Lana Cristina, da Agência Brasil*
Brasília – O Brasil poderá ter uma saída para o escoamento de produtos via Oceano Pacífico em, no máximo, cinco anos, com a construção de quatro usinas hidrelétricas ao longo do rio Madeira, na região norte do país. Os reservatórios das usinas vão criar uma malha hidroviária num perímetro de 4,2 mil quilômetros entre o Brasil e a Bolívia.
As empresas Furnas Centrais Elétricas e Norberto Odebrecht apresentaram, nesta quarta-feira (08), à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) o estudo de viabilidade da usina de Jirau, que será construída a 130 quilômetros de Porto Velho, capital de Rondônia, e entregam ainda este mês o estudo de viabilidade da usina de Santo Antônio, que será instalada a seis quilômetros da mesma cidade.
Com a criação da malha hidroviária, a produção de soja do Centro-Oeste, por exemplo, poderia ser escoada pelo Peru, vizinho a oeste da Bolívia, já que a Bolívia em si não tem acesso ao mar.
"Isso daria uma economia de 3,5 mil milhas náuticas, correspondentes à volta que se dá para escoar a produção de soja para o mercado asiático, que sai pelos portos de Santos ou Paranaguá, em geral, e vai pela Terra do Fogo ao Sul ou pelo Canal do Panamá, ao Norte do país", disse o engenheiro da Superintendência de Empreendimentos de Geração de Furnas, Marcio Arantes.
Outro benefício da malha hidroviária, conforme analisou José Bonifácio Pinto Júnior, diretor de contratos da Odebrecht, é o desafogamento da malha rodoviária no Sudeste, Centro-Oeste e Sul do país, por onde passa grande parte da produção industrial e agrícola exportada pelo Brasil.
Juntas, Jirau e Santo Antônio terão potencial para produzir 6,3 mil megawatts de energia elétrica, o suficiente para tirar Rondônia e o estado do Acre da dependência da energia térmica. A matriz energética nos dois estados é, majoritariamente, o diesel, mais caro e poluente. "Isso corresponde a, pelo menos, 8% da capacidade instalada no Brasil, que é de 80 mil MW", explicou Arantes.
Os estudos de impacto ambiental (EIA/RIMA) e a avaliação estratégica de desenvolvimento das duas usinas estão em andamento e o EIA/RIMA será entregue em março ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Com isso, a previsão para o início das obras é junho de 2006.
"Jirau começa a gerar energia com três anos e meio de obra e Santo Antônio depois de quatro anos e meio", afirmou Arantes. As obras devem durar de oito a dez anos.
Furnas e a construtora Odebrecht esperam a autorização para começar os estudos de inventário e de viabilidade das outras duas usinas que farão parte do complexo no rio Madeira. Uma delas será a segunda usina binacional com a participação do Brasil. A outra é Itaipu, a maior hidrelétrica do mundo, que pertence aos governos do Brasil e do Paraguai. A obra está previamente programada para o município de Guajará Mirim, em Rondônia, na fronteira com a Bolívia.
A outra usina será construída em território boliviano, em Cachuera Esperanza. Estudos indicam que a usina Guajará poderá gerar 3000 MW e a usina boliviana algo em torno de 600 MW.
Rodovia
Para viabilizar uma saída para o Pacífico, mas por via terrestre, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu colega peruano, Alejandro Toledo, assinaram em Cuzco, no Peru, um contrato complementar para a construção da Rodovia Interoceânica, que ligará Inãpari, na fronteira do Peru com o Acre, aos portos peruanos de Ilo e Matarani, no Pacífico. A rodovia está orçada em US$ 700 milhões. Os dois países vão financiar a obra.
"A decisão do Brasil e do Peru de construírem em parceria uma rodovia é um fator crucial de impulso aos fluxos comerciais", disse Lula nesta quarta-feira, ao discursar na cerimônia de encerramento da 3ª Reunião de Presidentes da América do Sul.
*Com Ana Paula Marra da Agência Brasil