São Paulo – Há obras pelas cidades, há novas empresas e lojas abertas, há anúncios de empregos e muitos estrangeiros fazendo negócios. Apesar dos preços baixos do petróleo, os Emirados Árabes Unidos vivem uma fase de crescimento e de boas perspectivas. O momento é diferente daquele anterior a 2008, quando parecia que jorrava dinheiro e oportunidades no mercado local, mas é melhor e mais sustentado, segundo especialistas e pessoas que vivem a economia diária.
“O crescimento que assistimos de 2006 a 2008 nunca vai voltar. Na minha opinião o crescimento foi disparado e irrealista. Agora é mais cauteloso, mas com a taxa de crescimento certa, uma CAGR certa versus um crescimento exponencial”, afirmou em entrevista à ANBA o diretor do Glasgow Consulting Group, Vishal Pandey. A CAGR significa Taxa Composta Anual de Crescimento e mostra o retorno de um investimento em determinado período.
O país vem fazendo ajustes em função das cotações baixas que o petróleo enfrenta desde 2014 e se recupera da crise de Dubai, em 2008, quando o emirado teve dificuldade de honrar suas dívidas. Mas os Emirados não deixam de avançar. No ano passado, a economia do país árabe cresceu 2,3%, segundo estimativa do Banco Mundial. Em 2015 e 2014, o Produto Interno Bruto (PIB) teve alta de 3,8% e 3,1%, respectivamente, de acordo com o organismo.
O embaixador do Brasil em Abu Dhabi, Paulo Cesar Meira de Vasconcellos, afirma que a queda do preço do petróleo afeta o país porque é uma fonte importante de receita e que estão sendo feitos cortes de subsídios e programas em função disto, mas ele ressalta que o petróleo representa apenas 30% do PIB e que os Emirados trabalham há algum tempo para diversificar a economia. “É um dos países que mais tem pesquisa com fontes alternativas de energia, eles estão vendo o futuro, fazem um planejamento a longo prazo”, afirma.
O empresário brasileiro do setor de engenharia Omar Hamaoui, que tem empresa estabelecida em Dubai há 13 anos, percebe um momento positivo e de crescimento sólido na economia dos Emirados. Ele destaca projeções de agências econômicas locais e internacionais apontando um crescimento sustentado e contínuo para os próximos anos. “O turismo, a construção e os serviços são os principais pilares da economia de Dubai e estão passando por um crescimento bastante expressivo”. Segundo ele, esse movimento teve força maior no início de 2016 e os novos contratos são indicadores de que se estenderá.
Hamaoui entende que antes da crise de 2008 o mercado estava muito ligado à especulação externa e tinha uma demanda que não era real. “Hoje o mercado está bem mais protegido e buscando cada vez mais criar regras de proteção para empresas e indivíduos, a ação de especuladores é muito menos efetiva, o mercado está mais maduro e protegido, é essencialmente baseado em oferta e procura”, afirma o brasileiro, descendente de árabes. Ele destaca o crescimento populacional do país árabe como um importante impulsor da economia local.
O consultor Vishal afirma que alguns setores foram atingidos com as cotações menores do petróleo nos Emirados, mas outros não, seguiram vida normal. O especialista é positivo sobre o futuro da economia local, em função dos frutos que a Expo 2020 deve trazer para o país e de acontecimentos regionais como a Copa do Mundo no Catar em 2022 e a transformação social, cultural e econômica da Arábia Saudita, com muitas mulheres entrando no mercado de trabalho. Dubai vai sediar a Expo 2020, mostra mundial, daqui três anos.
“Eu vejo bons tempos daqui para frente”, afirma Vishal. Para o consultor, um indicativo do momento positivo que virá é o ramo de consultoria, no qual ele atua com a Glasgow. “Sei que qualquer consultoria com a qual eu falar, eles têm cargas e cargas de trabalho”, afirma. O empresário Hamaoui afirma que além de turismo, construção e serviços, vê boas oportunidades nos Emirados em setores como o de restaurantes, tradings, imobiliário e de varejo.
O brasileiro aponta como fatores que impulsionam essas áreas o fato dos Emirados serem o maior centro de distribuição do hemisfério, com serviços de logísticas extremamente profissionais e desburocratizados, o volume de passageiros que cresce em aeroportos, os novos projetos de turismo, a qualidade dos serviços e a segurança do país. Ele lembra que os Emirados atraem milhares de turistas, têm bom retorno de investimentos (em especial no mercado imobiliário) e Dubai sediará a Expo 2022, que deve atrair 25 milhões de pessoas no período de seis meses.
Em fevereiro deste ano, após uma visita aos Emirados, a diretora executiva do FMI, Christine Lagarde, elogiou a condução da economia do país pelos líderes locais. Ela afirmou que a consolidação orçamentaria local e a implementação de uma vigorosa reforma estrutural vão ajudar a economia dos Emirados a adaptar-se a um ambiente de baixo preço do petróleo, promover a diversificação econômica e aumentar a produtividade.
Documento divulgado pelo organismo no ano passado afirmava que os preços do petróleo pesaram sobre a economia, mas que a reserva de capital construída ao longo dos anos conteve o enfraquecimento maior do apetite de investidores. O petróleo bruto tipo Brent saiu de cotação de mais de US$ 100 o barril no primeiro semestre de 2014 para cerca de US$ 30 em janeiro de 2016. No decorrer do ano passado veio subindo e no mês passado já estava acima de US$ 55.
O organismo lembra que como o setor público é importante fonte de crescimento para o país, também representa riscos em função da sua dívida elevada. O FMI destaca, porém, que as entidades públicas têm gerenciado suas dívidas com medidas como o alongando dos vencimentos, e cita a recuperação dos preços do petróleo e os investimentos para a Expo 2020 como fatores favoráveis à economia dos Emirados Árabes Unidos.