São Paulo – Os preços de alimentos têm aumentado no Brasil ao longo do primeiro ano desde que a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou a pandemia global do coronavírus. Mas não foi apenas em solo brasileiro que a inflação pressionou os gastos das famílias com alimentação. Segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), pelos menos outros três países árabes também têm sido afetados pela alta nos preços de comida e bebida. Na foto acima, consumidores em um supermercado no Líbano.
A Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia) explicou que os preços das principais commodities agrícolas, negociados em bolsas de valores globais, afetaram os custos dos alimentos. “[Com a pandemia] Houve uma fortíssima demanda global por alimentos e isso não cessou. Então, por exemplo, as commodities agrícolas, arroz, soja, milho, subiram no ano passado. Em um pequeno prazo não vemos tendência disso arrefecer”, disse à ANBA João Dornellas, presidente executivo da Abia, em entrevista coletiva no último mês.
Além disso, Dornellas ponderou que os materiais de embalagem dos alimentos também tiveram aumento, repassado ao consumidor. No Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou na última semana uma leve desaceleração na inflação dos alimentos. Em fevereiro, o preço do grupo alimentação e bebidas subiu 0,27%. Apesar de continuar em alta, o número foi menor do que em janeiro. “Essa desaceleração na passagem de janeiro para fevereiro é explicada principalmente por alguns itens que haviam subido bastante ao longo do ano passado, como o óleo de soja e o arroz. Por outro lado, as carnes tinham tido uma ligeira deflação em janeiro, com queda de 0,08%, e agora voltaram a subir”, disse em nota o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov.
Já o Índice Nacional de Preços ao Consumidor de fevereiro teve alta de 0,82%, acima da taxa de janeiro, quando havia registrado 0,27%. Esse é o maior resultado para um mês de fevereiro desde 2016, quando o índice foi de 0,95%. Os produtos alimentícios subiram 0,17% em fevereiro enquanto, no mês anterior, haviam registrado 1,01%.
A FAO avaliou que a desvalorização do real chegou a 25% no mês passado em relação a fevereiro de 2020. Em nota, a instituição disse que o movimento afetou principalmente o valor dos cereais. Outro fator foi a demanda externa, que elevou as exportações de milho e dificultou as importações brasileiras de trigo. “Como importador líquido de trigo, a desvalorização da moeda local tornou as importações mais caras, mantendo os preços em média 55% acima dos níveis do ano anterior. Em contraste, os preços do arroz caíram pelo segundo mês consecutivo, uma vez que a colheita em curso melhorou o abastecimento do mercado”, diz o texto.
Árabes
Já entre os países árabes, a FAO destacou que o Sudão e o Iêmen têm, além do enfrentamento à pandemia, outras barreiras que têm elevado o valor dos alimentos. Os dois países têm sido impactados por conflitos e inundações nos últimos meses. No Sudão, a instituição apontou que os alimentos básicos foram os que tiveram maior alta em fevereiro. Entre os motivos estão a desvalorização da moeda local, escassez de combustível e altos preços dos insumos agrícolas que, por sua vez, inflacionam os custos de produção e transporte. A FAO também apontou as restrições nas atividades comerciais para barrar a pandemia como ponto sensível para o mercado sudanês.
Impactado também por uma crise econômica e política, no Líbano, os últimos dados disponíveis apontaram problemas nos alimentos. Em outubro de 2020, a inflação geral anual do país atingiu 137%, enquanto a inflação dos preços dos alimentos ultrapassou um aumento anual de 440%. De acordo com a FAO, um dos principais problemas é a desvalorização da moeda, o que torna as importações mais caras.
Outro lado
Na contramão do vem ocorrendo em outros países, o Egito teve sua taxa de inflação mais baixa em mais de uma década. Segundo o site do jornal saudita Arab News, a taxa de inflação da nação foi de 5% em 2020, número mais baixo dos últimos 15 anos. O dado é de um relatório do gabinete do governo egípcio, que destacou as iniciativas para conter os efeitos econômicos da pandemia do coronavírus, como o controle sobre os preços dos alimentos, como ações que ajudaram a reduzir a taxa de inflação.