São Paulo – O longa da cineasta síria Soudade Kaadan, ‘O dia em que perdi minha sombra’ (The Day I lost my Shadow), mistura ficção e realidade retratando a vida na Síria em meio ao início da guerra. Para Kaadan, retratar as personagens femininas de uma forma ativa na trama foi natural. “Sempre me baseei na experiência, nas mulheres da minha vida. É como se eu estivesse contando minha história. Sou uma mulher, da minha perspectiva pessoal e de como as mulheres vivem a guerra na Síria, você vê que a protagonista não é uma heroína. Ela é uma mulher normal, simplesmente tentando sobreviver a cada dia”, afirmou ela durante bate-papo online promovido pela Mostra Mundo Árabe de Cinema em Casa nesta quinta-feira (03).
A obra retrata o início da guerra no país e foi filmada no Líbano. “Retratei o início da guerra porque ela não tinha uma escolha naquele momento, quando a guerra iniciou. Ela [a protagonista] fez parte disso”, explicou Kaadan, que venceu o Leão do Futuro no Festival Internacional de Cinema de Veneza de 2018. A diretora explica que nunca esteve em situação de refúgio, e reconhece que isso é um privilégio em relação a outras pessoas de seu país. O fato de ter uma realidade diferente daquela com a qual seu patriotas são quase sempre retratados a impulsionou a buscar uma obra que tivesse um viés diferente e não-documental.
O bate-papo foi mediado por Flávia Guerra, jornalista, documentarista, curadora e crítica de cinema. O encontro virtual também contou com perguntas do público e de Esther Império Hamburger, professora titular do Departamento de Cinema, Televisão e Rádio da Universidade de São Paulo (ECA/USP). “A obra tem referência realista, de ser situada no espaço, mas vem a questão da sombra para abrir uma cunha no real e permitir que o imaginário voe”, destacou Hamburger sobre a metáfora que marca o filme.
O trabalho enfrentou dificuldades para captar investimentos e foi decisiva a participação da irmã de Kaadan, que produziu o filme. “Quando você ganhou o prêmio em Veneza, você comentou que é um projeto muito pessoal de vocês duas”, lembrou Guerra. “Quando comecei, todo mundo só queria saber de um documentário. Ninguém queria investir em ficção. Agora, é importante a forma como expressamos, e a forma como colocamos mulheres fortes neste filme. Como cineastas isso é muito importante. No começo foi muito difícil porque o assunto não estava agradando, mas a minha irmã falou ‘vamos fazer juntas, então’”, contou a diretora.
Para Kaadan, a importância de ocupar lugares centrais em produções como essa se dá na representação. “Um filme independente feito por uma cineasta síria é diferente. Muitos sírios acham que os filmes não os representam. Eu tentei fazer um filme realista para que o meu público local assistisse e se emocionasse também”, concluiu ela.
A programação da Mostra Árabe de Cinema em Casa segue até o dia 13 de setembro. Além dos bate-papos previstos, há exibição de diversos filmes online. A Mostra em Casa é uma realização do Instituto da Cultura Árabe (Icarabe) com correalização do Sesc-SP e patrocínio da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, com apoio do Instituto do Sono e da Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (Fambras).
Serviço
Mostra Mundo Árabe de Cinema em Casa
De 28 de agosto a 13 de setembro
Plataforma da Mostra
Plataforma do Sesc
Grátis