ban destacou que a participação do país persa “é importante”. Não está confirmada também a presença da fragmentada coalização de oposição ao regime do presidente sírio, Bashar Al Assad. “O mais importante é acabar com a violência”, ressaltou o secretário-geral da ONU.
Está claro para a ONU e outros participantes da conferência desta quarta-feira que todas as partes envolvidas no conflito são culpadas pela crise humanitária na Síria. De acordo com Amos, é muito difícil levar ajuda para cerca de 2,5 milhões de pessoas dentro do país, sendo que destas, 240 mil estão completamente sitiadas, 40 mil por combatentes opositores e 200 mil pelo próprio governo. O fantasma da fome se abate sobre esta população.
Uma das causas da exportação de instabilidade da Síria para países vizinhos, em especial o Líbano, é o imenso fluxo de refugidos, calculado em 3 milhões de pessoas. “A responsabilidade por receber os refugiados não é só dos vizinhos, mas da comunidade internacional”, disse o alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados, Antonio Guterrez. Ele pediu que países ao redor do mundo facilitem a entrada de sírios que fogem da guerra. “Não adianta abrir uma porta para ver outra fechada, não queremos ver refugiados se afogando no Mediterrâneo”, declarou.
Brasil
Na conferência, o encarregado de negócios da embaixada do Brasil no Kuwait, João Tabajara Júnior, informou que o governo brasileiro vai flexibilizar a emissão de vistos para refugiados sírios.
O diplomata anunciou também que o Brasil vai doar US$ 300 mil para ajuda humanitária aos atingidos pelo conflito este ano. Na conferência de 2013, o país se comprometeu com US$ 250 mil – e não com US$ 500 mil conforme a ANBA informou em reportagem publicada anteriormente -, mas antes já havia repassado três parcelas de US$ 120 mil para o trabalho de assistência do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) em campos na Turquia, Jordânia e Líbano.
Entre as doações anunciadas estão as da Suécia, que se comprometeu com US$ 35 milhões. A Alemanha vai repassar 30 milhões de euros; a Coreia do Sul, US$ 5 milhões, o Japão, US$ 120 milhões; a Irlanda, US$ 16,3 milhões; Luxemburgo, 5 milhões de euros; e Omã, US$ 10 milhões.
O maior doador, porém, foi o próprio país anfitrião, o Kuwait, com US$ 500 milhões. “O Kuwait se tornou um centro humanitário global”, disse Ban, ao agradece o emir do país, Sabah Al Ahmad Al Jaber Al Sabah.
O jornalista viajou a convite do governo do Kuwait