Alexandre Rocha
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São Paulo – O ingresso de investimentos estrangeiros diretos (IED) está aumentando fortemente no Brasil, tanto que os recursos que entraram até agosto de 2007 já superaram o total de 2006. Mas a coisa não pára por aí, a tendência é de que o crescimento do fluxo se acelere ainda mais nos próximo anos, segundo disse à ANBA o presidente da Sociedade Brasileira de Estudos Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Luís Afonso Lima.
"Esse não é um privilégio só nosso, o fluxo global de investimentos tem crescido muito desde 2003, e este ano deverá atingir um nível recorde, maior do que o de 2000, que foi de US$ 1,4 trilhão", disse Lima.
Mas o Brasil tem um diferencial. Segundo pesquisa divulgada na semana passada pela Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad), o Brasil é considerado o quinto país mais atrativo para empresas multinacionais para o aporte de recursos no período de 2007 a 2009.
Na avaliação de Lima, a opção pelo país, que está atrás apenas de Índia, China, Estados Unidos e Rússia no ranking da pesquisa, pode ser explicada por três fatores. Um deles é a própria tendência mundial de aumento do fluxo, mas o principal é iminência do país conseguir o chamado "grau de investimento", concedido pelas agências internacionais de rating aos países mais seguros para os investimentos.
Para a Sobeet, isso deve ocorrer até meados de 2009, que é considerada uma previsão conservadora. Alguns analistas acreditam que o Brasil poderá subir de nível já no ano que vem. "Historicamente, em outros países que atingiram o grau de investimento, houve uma ampliação do fluxo de investimentos ates e depois que isso ocorreu", afirmou Lima.
Segundo ele, o crescimento da entrada de capitais nestes países foi em média de 45% nos dois anos antes da concessão do grau de investimento e, posteriormente, a aceleração foi ainda maior. De janeiro a agosto, a entrada deste tipo de recurso no Brasil chegou a US$ 26,5 bilhões, de acordo com o Banco Central, mais do que os US$ 18,8 bilhões que ingressaram no ano passado inteiro.
A conquista do grau de investimento mostra que o país melhorou seu quadro externo, diminuindo sua vulnerabilidade, o que pode ser observado no aumento considerável das reservas internacionais e na redução drástica da dívida indexada a moedas estrangeiras.
Para Lima, no curto prazo o segmento que mais deve despertar o interesse das multinacionais continuará a ser a indústria, especialmente a química e a metalúrgica. "Mas este perfil tende a mudar pouco a pouco para novas cadeias produtivas", disse. Como exemplo, ele citou os ramos de agroenergia e serviços.
Sul-sul
Mudança de perfil pode ser observada também na origem dos recursos. Empresas de países emergentes têm cada vez mais ocupado espaço no fluxo mundial de IED. Embora as companhias de nações desenvolvidas ainda predominem, de acordo com a Sobeet a participação dos países em desenvolvimento como origem de capitais era de 5,9% em 1990, mas já chegou a 20,5% segundo os últimos dados disponíveis.
No caso do Brasil, a presença de investimentos de países emergentes era de 1% em 2001 e chegou a 10% do total em 2006, de acordo com a Sobeet. As empresas brasileiras também têm ampliado muito sua presença no exterior. No ano passado, os investimentos diretos brasileiros lá fora chegaram a US$ 28,2 milhões, mais do que os ingressos.
Na avaliação de Lima, a diversificação das origens dos recursos é outro fator que favorece o Brasil, pois torna o país menos dependente de poucos investidores. Além disso, segundo ele, os aportes realizados por companhias de nações emergentes são bastante pulverizados.
A opção por negócios em países emergentes pode ser explicada também, segundo o analista, pela saturação de mercados como os dos Estados Unidos e da União Européia, onde a disputa das empresas acaba sendo por "market share". Ou seja, é preciso deslocar o concorrente. Nas nações em desenvolvimento os mercados têm mais espaço para crescer.
A pesquisa divulgada pela Unctad informa que até 2009 nos países em desenvolvimento deverão predominar os novos investimentos, chamados de "greenfield", enquanto que nas nações desenvolvidas o fluxo será impulsionado por fusões e aquisições. Para Lima, porém, esta lógica não se aplica ao Brasil, onde as fusões e aquisições também têm prevalecido.