São Paulo – A balança comercial brasileira aprofundou, em fevereiro, o déficit registrado neste começo do ano. De acordo com os dados divulgados nesta segunda-feira (02) pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), em Brasília, o saldo entre exportações e importações ficou negativo em US$ 2,842 bilhões no mês passado. Em janeiro já foram US$ 3,174 bilhões. Um ano antes, em fevereiro de 2014, o déficit havia sido de US$ 2,821 bilhões. Em 2015, o déficit acumulado é de US$ 6,016 bilhões. No mesmo período do ano passado, era de US$ 6,196 bilhões.
Em fevereiro, foram exportados US$ 12,092 bilhões, valor 15,7% inferior ao registrado em fevereiro do ano passado pela média diária, que foi de US$ 671,8 milhões. Já as importações somaram US$ 14,934 bilhões, com média diária de US$ 829,7 milhões, queda de 8,1% em comparação com fevereiro do ano passado.
Segundo o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, o setor já esperava déficit na balança comercial em janeiro e em fevereiro. O desempenho do mês passado, no entanto, foi pior do que o imaginado porque a greve dos caminhoneiros afetou a entrega de produtos nos portos e, por consequência, o embarque. Na primeira semana, por exemplo, foram embarcados por dia, em média, US$ 735,6 milhões. Na última semana, foram US$ 616,8 milhões na média diária. Os caminhoneiros fizeram paralisações e bloqueios em todo o País devido ao aumento dos custos.
“Geralmente, espera-se que as exportações comecem a crescer após o Carnaval, e não foi isso o que ocorreu. Elas caíram”, afirmou Castro. A tendência, agora, é que os produtos que não foram embarcados na última semana de fevereiro entrem nos navios no começo de março. “Em teoria, isso fará crescer as exportações do mês. Mas é teoria, porque cartas de crédito podem não ser prorrogadas em alguns casos”, disse.
A expectativa do setor é que a balança comercial comece a se recuperar em março, período que concentra grandes embarques da safra de grãos, principalmente da soja. A perspectiva é de crescimento nas vendas, impulsionadas por estes envios pelo menos até julho.
No fim do ano passado, a AEB divulgou a previsão de que a balança comercial brasileira encerraria 2015 com superávit de US$ 8,1 bilhões. A previsão está mantida e só será revista em julho, mas Castro afirma que já se podem observar oscilações de cotações fora das previsões anteriores. “Não imaginávamos grande queda no preço do café nem uma redução tão acentuada nas cotações de minério de ferro como estamos vendo. As carnes ainda sustentam as exportações (em valores), mas também tiveram queda”, afirmou Castro.
Vendas e compras em queda
As exportações das três categorias de produtos caíram em fevereiro. As de produtos básicos somaram US$ 4,992 bilhões e foram 22,7% menores, pela média diária, do que em fevereiro do ano passado. As de semimanufaturados atingiram US$ 1,897 bilhão e tiveram redução de 2,3%, e as de manufaturados alcançaram US$ 4,867 bilhões, com retração de 11,1%.
Entre os produtos básicos, as principais reduções foram registradas nas vendas de soja em grãos (-72,7%), minério de ferro (-35,7%), carne bovina (-27,5%), minério de cobre (-18%) e petróleo em bruto (-5,5%). Entre os manufaturados, as vendas de polímeros plásticos foram as que tiveram maior queda: 38,8%. Foram seguidas pelas reduções de motores e geradores (-25,9%), pneumáticos (-25%), máquinas para terraplanagem (-23,8%), açúcar refinado (-19,9%) e calçados (-15,3%). Entre os semimanufaturados, as contrações mais significativas foram nas vendas de açúcar em bruto (-44,6%), ferro-ligas (-17,9%) e ferro fundido (-16%).
Caíram em fevereiro as vendas para todos os destinos, com exceção dos Estados Unidos, para onde os embarques somaram US$ 1,791 bilhão e cresceram 8,9% sobre fevereiro de 2014. As vendas para o Oriente Médio recuaram 6,6% em fevereiro, para US$ 665 milhões. No acumulado do ano, contudo, Estados Unidos e Oriente Médio são os dois únicos destinos para onde as exportações cresceram. No caso das vendas aos norte-americanos, a expansão é de 2,4%, com total de US$ 3,766 bilhões. Para os países do Oriente Médio, o crescimento é de 2,8%, com acumulado de US$ 1,511 bilhão.
Castro atribui a expansão nas vendas aos países árabes a uma venda ou negociação “fortuita”. Já os Estados Unidos, diz, são a “grande esperança” do setor neste ano. Em fevereiro, o ministro do Desenvolvimento, Armando Monteiro Neto, visitou os Estados Unidos.
Já entre as importações, as compras de combustíveis e lubrificantes foram 20,3% menores do que em fevereiro do ano passado. As de bens de capital foram 8% menores, bens de consumo se retraíram em 6,8% e matérias-primas e intermediários tiveram queda de 3%. As compras que o Brasil fez nos países do Oriente Médio caíram 15,7%, em razão do desempenho das exportações de óleos combustíveis, partes e peças de aviões, inseticidas, petróleo em bruto, enxofre e chapas de plástico.