São Paulo – O Líbano quer mobilizar os milhões de libaneses e descendentes espalhados pelo mundo para movimentar a economia do país, e o Brasil é um dos focos desta estratégia, pois tem uma das maiores comunidades de origem libanesa do mundo. Nesse sentido, o Ministério dos Negócios Estrangeiros e dos Emigrantes da nação árabe promoveu nesta segunda-feira (28), em São Paulo, a conferência Energia da Diáspora Libanesa, edição para a América Latina.
Um dos objetivos da iniciativa é convencer os membros destas comunidades a consumir produtos libaneses, visitar e investir no país. “Há muitos produtos libaneses que vocês gostam e que poderiam consumir, mas que não chegam no Brasil”, afirmou o ministro titular da pasta, Gebran Bassil, durante o painel “Compre do Líbano: os mercados latino-americanos para os produtos libaneses”, no Clube Monte Líbano.
No mesmo debate, o presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Marcelo Sallum, falou sobre o comércio do Brasil com os países árabes em geral e com o Líbano em especial. “Precisamos equilibrar esta balança”, destacou ele, após informar que as exportações brasileiras ao mercado libanês renderam US$ 287 milhões em 2015, ao passo que as importações renderam apenas US$ 23,8 milhões.
Entre os países árabes, o Líbano é o 11º destino de produtos brasileiros, e como fornecedor ocupa a 12ª posição. Para Sallum, há potencial para ampliar as vendas de fertilizantes do Líbano ao Brasil, pois o mercado brasileiro é grande importador destes produtos e os libaneses já atendem parte desta demanda.
Ele ressaltou, porém, a importância de diversificação da pauta. “Há um espaço muito grande para trabalhar os itens pouco representativos, e o Líbano tem condições de exportá-los”, declarou. Os fertilizantes são de longe os principais produtos embarcados do Líbano ao Brasil, mas há exportação em pequenas quantidades de vários tipos de alimentos e bebidas.
O libanês Patrick El Kallasy, dono do Grupo Kallasy, informou, no entanto, que tem dificuldades para colocar seus produtos no mercado brasileiro. Ele contou que faz 10 anos que tenta exportar lácteos ao Brasil, mas sofre com barreiras tarifárias e não tarifárias, o que inviabiliza os negócios. Segundo o empresário, os tributos cobrados sobre suas mercadorias chegam a 65%. “Queremos que estas taxas diminuam, ou que sejam eliminadas”, declarou.
Nesse sentido, há em discussão um acordo de livre comércio entre o Líbano e o Mercosul. O presidente da Câmara de Comércio Brasil-Líbano, Alfredo Cotait, é grande partidário da iniciativa e pediu que o ministro Gebran Bassil faça pressão para que o tratado seja concluído o mais rápido possível.
Bassil respondeu que as tratativas estão em andamento, mas é difícil apressá-las, pois são seis os países envolvidos (Líbano, Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela). Para se ter uma ideia, um acordo do gênero foi assinado pelo bloco sul-americano e o Egito em 2010, mais ele ainda não entrou em vigor porque falta o Parlamento argentino ratificá-lo.
Consumo
Nesse cenário, o ministro defendeu uma maneira mais rápida de ampliar os negócios: o engajamento da comunidade libanesa no consumo de produtos do país árabe. “Se cada libanês [ou descendente] beber uma cerveja, serão 8 milhões de garrafas”, destacou Bassil, referindo-se a uma das patrocinadoras do evento, a marca libanesa de cervejas 961, e ao número estimado de membros da comunidade libanesa no Brasil.
“Há vários produtos libaneses que deveriam estar aqui, como lácteos, mel, azeite, e vocês podem fazer a diferença como consumidores. Se comprassem uma cerveja, uma garrafa de vinho, já fariam a diferença, pois são milhões de consumidores”, acrescentou o ministro. Alguns produtos podiam ser degustados em estandes armados no Clube Monte Líbano, como as cervejas 961 e vinhos do país árabe.
Fundador organização Souk El Tayeb, que promove os produtos de pequenos agricultores e as tradições culinárias libaneses, Kamal Mouzawak defendeu a ligação do Líbano com sua diáspora por meio da gastronomia. Segundo ele, descendentes de imigrantes podem não se vestir como libaneses, não conhecer as músicas, não partilhar das mesmas orientações religiosas, mas geralmente têm em comum o gosto pelas receitas libanesas. “A comida nos une”, destacou.
Sócio das joalherias Antoine Saliba World of Jewelery, Joe Saliba afirmou que cresce a demanda por produtos libaneses no exterior e que os libaneses “têm gosto pela beleza e pelo design”, característica que aplicam naquilo que produzem. “Eu posso dizer: o povo libanês não vai decepcionar vocês”, disse.
Marcelo Sallum, da Câmara Árabe, ainda fez uma série de sugestões para ampliar as relações econômicas do Brasil com o Líbano, como o avanço das negociações com do Mercosul com o país árabe, a simplificação de procedimentos portuários, a eliminação de barreiras tarifárias e não tarifárias, a realizações de missões oficiais e empresariais, o estímulo à atuação de conselhos empresariais bilaterais e das câmaras de comércio, a negociação de acordos de promoção de investimentos e para evitar bitributação nos negócios bilaterais, a organização de ações de promoção comercial, como feiras, rodadas de negócios, eventos de degustação de produtos, entre outros, e apoio às iniciativas da Cúpula América do Sul-Países Árabes (Aspa).
Imagem
Mais cedo, o vice-presidente de Comércio Exterior da Câmara Árabe, Rubens Hannun, mediou o painel “Contribuição da Diáspora na América Latina”, onde apresentou os resultados de uma pesquisa feita no ano passado sobre a percepção que os brasileiros têm da comunidade sírio-libanesa. As avaliações são majoritariamente positivas.
“A coletividade é muito bem acolhida [no Brasil] e acolhe muito bem”, afirmou Hannun. Os árabes são tidos como trabalhadores, respeitadores e amigos. “Poucos entrevistados ligaram a comunidade árabe no Brasil com guerras e extremismo, [esta imagem] não pega”, acrescentou ele, referindo-se à ampla cobertura na imprensa de conflitos no Oriente Médio.
A sessão teve participação de personalidades da comunidade libanesa na América Latina, como a deputada uruguaia Laura Dergham, o publicitário brasileiro Roberto Duailibi, as presidentes do Hospital do Coração, Théa Trabulse Namour, da Associação de Proteção à Infância Cedro do Líbano, Vera Jereissati Haddad, e da Sociedade Beneficente “A Mão Branca” (que cuida de idosos), Elizabeth Camasmie Zogbi, e Salvador Villazón Salem, da Associação Médica Libanesa Internacional no México.
O vice-presidente de Marketing da Câmara Árabe, Riad Younes, ainda mediou o painel “Histórias de Sucesso”.
A cerimônia de abertura da conferência ocorreu no domingo (27), no Palácio dos Bandeirantes, e contou com as presenças do presidente Michel Temer e do governador Geraldo Alckmin.