São Paulo – A população jovem do mundo árabe é o principal público a ser buscado pelas empresas que querem ter destaque no mercado consumidor daqueles países. Quase 69% dos habitantes do Oriente Médio e do Norte da África estão abaixo dos 34 anos e é esta faixa da população que exerce maior poder de decisão na escolha de produtos e marcas.
Estes foram alguns dos principais pontos abordados na palestra A Oportunidade do Mercado Árabe e o Novo Consumidor, ministrada por Rubens Hannun, vice-presidente de Comércio Exterior da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, nesta quarta-feira (24), na capital paulista.
“Essa população é que vai fazer negócios, que vai consumir e determinar comportamentos”, destacou Hannun no evento. O executivo acrescentou que o mundo árabe tem 361,2 milhões de habitantes, o que representa 5% do total da população mundial, e que há tendência de aumento. “Lá, a população está crescendo, enquanto em outros países ela está estagnada ou em decréscimo”, disse.
Hannun apresentou ainda os resultados da sétima “Arab Youth Survey”, pesquisa feita anualmente pela agência ASDA’A Burson Marsteller. O levantamento foi feito no início deste ano com 3,5 mil pessoas de 18 a 24 anos em 16 países árabes. Entre os resultados da pesquisa está a indicação de que, apesar de o inglês ser uma língua muito difundida na região, a língua árabe ainda é muito valorizada pelos jovens daquelas nações.
“O árabe tem na sua língua uma forte sustentação, uma forte personalidade. Temos que levar isso em consideração na hora de fazer negócios”, ressaltou Hannun, explicando a importância da produção de materiais de divulgação, como folders, no idioma local.
Outro ponto da pesquisa destacado pelo executivo é o valor dado por aquele segmento à origem dos produtos e marcas que eles consomem. “Os jovens árabes consideram a origem da marca de um produto extremamente importante”, apontou. “Eles gostam de saber de onde veio um produto porque eles consideram boicotar [a marca] se o país não for amigo”, disse, destacando a vantagem que os produtos nacionais levam neste assunto. “O Brasil tem um potencial fortíssimo, porque eles gostam muito do Brasil”, afirmou.
O vice-presidente da Câmara Árabe apresentou perfis de diferentes consumidores no mundo muçulmano em geral, que além dos países árabes, abrange ainda nações asiáticas.
Apesar das diferenças existentes entre consumidores considerados tradicionais (que valorizam muito as tradições da religião) e futuristas (mais abertos a mudanças), todos eles dão importância a valores relacionados à família. “Na comunicação, é importantíssimo falar sobre unidade familiar”, disse Hannun sobre as propagandas direcionadas ao consumidor islâmico. Ele apontou também a relevância da religião entre este público. “Dos tradicionais aos futuristas, os valores [do Islã] são muito consistentes e precisamos trabalhar com isso”, explicou.
Desafios
O público da palestra foi formado por empresários e executivos com negócios no mundo árabe ou interessados em entrar nos mercados daquela região. Danielle da Cunha, representante de exportação da Sustentare, empresa de produtos alimentícios, contou que até o momento a única exportação de sua empresa foi para o Chile e que ela foi à palestra para entender melhor o consumidor árabe, já que quer exportar para os países daquela região.
“Acho que a principal dificuldade está em ter acesso [ao mercado]. Há o desafio de fazer uma cadeia halal para nossos produtos. É preciso ter um investimento grande para depois acessar esse consumidor. Acho que temos que ser mais ativos”, avaliou, referindo-se à necessidade de adequação de sua empresa ao padrão halal, que indica que os produtos foram fabricados de acordo com a tradição islâmica.
Já a empresária Kátia Timani, proprietária da Kans BR, empresa de cosméticos capilares, tem uma larga experiência no comércio com os países árabes e conta que a pesquisa de mercado é um dos principais fatores para ter sucesso por lá.
“Precisei estudar o mercado árabe para entendê-lo. Entender os costumes, as tradições, o que eles valorizam, o que é importante na visão deles. Foi isso que eu fui pesquisar [antes de abrir a empresa]. Nos três primeiros anos, nas minhas viagens, eu procurei perceber o comportamento deles e, em cima disso, trabalhar os meus produtos para poder entrar nesse mercado”, revelou.
Apesar de todo o destaque que Dubai dá aos Emirados Árabes Unidos, ela afirma ser importante conhecer o comportamento de consumidores de outros países também, como Bahrein, Catar e Líbano.
E quais especificidades ela descobriu sobre o setor de cosméticos nos países árabes? “A mulher árabe cuida muito de cabelo e maquiagem. Elas são extremamente vaidosas. Costumam ir ao cabeleireiro uma média de duas vezes por semana e isso me trouxe grandes resultados. É uma mulher que realmente se dedica à beleza”, contou.
Antes da palestra de Hannun, Michel Alaby, diretor-geral da Câmara Árabe, deu as boas-vindas aos participantes, e José Manuel Cristóvão, gerente Comercial e de Marketing, fez uma apresentação institucional sobre a entidade.