São Paulo – O nome dela é BRS Aleppo, uma referência e uma homenagem a uma das maiores cidades da Síria. A origem dos materiais de ensaio a partir dos quais ela foi desenvolvida também é o país árabe. Trata-se de uma semente de grão-de-bico que a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) vai colocar no mercado nacional, com o objetivo de fomentar a produção brasileira, eliminar a necessidade de importação e, no futuro, gerar excedente para exportar.
O Brasil comprou no exterior sete mil toneladas de grão-de-bico no ano passado, volume correspondentes a cerca de US$ 8 milhões em gastos. A possibilidade de gerar essa renda no próprio País fez com que a Embrapa fosse atrás de viabilizar a produção nacional. A instituição já fazia trabalhos na área, mas há cerca de oito anos o pesquisador da Embrapa Hortaliças, Warley Marcos Nascimento, colocou em pé um projeto voltado para recursos genéticos e melhoramento de hortaliças leguminosas como ervilha, grão-de-bico e lentilha.
Por meio do projeto, Nascimento esteve em 2010 no Centro Internacional de Pesquisa Agrícola em Áreas Secas (Icarda, na sigla em inglês), que é mantido por organismo do Banco Mundial e trabalha com grão-de-bico. A sede principal ficava em Aleppo, na Síria, mas foi transferida para o Líbano em função da guerra civil síria. "Fui lá para aprender um pouco", afirma, sobre a busca pela experiência e conhecimento junto ao Icarda a respeito do alimento. Apesar de produzido em muitos países, o grão-de-bico não tinha uma tecnologia e cultivar adequada às condições tropicais como as do Brasil.
No Icarda, o pesquisador selecionou três ensaios com grão-de-bico para levar ao Brasil: um com o produto mais tolerante à seca, outro de grãos maiores e outro com tolerância a doenças de solo. A BRS Aleppo foi desenvolvida a partir desse último, que mostrou melhor resultado em produtividade, resistência a fungos de solo e qualidade do grão, após cerca de cinco anos de avaliações. De acordo com Nascimento, ela se mostrou totalmente adequada ao Cerrado, com produtividade entre três a quatro vezes maior do que a média mundial: 3.048 quilos por hectare.
O pesquisador conta que a Embrapa trabalha gerando informações para cultivo do grão-de-bico no Brasil, mas faltavam cultivares adaptadas. Os testes mostraram que a BRS Aleppo se desenvolve bem em regiões mais secas e altas. A semente apresentou bons resultados em lavouras no Norte de Minas Gerais, no município de Cristalina em Goiás, e no Distrito Federal, com plantio nos meses de abril e maio, menos quentes nestas regiões.
Atualmente as sementes estão sendo multiplicadas e devem ser disponibilizadas para produtores de sementes a partir deste mês, de acordo com Nascimento. Para vendas ao agricultor, a previsão é que estejam prontas em 2018. O pesquisador da Embrapa acredita que são necessários entre três a cinco anos para que haja excedentes para exportar. Há conversas com empresas indianas para levar o grão-de-bico ao mercado de lá, segundo ele.
Mas o pesquisador acredita que ainda há um trabalho a ser desenvolvido no Brasil, com mais geração de dados de pesquisa, divulgação do grão-de-bico entre consumidores, convencimento do produtor sobre o plantio e comercialização de agrotóxicos para o seu cultivo. Como não havia produção, as empresas também não desenvolveram produtos para ele.
Entre as vantagens do grão-de-bico para o produtor, Nascimento cita o fato de não ser atacado pela mosca branca, como acontece com o feijão, que é plantado na mesma época. Ele lembra também que o grão-de-bico é vendido nos supermercados pelo dobro do preço do feijão. Isso levando em conta os valores atuais mais altos do feijão.
O preço maior torna o grão-de-bico interessante para a produção, mas, por outro lado, pode afastar o consumidor. No entanto, um cultivo e oferta interna maiores podem diminuir os valores cobrados. No Brasil, o produto é consumido principalmente como salada e como ingrediente de comidas árabes como falafel e homus.
O grão-de-bico é uma espécie de domínio público e por isso não há pagamento de royaltes mesmo a pesquisa tendo partido de material vindo de outro país. O Icarda trabalha em cooperação com vários institutos ao redor do mundo, como a Embrapa, e tem como um dos objetivos justamente ajudar a desenvolver a produção de alimentos em países em desenvolvimento.