São Paulo – A Mauritânia vai implantar um projeto integrado de açúcar e álcool que vai desde o plantio de cana-de-açúcar até a entrega dos produtos finais. Para tanto, o governo do país busca no Brasil empresas do ramo interessadas em construir e operar o empreendimento. Este é um dos principais objetivos da visita que o ministro mauritano dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, Hamadi Ould Hamadi, faz esta semana a São Paulo e Brasília.
Nesta terça-feira (18), Hamadi esteve na Câmara de Comércio Árabe Brasileira, na capital paulista, para falar sobre oportunidades de comércio e investimentos em seu país. “A Câmara representa uma porta de entrada ao meio de negócios [brasileiro]”, afirmou ele à ANBA. O chanceler conversou com os vice-presidentes da entidade Rubens Hannun (Marketing) e Wladimir Freua (Comércio Exterior) e com a diretora operacional Andréa Monteiro Uhlmann.
De acordo com o diretor-geral da empresa estatal Societé Sucre de Mauritanie, responsável pelo projeto, Dy Zein, que acompanha o ministro, a primeira fase do empreendimento envolve uma área de 10 mil hectares para plantio e construção de uma usina com capacidade para produzir 106 mil toneladas de açúcar refinado e 10 milhões de litros de etanol por ano, além da geração de 37 megawatts de eletricidade.
O governo mauritano quer contratar uma companhia no regime de empreitada total, ou seja, que se responsabilize pelos serviços de engenharia, construção e operação da usina. É importante, segundo ele, que a empresa tenha condições de levantar financiamento para a obra, incluindo para a exportação de materiais e de implementos agrícolas.
O custo total do projeto é de US$ 360 milhões, segundo o executivo, sendo que somente a usina está orçada entre US$ 120 milhões e US$ 150 milhões. O prazo para construção é de 24 meses. “O Brasil tem uma posição dominante nesta área, por isso estamos interessados [em buscar parceiros no País]”, disse o executivo.
Zein acrescentou que a empresa que construir a primeira fase do projeto terá preferência na implementação da segunda, que envolve uma área de 12 mil hectares. Ele afirmou também que o governo mauritano tem condições de oferecer garantias aos empréstimos e incentivos à companhia responsável.
Embora a Mauritânia não tenha ainda produção em escala comercial no setor, Zein e o ministro informaram que foram realizados testes de plantio que revelaram boa produtividade de cana-de-açúcar, de até 106 toneladas por hectare. Para se ter uma ideia, a produtividade média na região Centro-Sul do Brasil gira em torno de 74 toneladas por hectare atualmente. As áreas destinadas à cultura no país africano são irrigadas. A delegação visita empresas e entidades do setor, em São Paulo, até esta quarta-feira (19). O embaixador mauritano em Brasília, Kaba Mohamed Alioua, acompanha a missão.
Hamadi destacou, porém, que existem outras áreas a serem exploradas na Mauritânia. “É um país virgem, novo, e que tem grandes oportunidades”, declarou. Entre os setores com potencial para negócios ele citou a mineração e a pesca. A nação é rica em recursos minerais e, segundo o ministro, existem hoje concedidas 1,2 mil licenças de exploração. Técnicos brasileiros da área já estiveram no país, disse o chanceler.
Na seara da pesca, Hamadi informou que a produção mauritana chega a 1 milhão de toneladas por ano. "São produtos de boa qualidade, apreciados no mercado internacional", disse. Ele acrescentou que os pescados mauritanos são apreciados também no Brasil, mas o consumidor local não sabe pois os produtos são exportados ao País por empresas europeias.
“Estamos de portas abertas para as empresas brasileiras [que queiram explorar este setor]”, ressaltou. Os dois países assinaram um acordo de cooperação em pesca e aquicultura durante visita do chanceler brasileiro, Antonio Patriota, à nação africana, em abril.
Hamadi destacou que Brasil e Mauritânia já iniciaram cooperação na área de defesa e segurança, inclusive com a venda de aviões militares Super Tucano, fabricados pela Embraer, à Força Aérea Mauritana. As primeiras unidades foram entregues em outubro. O chanceler informou que o ministro da Defesa de seu país também está em visita ao Brasil e que a companhia aérea mauritana estuda a aquisição de aeronaves comerciais brasileiras.
Na segunda-feira, Hamadi teve reunião com Patriota em Brasília e assinou um acordo de consultas políticas. Segundo ele, a troca de visitas é “a expressão da vontade dos dois países em fortalecer as relações políticas e econômicas”.
As exportações do Brasil para a Mauritânia renderam US$ 167,84 milhões de janeiro a novembro, um aumento de 33% sobre o mesmo período do ano passado, de acordo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Os principais itens embarcados foram açúcar, trigo, carne de frango, peças para trens e pneus.