São Paulo – O arquiteto e designer italiano Luciano Deviá ainda não faz negócios com os países árabes, mas quer chegar lá. Recentemente, ele desenvolveu uma técnica de acabamento que faz de espelhos e candelabros mais do que acessórios que basicamente cumprem sua função. Eles podem decorar a casa, o quarto, uma entrada de hotel. “Acho que posso vender para os países árabes porque o design desses produtos se assemelha muito ao tipo de técnica e de desenho que eles valorizam”, diz o designer de 68 anos que mora no Brasil há 33 anos.
A técnica que Deviá desenvolveu consiste em cortar o vidro com jatos de água em alta pressão. Jatos de água são utilizados, na maioria dos casos, para cortar pedras de granito, mármore e blocos de aço. Mas não vidros. Com esta técnica, Deviá descobriu que é possível fazer desenhos nas bordas do espelho. Basta elaborar o desenho, colocá-lo na máquina que controla os jatos de água e cortar a chapa de vidro do espelho de acordo com o projeto.
Já a produção dos candelabros exige que os pedaços de vidro sejam quebrados, polidos e, depois, colados. Tanto os espelhos quanto os candelabros podem assumir o formato que o designer desejar. Poucas empresas, contudo, têm a máquina que corta chapas de vidro com jatos de água. Uma destas companhias é parceira de Deviá, que na quinta-feira (06) visitou a Câmara de Comércio Árabe Brasileira em busca de informações sobre os países árabes e as relações de comércio do Brasil com a região.
Sua relação com espelhos e candelabros não é nova. Ele acredita, sobretudo, que a técnica que ele desenvolveu é uma evolução do seu trabalho.
“Eu já havia desenhado uma coleção de espelhos com um amigo em Turim (cidade do norte da Itália) nos anos 1970. Eram uns espelhos conceituais, com forma e acabamento além do que se espera ver em um espelho. Descobri que poderia usar essa tecnologia em 1995, quando fui curador de uma exposição sobre design italiano aqui no Brasil. Há três anos tive ideia de fazer algo relacionado com o vidro”, diz o designer.
Deviá faz trabalhos de madeira e projetos para empresas. Uma de suas peças, um bufê chamado Copin, é inspirado no edifício Copan, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer no Centro de São Paulo. É vendido por R$ 12 mil em uma loja em São Paulo. Muitos de seus móveis são produzidos por madeireiras na Amazônia. Deviá também já projetou chuveiros e até estandes de feiras. Agora, quer fazer sucesso com espelhos no mundo árabe.
“O espelho incentiva a nossa imaginação, ele permite diversas interpretações. Existe um pouco disso na literatura árabe, na história do ‘Livro das Mil e Uma Noites’. Existe um pouco de sonho, de histórias com detalhes luxuosos. Também é parte da cultura dos países árabes a tradição da marchetaria [uma técnica de decorar móveis e painéis] e do uso do mosaico”, diz Deviá.
O designer ainda não vendeu os objetos que criou e não tem um preço determinado para os espelhos nem para os candelabros. Acredita, contudo, que os valores devem variar entre R$ 1 mil e R$ 5 mil dependendo do tamanho, do acabamento e do tipo de desenho. “Estas peças têm um desenho contemporâneo porque são produto de uma tecnologia contemporânea. Há 20 anos, acho que elas não seriam possíveis”, diz.