Isaura Daniel, enviada especial
Brasília – Por trás dos líderes árabes e sul-americanos que vão se encontrar nesta terça e quarta-feira em Brasília para a cúpula das duas regiões estarão 34 países que, juntos, representam uma economia de mais de US$ 1,8 trilhão. A cifra é toda a riqueza gerada em um ano pelas nações que farão parte do encontro.
Do lado árabe estão gigantes mundiais do petróleo como Arábia Saudita, Iraque e Emirados Árabes Unidos. Do lado latino, economias de riqueza diversificada como Brasil e Argentina, grandes produtores agrícolas, mas também potentes na fabricação de produtos acabados como calçados e automóveis.
Árabes e sul-americanos, apesar de terem suas atividades econômicas centradas em campos diferentes, têm um potencial econômico parecido. Dos mais de US$ 1,8 trilhão que as duas regiões obtiveram em Produto Interno Bruto (PIB) em 2004, aproximadamente US$ 1,07 correspondem à América do Sul e US$ 817,7 milhões ao mundo árabe.
Enquanto a maioria dos países sul-americanos é importador do petróleo do Oriente Médio, que detém 70% das reservas mundiais, as nações da região são grandes consumidoras dos alimentos da América do Sul. O Oriente Médio importa 90% dos alimentos que consome.
Entre os 12 países sul-americanos, o Brasil é a maior economia, com um PIB de R$ 1,8 trilhão no ano passado, seguido da Argentina. No mundo árabe, a Arábia Saudita está no topo com US$ 240 bilhões. Logo depois vêm Emirados Árabes Unidos, com US$ 90 bilhões, e Argélia com US$ 76,8 bilhões.
Os países que participam da cúpula pela América do Sul são Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela. Os árabes são Emirados Árabes Unidos, Líbano, Arábia Saudita, Omã, Ilhas Comores, Palestina, Egito, Marrocos, Sudão, Argélia, Bahren, Djibuti, Iêmen, Iraque, Jordânia, Kuwait, Líbia, Mauritânia, Catar, Síria, Somália, Tunísia.
Apesar de grande parte da riqueza árabe estar no petróleo, os países árabes estão trabalhando para reduzir a dependência do setor. Os Emirados Árabes Unidos é um dos que lidera essa frente com investimentos, por exemplo, na área agrícola. O turismo também é um setor ascendente na região e que está recebendo uma série de aportes.
Há países árabes que já possuem posição internacional privilegiada fora do setor de petróleo. O Marrocos é o maior fornecedor mundial de sardinha. Posição semelhante ocupa a Tunísia na área de tâmaras. O Egito é reconhecido por ter um dos algodões mais nobres do mundo e por produzir roupas de cama, mesa e banho de luxo.
O Brasil importa tanto as tâmaras quanto a sardinha e produtos de algodão dos países árabes. No ano passado, o Brasil gastou US$ 4,1 bilhões com mercadorias árabes. Grande parte desse valor, porém, ainda corresponde ao petróleo.
O Brasil faturou US$ 4 bilhões com vendas para a região. A pauta é mais diversificada, mas também centrada em outro tipo de produto: os alimentos. Estão no topo das vendas o açúcar e as carnes. Acordos comerciais que estão sendo negociados entre o Mercosul e o Marrocos, o Egito e o Conselho de Cooperação do Golfo (GCC), cujas discussões devem ter continuidade durante a cúpula, poderão aumentar ainda mais o fluxo.
Países do Sul
Os países da América do Sul devem crescer em média 4,7% neste ano de 2005. A previsão é da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), ligada à Organização das Nações Unidas (ONU). A Argentina deve liderar o ranking, com 6%, seguida do Chile, com 5,7%, do Peru e Venezuela, com 5,5%, e do Uruguai, com 5%, e do Brasil com 3%.
A estabilidade inflacionária e econômica é indicada como um dos principais impulsores do crescimento. Também o aumento dos preços do cobre, produzido no Chile, do carvão, extraído na Colômbia, e do petróleo, da Venezuela, do gás, na Bolívia, e dos produtos agrícolas, na Argentina e Brasil, devem fomentar o movimento.
A região também é indicada pela Cepal como uma das mais propícias do mundo para a recepção de investimentos estrangeiros. No ano passado, de acordo com relatório da Comissão, as aplicações de estrangeiros nestes países aumentaram, em média, 44% em relação a 2003.
Brasil
O Brasil possui um forte comércio com os demais países sul-americanos. De todas as exportações brasileiras do ano passado, 16,2% tiveram como destino a América do Sul. As nações da Liga Árabe responderam por 4,2%. E do total importado pelo Brasil, 14,8% veio dos sul-americanos e 6,6% dos árabes.
Cúpula
A reunião de chefes de estado começa na terça-feira, no Hotel Blue Tree. Já amanhã, porém, será a aberto o Encontro Empresarial, que vai reunir homens de negócios das duas regiões até a quarta-feira no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. No encontro haverá seminários e uma feira de investimentos, onde os países vão apresentar o seu potencial. A Câmara de Comércio Árabe Brasileira (CCAB) terá um estande no local.